Enquanto o amor não doentio e, - pelo
menos considerado sadio e normal, - já padece do fenômeno, denominado
deslizante, o que se poderia ponderar, hermeneuticamente, sobre a Gatose?
Todo mundo
anda impaciente e inquieto pelo amor verdadeiro, profundo, estável e eterno.
Achar indícios de possibilidade de que possa ser encontrado, leva a atenção
aguçada pelas ruas, esquinas, lugares de encontro e de festa.
No entanto, ao se encontrar esta
metade complementar para uma vida feliz, a facilidade deste amor sumir, por
muito pouca coisa, faz lembrar o antigo mito babilônico do sujeito que teimou
em procurar a árvore da vida e da felicidade, contra toda opinião social categórica
a insistir que a felicidade sequer era possível de ser encontrada.
Quando o sujeito achou a dita árvore da vida,
um pequeno arbusto, correu feliz, extasiante e pleno de satisfação, para mostra-la
ao povo babilônico. De tanto que correu, ficou com sede, e ao cruzar por um
lago, deitou o arbusto de lado para beber água, e, neste momento, uma serpente
roubou a árvore da vida, sumiu, e, nunca mais ninguém conseguiu encontrá-la.
As evidências
de fracasso no que os seres humanos mais aspiram, são amplamente encontráveis nas
sensacionalistas manchetes e nos noticiários de todos os dias, que bombardeiam
as mentes com informações, detalhadas e repetidas à exaustão, sobre
feminicídeos, envenenamentos, matança de filhos, ódios tornados públicos, e, perseguições
a ex-parceiras ou ex-parceiros.
A síntese do
amor, mais lídimo e sagrado, que todos querem viver, indica que o universo a
dois constitui uma aporia, isto é, trata-se de uma relação contraditória e
sobre esta relação pode-se dizer tudo quanto é possível de ser pensado e
sugerido, e ela, no entanto, continua a ser o mesmo problema insolúvel, como se
nada jamais tivesse sido dito sobre ela. Em outras palavras, o amor entre seres
humanos é altamente contraditório.
Quando uma
parte quer respeitar a alteridade alheia, - da outra parte, - incide no campo da
indiferença, um dos grandes motivos de ruptura com marcas persistentes de ódio.
Se, por outro lado, cuida com excesso de desvelo a outra parte, para que seja
plenamente feliz, acaba avançando demais na sua autonomia e também produz
resistência e processo de distanciamento.
A dedicação
em torno de querer que a outra parte se sinta feliz, implica numa entrada na
intimidade desta pessoa, a quem se quer um bem irrestrito; e isto a fragiliza através
de dois riscos: o de produzir dependência e, também o de se perder o respeito na
lida com esta pessoa.
Já quando se
evita este mecanismo dominador de muita ingerência, surge outro efeito natural
e evidente, que é o do pouco cuidado e desvelo, razão para muito sofrimento,
mágoa, sentimento de abandono, e, gradual processo de busca de emancipação, a
fim de livrar-se do amor que não satisfaz e, delinear a procura de outra
possibilidade de achar a árvore da felicidade na vida.
Quando uma
parte quer cuidar com excessivo desvelo a outra, pode realçar-se o medo de perde-la
ou atitude de cobiça-la de forma obsessiva. Então, o que é para culminar no
amor profundo, genuíno e verdadeiro, automaticamente, o anula por produzir uma
espécie de asfixia, ou, como se costuma falar em nossos dias, de um ambiente
tóxico, que se torna insuportável.
No desejo
profundo de intimidade realizadora, anula-se a alteridade da outra parte, e se
produz o conflito, o desencontro, a raiva, o ódio e a rejeição profunda e
total. Ademais, o princípio da contradição também permite notar que tudo quanto
atrai intensa e profundamente, é seguido por similar ato de repulsa e rejeição.
Ainda bem, pois, sem isso, os seres já teriam desaparecido do planeta, há
milhões de anos: o próprio ato maior da atração pela intimidade, mataria os
dois, por exaustão, se não ocorresse repulsa e rejeição do próprio ato
intimista.
Neste universo
a dois, a facilidade de alguém deslizar diante do que prometeu e jurou, faz com
que a fonte mais freneticamente buscada para ser feliz é, simultaneamente, a
fonte da frustração, da separação, do desprezo, da cobrança e até de procedimentos
homicidas. Esta perversidade decorre tanto do desejo de agradar quanto do
desejo de mudar a outra parte para adequá-la aos ideais do próprio desejo.
Se este
problema, impregnado no amor humano, já causa tanta briga, perseguição e morte,
o que seria prognosticável num amor de Gatose?
As possíveis
evidências de que a frustração na convivência entre seres humanos a procurar
esta comunhão romântica e sonhada com gatos, terá também suas inequívocas repercussões.
Assim como se faz nos simulacros com bonecas “Reborn” (= renascidas; talvez seria
melhor dizer que são simulacros encantadores de bebês, sobretudo, de recém-nascidos),
expressão fantástica de como se consegue fazer algo similar ao real, a tal pode
que se confunde com o real, certamente, significará que uma relação intimista
com gatos produza algo parecido e que leve pessoas a relações cotidianas com gatos,
como se fossem filhos de verdade.
Até já ocorrem brigas na justiça
entre casais que disputam o direito de posse de boneca “Reborn”, razão de
atrito entre casais que se escolheram para amor profundo. Outras pessoas
caminham na rua com diversas bonecas “Reborn” no colo, dando a entender que são
criaturas humanas.
Sintoma parecido com o quadro das
bonecas, além de constituir relação anacrônica, poderá manifestar-se na Gatose,
através de desvios nos processos psíquicos da relação com gatos: lida com gatos
como se fossem filhos humanos reais.
Nestas
evidências do aprofundamento de um fracasso humano na relação que substitui
gatos por criaturas humanas, ainda se corre o risco maior de absorver o que é da
praxe dos gatos: a dos machos, no instinto de copular o maior número de fêmeas,
colocarem a sua vida em risco de morte no enfrentamento de outros machos, que,
numa certa altura da existência se tornam mais viris, ágeis e fortes.
Ademais, os gatos também apresentam uma
herança de um estarrecedor mecanismo de morte e destruição, isto é, um gato
macho não admite surgimento de gatinhos que sejam precedentes de outro gato.
Mata-os com requintes de extrema crueldade.
Se esta
predisposição dos gatos se juntar àquela que já dá sinais de fracasso nas
relações humanas, então, um grande mal juntado a outro, terá elevadíssimo
potencial destruidor da raça humana no planeta Terra.
Apesar de
que o visionário Elon Musk já quer assegurar que sobrevivam seres humanos, deslocando-os
para Marte, caso levem os traços humanos engendrados, aqui na Terra, nem
chegarão a grandes conquistas em Marte, porquanto levarão junto, tudo o que tem
de bom e, ao mesmo tempo, o que de pior se pode constatar nos seres humanos.
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