Há
aproximadamente seis séculos antes de Cristo o sacerdote Ezequiel, exilado na
Babilônia e diante dos seus conterrâneos que lamentavam a ausência de um
templo, já os convocava à responsabilidade para assumirem o fracasso em que se
encontravam, e, se empenhassem positivamente na construção de uma sociedade
mais voltada para a vida e para a liberdade das pessoas. A forma como o templo
se deteriorou, e como corrompeu o povo, deveria indicar o lugar da presença de Deus,
não mais no templo, mas, no meio do povo para caminhar com ele.
Na imagem
simbólica da nascente, cujas águas, ao crescerem geravam mais vida no entorno
deveria também o templo estar impregnado da fecundidade para expandir, mais
vida para todas as direções, e, não somente na humana, mas, na de toda fauna.
Mais tarde,
no tempo de Jesus Cristo, o poder estabelecido no templo estava novamente
desvirtuado e chegou ao extremo de ter esvaziado a festa da Páscoa, grande
festa popular, que, ao invés de despertar gratuidade pela memória dos sinais de
libertação, tornara-se o momento eminente da exploração e do controle das
pessoas. Um pequeno grupo liderado pela família de Anás, havia se apropriado do
templo e o transformara no centro de excelência para grandes negócios e com
preços exorbitantes.
Narra-se que
Jesus tomou um chicote e expulsou os vendedores com seus animais. Este gesto
passou a conotar uma nova relação que Cristo desejava entre templo e povo. Não
seria mais o espaço de grupos religiosos, que eram os maiores latifundiários da
época, nem uma condução ultraconservadora do senso religioso. Se o templo uma
vez era tido como espaço especial de Deus, deveria irradiar-se dali outro modo
de agir com os pobres e espoliados. Ademais, Deus não carecia da bajulação de
ser cooptado através da queima de grande quantidade de animais, vendidos aos
pobres por preços abusivos.
São Paulo,
um dos grandes discípulos de Jesus Cristo, ao assimilar o seu legado para
orientar a vida, deslocou o foco do templo para a comunidade. É ali o santuário
de Deus (1Cor 3,9 ss) onde Cristo se manifesta. Paulo valeu-se da sua própria
dedicação para a criação da comunidade de Corinto e interpretou seu modo de
agir como o de um bom arquiteto ao dar início àquela comunidade. Outros poderiam,
de forma criativa, efetuar mudanças, mas, sua pedra fundamental era a da
promoção de relações de bom entendimento e de interações justas.
A comunidade
já não deveria reproduzir um sistema acumulativo e centralizador que
prejudicava o povo, mas, deveria produzir precisamente o contrário: espaço da
inserção e do aproveitamento eficaz das qualidades pessoais de cada um.
As três
interpelações dizem muito aos nossos dias, e, aos modos como se lida em muitas
Igrejas e templos. Sempre é importante não perder de vista a finalidade
precípua da sua existência.
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