sexta-feira, 14 de março de 2014

A fé que abre caminhos



            De antigo memorial da Bíblia lembra-se muito um importante ancestral de uma das tribos constituintes do pacto da Aliança: Abraão, homem que ficou lembrado como pai do povo, porque sua fé em Deus o levou a migrar rumo a novas condições de vida em vista de futuro melhor.
            Em nossos dias, milhões de pessoas migram forçados a deixar familiares, amigos de infância e ambientes culturais que lhes deram satisfação de pertença, mas, geralmente são forçados e procurar, em outros lugares, as básicas e mínimas condições de sobrevivência. Ali a necessidade e o mecanismo de não sucumbir, diante das tiranias de governantes, tende a falar mais alto do que a fé.
            Nos tempos de predominância nômade de tribos de Israel, Abraão, por não aceitar submissão à tirania de um prepotente e despótico governo, deixou tudo e partiu. A liberdade para organizar a sua vida representava, certamente, valor mais significativo para seu porvir, do ser mero súdito explorado. A terra, dom de Deus, representava a presença deste Deus, que fazia caminho com os andantes nômades.
            No belo texto de Mt 17,1-9 transparece outro jeito e motivo para deslocar-se e outro caminho para a fé: Pedro e seus colegas sobem ao monte, atrás de Jesus, porque querem como ele, fazer uma experiência de intimidade com Deus. Impregnados dos valores da tradição religiosa antiga, constatam, contudo, que estes valores obsoletos não preenchem suficientemente seus anseios. Simultaneamente captaram algo novo e muito distinto do que estavam acostumados a auscultar em relação aos sinais de Deus. Desejavam encontrar em Jesus Cristo algo parecido com os tempos antigos. As imagens antigas da presença e da ação de Deus, não se coadunavam com as de Jesus Cristo, ali, neste momento de oração. Era alguém muito distinto dos grandes líderes religiosos do passado. Não era nem como Moisés, nem como Elias ou como outros profetas.
            O momento de escuta levou a uma nova profissão de fé. Pedro e seus colegas se deram conta de que Jesus não constituía um líder político, nem populista, nem libertador mágico, mas alguém que, pelo modo de assumir a cruz da dura lida, mostrava algo totalmente inusitada ao normal da condição humana: buscava forças na intimidade com o Pai. Mais que um simpático líder carismático, mostrava-se um “servo-sofredor” que convidava a assumir e a carregar a pesada cruz da vida para segui-lo.
            A surpresa de constatar em Jesus um rosto totalmente transfigurado constituiu, sem dúvida, muito mais uma projeção do que aconteceu com Pedro e seus amigos, porquanto o novo que constataram em Jesus Cristo os fez descer da montanha com outra perspectiva de vida. Propiciou-lhes uma extraordinária força de ação e uma inaudita capacidade, gradualmente amadurecida, para uma aproximação dos traços fundamentais de quem lhes irradiava, na intimidade com o Pai, o verdadeiro significado da sua presença.
            As primeiras comunidades cristãs amadureceram na dura e sôfrega lida cotidiana para também transfigurarem seus olhares nos olhos transfigurados da pessoa de Cristo, e provavelmente, sentiram-se também interpeladas a deixar para trás a mescla das antigas explicações categóricas relativas ao que Deus fazia e como fazia.

            Nossos dias de ansiosas e sedentas buscas de Deus, de forma geral, em buscas nada próximas do modo de ser de Jesus Cristo, requerem, de forma similar, importante discernimento de algum outro itinerário de fé, como o do subir a montanha, símbolo da oração e intimidade com Deus, para descer, não com inauditas e mágicas curas e explicações categóricas e cerceadoras para intimidar segundo critérios subjetivistas, mas, com olhar fascinado e seguro para além dos problemas que afligem a vida, porque o caminho a ser andado é totalmente outro.

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