A água, tão essencial à nossa
existência e tão gratuitamente disponibilizada pela mãe Terra, possui a rica
virtualidade do milagre, de forma geral não valorizado, que é o de manter e de renovar
a vida.
O vasto sistema de vida do nosso
planeta certamente não seria viável sem a água. Se a falta de água, na
iminência da morte no meio de um deserto levou o antigo povo da Bíblia a murmurar,
nossos dias mostram quanto o desejo de apropriação das vertentes e dos acessos
à água boa e potável geram murmúrios, brigas e intrigas.
Para os cristãos a água possui um importante
sentido simbólico: expressa a ação do Espírito de Deus, capaz de renovar, de
purificar e de remeter ao que é essencial na vida. E se a água verte límpida do
meio da rocha, lembra, ainda mais, o desejo da solidez que se procura encontrar
em Deus.
Com o batismo expressa-se, no sinal
da unção de água sobre a cabeça, o desejo de que o batizando seja ungido pela
ação de Deus a fim de paulatinamente renovar a vida e haurir o necessário
perdão, diante da misteriosa fraqueza que induz a fazer o inverso do que, na
verdade, deveria ser feito para sentir-se feliz.
De Cristo podemos lembrar uma cena
fantástica, na beira de um poço de água. A rica simbologia do colóquio com a
mulher samaritana mostra um claro caminho de educação da fé para o sentido da
vida. Na aproximação dele, abre-se um espaço para um gradual processo de
revisão da própria vida.
O ato de permitir que a mulher
pudesse fazer, aos poucos, uma profunda revisão da sua existência, - a ponto de
chegar ao âmbito mais profundo da consciência, - fez com que ela percebesse que
não era auto-suficiente e tampouco capaz de redimir-se do seu passado por sua
própria conta.
Assim que a samaritana reconheceu sua
situação de pecado, constatou que o caminho de salvação passava pelo seu
interlocutor, o pedagogo Jesus Cristo, pois, no seu modo de conduzir a
conversa, permitiu que ela percebesse que a esperada ajuda de Deus passava
impreterivelmente pela mediação daquele importante salvador: a expectativa da
água de vida eterna também encontraria acesso no caminho redentor daquele
pedagogo da fé.
Num tempo em que tão pouca gente
ainda alimenta algum sentimento de pecado, pois, de banalizado e dispensado do
cotidiano da vida, ele na verdade, flui solto pelos ares, porque pouquíssima
gente ainda permite a si mesma o caminho da honesta revisão de vida. É imenso o
temor a tudo quanto implica em mexer com o passado, com os fracassos, com as
infidelidades e tantos atos que resultaram em experiências altamente desagradáveis
e frustrantes.
Na incapacidade de lidar com o mundo
interior gera-se proporcional empecilho para se chegar à consciência de que algo
na vida pessoal e coletiva possa ser melhorado. Quando tantas pessoas se
declaram livres e isentas de quaisquer situações de pecado, geralmente, se
valem de uma couraça para esconder o passado e, evitam abordá-lo, porque pode
surpreender com a consciência de fragilidades muito mais abarcantes e profundas
do que os pequenos e discretos deslizes de aparências.
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