Pelo menos
duas posturas básicas tendem a manifestar-se diante do que se aguarda: ou medo
e pânico do pior que se possa esperar, ou a alegre e apreensiva expectativa
diante do bom que se espera acontecer. Outras posturas, como atenção desvelada
para fustigar a vida alheia, ou para preparar um golpe, um acerto de contas, ou
um assalto, são menos incidentes.
É comum, em
momentos mais difíceis da vida, esperar-se pelo pior que pode acontecer; no
entanto, quem consegue olhar para além dos problemas, também consegue antever
outras previsões melhores. Foi isso que o Evangelista Marcos (13, 33-37) fez
para muitas comunidades emergentes no discipulado de Cristo. Elas entraram em
pânico diante da inesperada invasão romana, no ano 70, que destruiu a capital
Jerusalém e também o templo, grande ícone simbólico da presença de Deus na
Terra. A fuga para a sobrevivência e as informações relativas à destruição,
levava muitas pessoas a pensar de que estava se tratando do fim do mundo.
A
predisposição da vigilância daquelas pessoas foi a de que, na hora menos
esperada, iria se configurar o fim da sua vida. Assim cresceram os rumores de que
uma iminente volta de Jesus Cristo iria levá-los ao mesmo fim dos muitos
cidadãos que morreram na invasão romana. Da memória de Cristo, Marcos soube
alentar aquelas pessoas assustadas e apontar-lhes outra perspectiva de
vigilância: valendo-se de uma das muitas parábolas proferidas por Jesus Cristo,
Marcos ajudou aquelas pessoas em crise a refletir, sobre a importância de não
adormecer, ou seja, não se distrair demasiadamente com os acontecimentos de um
mundo sem Deus. Bem mais importante seria encontrar forças de Deus para lidar
com a perseguição, com o exílio e com as dificuldades decorrentes desta
situação.
Aquele momento
também não deveria constituir ocasião interesseira para alargar o poder. Muito
pelo contrário, deveria oportunizar maior dinamismo no serviço humanitário,
justamente para evitar a forma das guerras que estavam em andamento. Estava em
jogo uma vigilância para além do clima de pânico e de medo diante dos fatos
sociais e uma convocação para o zelo de ação positiva no meio da sociedade. Em
algum momento deste agir humanitário iria acontecer uma volta do Senhor. Não
para intimidar e castigar como a perversidade romana, mas, para enaltecer quem
descobriu no modo de ser de Cristo a novidade da vigilância, ou da acuidade da
atenção em favor da vida e não da morte.
Mesmo com a
sensação de desamparo também da parte de Deus, poderiam aqueles cristãos, como
nós hoje, dar-se conta de que Deus redime por caminhos que nem são suspeitados
e, na antiga imagem, - de constituímos barro na mão do oleiro, - o resgate já
não pressupõe os formalismos que se desenvolviam no templo, mas, a alegre
confiança de que Deus nos molda para a grandiosidade de sua bela obra.
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