quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Tipos de vigilância



            Pelo menos duas posturas básicas tendem a manifestar-se diante do que se aguarda: ou medo e pânico do pior que se possa esperar, ou a alegre e apreensiva expectativa diante do bom que se espera acontecer. Outras posturas, como atenção desvelada para fustigar a vida alheia, ou para preparar um golpe, um acerto de contas, ou um assalto, são menos incidentes.
            É comum, em momentos mais difíceis da vida, esperar-se pelo pior que pode acontecer; no entanto, quem consegue olhar para além dos problemas, também consegue antever outras previsões melhores. Foi isso que o Evangelista Marcos (13, 33-37) fez para muitas comunidades emergentes no discipulado de Cristo. Elas entraram em pânico diante da inesperada invasão romana, no ano 70, que destruiu a capital Jerusalém e também o templo, grande ícone simbólico da presença de Deus na Terra. A fuga para a sobrevivência e as informações relativas à destruição, levava muitas pessoas a pensar de que estava se tratando do fim do mundo.
            A predisposição da vigilância daquelas pessoas foi a de que, na hora menos esperada, iria se configurar o fim da sua vida. Assim cresceram os rumores de que uma iminente volta de Jesus Cristo iria levá-los ao mesmo fim dos muitos cidadãos que morreram na invasão romana. Da memória de Cristo, Marcos soube alentar aquelas pessoas assustadas e apontar-lhes outra perspectiva de vigilância: valendo-se de uma das muitas parábolas proferidas por Jesus Cristo, Marcos ajudou aquelas pessoas em crise a refletir, sobre a importância de não adormecer, ou seja, não se distrair demasiadamente com os acontecimentos de um mundo sem Deus. Bem mais importante seria encontrar forças de Deus para lidar com a perseguição, com o exílio e com as dificuldades decorrentes desta situação.
            Aquele momento também não deveria constituir ocasião interesseira para alargar o poder. Muito pelo contrário, deveria oportunizar maior dinamismo no serviço humanitário, justamente para evitar a forma das guerras que estavam em andamento. Estava em jogo uma vigilância para além do clima de pânico e de medo diante dos fatos sociais e uma convocação para o zelo de ação positiva no meio da sociedade. Em algum momento deste agir humanitário iria acontecer uma volta do Senhor. Não para intimidar e castigar como a perversidade romana, mas, para enaltecer quem descobriu no modo de ser de Cristo a novidade da vigilância, ou da acuidade da atenção em favor da vida e não da morte.

            Mesmo com a sensação de desamparo também da parte de Deus, poderiam aqueles cristãos, como nós hoje, dar-se conta de que Deus redime por caminhos que nem são suspeitados e, na antiga imagem, - de constituímos barro na mão do oleiro, - o resgate já não pressupõe os formalismos que se desenvolviam no templo, mas, a alegre confiança de que Deus nos molda para a grandiosidade de sua bela obra.

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