Embora não ocorram animadas
discussões em torno de comentários relativos à carência afetiva dos gatos
soltos na vasta natureza, já os outros, cooptados por seres humanos nesta
simbiose mórbida, tudo indica, que foram transformados em criaturas carentes de
afeto.
Acostumados a muito mimo e cafuné
abundante, os gatos integrados aos humanos foram contemplados com excesso de
afeto, provavelmente, todo o afeto não canalizado para filhos e pessoas
parceiras da convivência familiar.
Longo processo de carga afetiva
abundante, fragilizou os gatos e os tornou dependentes destes cuidados
múltiplos e cotidianos. Mais do que bebês carentes, os gatos levam vantagem
sobre as criaturas humanas, porque se satisfazem com o carinho automático e
imutável na intensidade ante afagos de pelo menos uma mão, liberando a outra
para o celular, enquanto que, uma criança requer duas mãos cheias de dedos e
ainda dá sinais de pretender mais do que isso.
Esta mendicância de afeto, por parte
dos felídeos, já resulta de longo processo de aconchego ao colo humano, o que
os tornou profissionais espertos para chamarem a atenção dos donos sobre seus
merecidos cafunés.
Um bebê humano normal, vive de
contínua auto-transcendência, pois, se aceita beijos e contatos exaustivos numa
fase, logo em seguida, já os rejeita e espera outro modo de manifestação
afetiva. Esta contínua mudança requer muito das mães e pais porque também eles
devem envolver-se em constantes modificações nas formas de externalização do
seu afeto. É neste lado fraco que o gato dá o seu pulo para a vantagem. Requer
sempre o mesmo gesto, a mesma cantilena sem nunca exigir uma conversa um pouco
mais racional. Basta somente aquela cobrança sobre xixi e cocô, sobre não sujar
os pés e sobre como serem todos os dias mimosos de mesmo jeito.
O bebê muda de humor a todo instante,
é misterioso para revelar o que sente e o que realmente deseja; e exige
exaustivas tentativas de atenção para reagir com satisfação afetiva. Além da
imprevisibilidade, vive da constante mutabilidade. Requer inovação constante e
contínua de inovadas modificações no seu anseio afetivo. Se num momento deseja
colo, logo, rejeita o colo e quer sentir-se amado para seguir seu rumo, mesmo
que caia depois de um metro andado. Então, vai exigir o colo para acalmar-se.
Neste paralelismo de gato com
criança, o gato é constante, regular e gracioso. Não costuma nem morder no
seio, nem olhar feio e nem choramingar para querer outra coisa distinta daquela
que lhe foi oferendada. Enquanto o gato até lambe o prato, uma criaturinha
humana espalha comida sobre a mesa, sobre a cadeira e ainda deixa muita migalha
no chão.
O que certamente mais pesa na
comparação de gatos com crianças, é a vantagem dos gatos em relação às
evacuações e fraldas a serem trocadas muitas vezes por dia. Os mimosos
felídeos, embora emitam maus odores pela falta de banho e pelo cheiro de urina
e cocô nos banheiros, ajeitam-se autonomamente neste campo. Já uma criaturinha
humana requer milhares de banhos e conselhos repetitivos à exaustão até se
lavar razoavelmente e higienizar um pouco o seu corpo num banho.
Humanóides, tão pouco especializados
por comandos de cerebelo, demoram anos para chegar ao ponto de sobrevivência e
de auto-cuidados dos felídeos já nos primeiros dias de vida. Porém, uma vez
desvirtuados destas qualidades ingênitas e instintivas, os felídeos tornam-se
essencialmente dependentes dos seus tutores humanos.
Bebês descobrem manhas e aprendem
patranhas. Emburram, teimam, desobedecem, irritam, exageram, brigam e, por qualquer
coisa, se intrigam. Ao crescerem, aprendem a mentir, a esconder, a ocultar, a
furtar, a agredir, a não estudar, a querer outra roupa, a irem a lugares não
autorizados e a catar tudo o que não presta nos supermercados e meios virtuais.
Os felídeos feitos carentes, pulam
por cima deste mar de irritabilidades, e, graciosamente, saltam sobre o colo
dos tutores, num dia como outro, sem mudar a personalidade e nem mesmo para
encher as paciências com pedidos de aquisições impossíveis.
Na Gatose, a substituição do gato
pelo filho, evita preocupantes gastos com estudos, roupas e etiquetas de moda,
celulares, tênis de status, carros, festas, casamentos e aquele consumismo
desenfreado para consumir e ser feliz, e, mesmo assim, viver o mundo da
metamorfose oriunda de drogas, sexo excessivo, bebidas energéticas e alcoólicas
e tantas outras coisas estúpidas e mirabolantes. Por conseguinte, pode-se
entender o porquê do afeto humano tão devotado pelos gatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário