sexta-feira, 16 de maio de 2025

AMOR DE GATOSE

 

 

        Enquanto o amor não doentio e, - pelo menos considerado sadio e normal, - já padece do fenômeno, denominado deslizante, o que se poderia ponderar, hermeneuticamente, sobre a Gatose?

            Todo mundo anda impaciente e inquieto pelo amor verdadeiro, profundo, estável e eterno. Achar indícios de possibilidade de que possa ser encontrado, leva a atenção aguçada pelas ruas, esquinas, lugares de encontro e de festa.

No entanto, ao se encontrar esta metade complementar para uma vida feliz, a facilidade deste amor sumir, por muito pouca coisa, faz lembrar o antigo mito babilônico do sujeito que teimou em procurar a árvore da vida e da felicidade, contra toda opinião social categórica a insistir que a felicidade sequer era possível de ser encontrada.

 Quando o sujeito achou a dita árvore da vida, um pequeno arbusto, correu feliz, extasiante e pleno de satisfação, para mostra-la ao povo babilônico. De tanto que correu, ficou com sede, e ao cruzar por um lago, deitou o arbusto de lado para beber água, e, neste momento, uma serpente roubou a árvore da vida, sumiu, e, nunca mais ninguém conseguiu encontrá-la.

            As evidências de fracasso no que os seres humanos mais aspiram, são amplamente encontráveis nas sensacionalistas manchetes e nos noticiários de todos os dias, que bombardeiam as mentes com informações, detalhadas e repetidas à exaustão, sobre feminicídeos, envenenamentos, matança de filhos, ódios tornados públicos, e, perseguições a ex-parceiras ou ex-parceiros.

            A síntese do amor, mais lídimo e sagrado, que todos querem viver, indica que o universo a dois constitui uma aporia, isto é, trata-se de uma relação contraditória e sobre esta relação pode-se dizer tudo quanto é possível de ser pensado e sugerido, e ela, no entanto, continua a ser o mesmo problema insolúvel, como se nada jamais tivesse sido dito sobre ela. Em outras palavras, o amor entre seres humanos é altamente contraditório.

            Quando uma parte quer respeitar a alteridade alheia, - da outra parte, - incide no campo da indiferença, um dos grandes motivos de ruptura com marcas persistentes de ódio. Se, por outro lado, cuida com excesso de desvelo a outra parte, para que seja plenamente feliz, acaba avançando demais na sua autonomia e também produz resistência e processo de distanciamento.

            A dedicação em torno de querer que a outra parte se sinta feliz, implica numa entrada na intimidade desta pessoa, a quem se quer um bem irrestrito; e isto a fragiliza através de dois riscos: o de produzir dependência e, também o de se perder o respeito na lida com esta pessoa.

            Já quando se evita este mecanismo dominador de muita ingerência, surge outro efeito natural e evidente, que é o do pouco cuidado e desvelo, razão para muito sofrimento, mágoa, sentimento de abandono, e, gradual processo de busca de emancipação, a fim de livrar-se do amor que não satisfaz e, delinear a procura de outra possibilidade de achar a árvore da felicidade na vida.

            Quando uma parte quer cuidar com excessivo desvelo a outra, pode realçar-se o medo de perde-la ou atitude de cobiça-la de forma obsessiva. Então, o que é para culminar no amor profundo, genuíno e verdadeiro, automaticamente, o anula por produzir uma espécie de asfixia, ou, como se costuma falar em nossos dias, de um ambiente tóxico, que se torna insuportável.

            No desejo profundo de intimidade realizadora, anula-se a alteridade da outra parte, e se produz o conflito, o desencontro, a raiva, o ódio e a rejeição profunda e total. Ademais, o princípio da contradição também permite notar que tudo quanto atrai intensa e profundamente, é seguido por similar ato de repulsa e rejeição. Ainda bem, pois, sem isso, os seres já teriam desaparecido do planeta, há milhões de anos: o próprio ato maior da atração pela intimidade, mataria os dois, por exaustão, se não ocorresse repulsa e rejeição do próprio ato intimista.

            Neste universo a dois, a facilidade de alguém deslizar diante do que prometeu e jurou, faz com que a fonte mais freneticamente buscada para ser feliz é, simultaneamente, a fonte da frustração, da separação, do desprezo, da cobrança e até de procedimentos homicidas. Esta perversidade decorre tanto do desejo de agradar quanto do desejo de mudar a outra parte para adequá-la aos ideais do próprio desejo.

            Se este problema, impregnado no amor humano, já causa tanta briga, perseguição e morte, o que seria prognosticável num amor de Gatose?

            As possíveis evidências de que a frustração na convivência entre seres humanos a procurar esta comunhão romântica e sonhada com gatos, terá também suas inequívocas repercussões. Assim como se faz nos simulacros com bonecas “Reborn” (= renascidas; talvez seria melhor dizer que são simulacros encantadores de bebês, sobretudo, de recém-nascidos), expressão fantástica de como se consegue fazer algo similar ao real, a tal pode que se confunde com o real, certamente, significará que uma relação intimista com gatos produza algo parecido e que leve pessoas a relações cotidianas com gatos, como se fossem filhos de verdade.

Até já ocorrem brigas na justiça entre casais que disputam o direito de posse de boneca “Reborn”, razão de atrito entre casais que se escolheram para amor profundo. Outras pessoas caminham na rua com diversas bonecas “Reborn” no colo, dando a entender que são criaturas humanas.

Sintoma parecido com o quadro das bonecas, além de constituir relação anacrônica, poderá manifestar-se na Gatose, através de desvios nos processos psíquicos da relação com gatos: lida com gatos como se fossem filhos humanos reais.

            Nestas evidências do aprofundamento de um fracasso humano na relação que substitui gatos por criaturas humanas, ainda se corre o risco maior de absorver o que é da praxe dos gatos: a dos machos, no instinto de copular o maior número de fêmeas, colocarem a sua vida em risco de morte no enfrentamento de outros machos, que, numa certa altura da existência se tornam mais viris, ágeis e fortes.

 Ademais, os gatos também apresentam uma herança de um estarrecedor mecanismo de morte e destruição, isto é, um gato macho não admite surgimento de gatinhos que sejam precedentes de outro gato. Mata-os com requintes de extrema crueldade.

            Se esta predisposição dos gatos se juntar àquela que já dá sinais de fracasso nas relações humanas, então, um grande mal juntado a outro, terá elevadíssimo potencial destruidor da raça humana no planeta Terra.

            Apesar de que o visionário Elon Musk já quer assegurar que sobrevivam seres humanos, deslocando-os para Marte, caso levem os traços humanos engendrados, aqui na Terra, nem chegarão a grandes conquistas em Marte, porquanto levarão junto, tudo o que tem de bom e, ao mesmo tempo, o que de pior se pode constatar nos seres humanos.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

<center>GUERRA E SUPOSIÇÃO DE PAZ</center>

    Como na antiga educação espartana, Motivação de guerra a todos irmana, Desde narrativas sobre chefes fortes, A treino para os mi...