De antigo
memorial da Bíblia lembra-se muito um importante ancestral de uma das tribos
constituintes do pacto da Aliança: Abraão, homem que ficou lembrado como pai do
povo, porque sua fé em Deus o levou a migrar rumo a novas condições de vida em
vista de futuro melhor.
Em nossos
dias, milhões de pessoas migram forçados a deixar familiares, amigos de
infância e ambientes culturais que lhes deram satisfação de pertença, mas, geralmente
são forçados e procurar, em outros lugares, as básicas e mínimas condições de
sobrevivência. Ali a necessidade e o mecanismo de não sucumbir, diante das
tiranias de governantes, tende a falar mais alto do que a fé.
Nos tempos
de predominância nômade de tribos de Israel, Abraão, por não aceitar submissão
à tirania de um prepotente e despótico governo, deixou tudo e partiu. A
liberdade para organizar a sua vida representava, certamente, valor mais
significativo para seu porvir, do ser mero súdito explorado. A terra, dom de
Deus, representava a presença deste Deus, que fazia caminho com os andantes
nômades.
No belo
texto de Mt 17,1-9 transparece outro jeito e motivo para deslocar-se e outro
caminho para a fé: Pedro e seus colegas sobem ao monte, atrás de Jesus, porque
querem como ele, fazer uma experiência de intimidade com Deus. Impregnados dos
valores da tradição religiosa antiga, constatam, contudo, que estes valores
obsoletos não preenchem suficientemente seus anseios. Simultaneamente captaram
algo novo e muito distinto do que estavam acostumados a auscultar em relação aos
sinais de Deus. Desejavam encontrar em Jesus Cristo algo parecido com os tempos
antigos. As imagens antigas da presença e da ação de Deus, não se coadunavam
com as de Jesus Cristo, ali, neste momento de oração. Era alguém muito distinto
dos grandes líderes religiosos do passado. Não era nem como Moisés, nem como
Elias ou como outros profetas.
O momento de
escuta levou a uma nova profissão de fé. Pedro e seus colegas se deram conta de
que Jesus não constituía um líder político, nem populista, nem libertador
mágico, mas alguém que, pelo modo de assumir a cruz da dura lida, mostrava algo
totalmente inusitada ao normal da condição humana: buscava forças na intimidade
com o Pai. Mais que um simpático líder carismático, mostrava-se um
“servo-sofredor” que convidava a assumir e a carregar a pesada cruz da vida
para segui-lo.
A surpresa
de constatar em Jesus um rosto totalmente transfigurado constituiu, sem dúvida,
muito mais uma projeção do que aconteceu com Pedro e seus amigos, porquanto o
novo que constataram em Jesus Cristo os fez descer da montanha com outra
perspectiva de vida. Propiciou-lhes uma extraordinária força de ação e uma inaudita
capacidade, gradualmente amadurecida, para uma aproximação dos traços
fundamentais de quem lhes irradiava, na intimidade com o Pai, o verdadeiro
significado da sua presença.
As primeiras
comunidades cristãs amadureceram na dura e sôfrega lida cotidiana para também
transfigurarem seus olhares nos olhos transfigurados da pessoa de Cristo, e
provavelmente, sentiram-se também interpeladas a deixar para trás a mescla das antigas
explicações categóricas relativas ao que Deus fazia e como fazia.
Nossos dias
de ansiosas e sedentas buscas de Deus, de forma geral, em buscas nada próximas do
modo de ser de Jesus Cristo, requerem, de forma similar, importante
discernimento de algum outro itinerário de fé, como o do subir a montanha,
símbolo da oração e intimidade com Deus, para descer, não com inauditas e
mágicas curas e explicações categóricas e cerceadoras para intimidar segundo
critérios subjetivistas, mas, com olhar fascinado e seguro para além dos
problemas que afligem a vida, porque o caminho a ser andado é totalmente outro.
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