sábado, 24 de maio de 2025

ORDEM PARA INOVAR

 

 

As palavras mágicas para consumo,

Como macio, suave, e supra-sumo,

Remetem às da alta sugestão: novo,

E, com ele, “inovar” para o renovo.

 

Promessa boa associada ao inovar,

Produz obcecado culto ao renovar,

Seja na política, indústria ou culto,

Ou agropecuária pelo poder oculto.

 

Inovar, a ordem dada a incorporar,

Faz quebrar a anterioridade do lar,

Sob a promessa de facilitar a vida,

Com uma novidade engrandecida.

 

Até a convocação de ato religioso,

Agrega a magia de algo prodigioso,

Porque será novo, belo e inovado,

A fim de atrair um grande legado.

 

No recurso da tecnologia inovada,

Faz-se poderosa oferta motivada,

Com sorte, lucro, dinheiro e poder,

Para o contínuo auto-transcender.

 

A alta voracidade pelo que é novo,

Oculta o passado cultural do povo,

Sob o sonho do benefício inovador,

E relega valioso processo agregador.

 

Quando tudo deve mover inovação,

A ordem onipresente é contradição,

Porque na grande oferta açucarada,

Oculta-se o lixo da vida descartada.

 

Inovação, a ordem inquestionável,

Leva a deslize do quanto é estável,

E sem a memória da história vivida,

Futuro vegeta como verme suicida.

 

Conduzidos pelo culto à novidade,

Os passivos reféns da efemeridade,

Revelam-se evasivos e superficiais,

Sem interioridade de dotes naturais.

 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

FEIÇÃO DE INDIFERENÇA

 

 

A indução massiva à adoração cega,

De influenciadores de exibição frega,

Que ostentam fortunas apreciáveis,

Cria relações mórbidas e detestáveis.

 

Seres conduzidos no cego consumo,

Não se perguntam pelo elã do rumo,

Mas anseiam domínio e acumulação,

Para serem meritórios na ostentação.

 

Crescente frieza ante a vida humana,

De milícias, gangues e guerra insana,

Reflete, cada dia mais, o pífio modo,

De tratar ser humano como um lodo.

 

Mero objeto de moldagem submissa,

Decide-se sobre ele na clara injustiça,

E nada importam os seres eliminados,

Nem atrocidade de mandantes irados.

  

Tanto olhar impregnado de rejeição,

Traço estranho da humana condição,

Entre os incontáveis apelos de amor,

Não protagoniza gestos de pundonor.

 

Interagir contrário ao gesto de amar,

Solta um veneno que anula o alamar,

Exterioriza toda recusa de empenho,

E manifesta ar antipático e ferrenho.

 

Na indiferença não importa verdade,

Mas, um estereótipo da banalidade,

Sobreposta à educação socializadora,

E à paz e justiça, para rota redentora.

 

Situada na eira dos limites do horror,

Indiferença, surda ao humano clamor,

Torna-se chave para a vasta maldade,

E um fermento para a insensibilidade.

 

O desdém com frieza no trato alheio,

Gesta tanto desconforto e saracoteio,

Que todo cuidado pela consideração,

Não desencadeia empatia e atenção.

 

Indiferença castra todo bom humor,

O senso necessário ao grato pendor,

E torna a vida vazia de bom cuidado,

Enchendo-a de rígido ar enferrujado.

 

Ocupa o belo lugar da cordialidade,

E achata o indivíduo e a sociedade,

Pois, sem o senso de consideração,

Vive do descaso na injusta solução.

 

 

 

 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

AMOR DE GATOSE

 

 

        Enquanto o amor não doentio e, - pelo menos considerado sadio e normal, - já padece do fenômeno, denominado deslizante, o que se poderia ponderar, hermeneuticamente, sobre a Gatose?

            Todo mundo anda impaciente e inquieto pelo amor verdadeiro, profundo, estável e eterno. Achar indícios de possibilidade de que possa ser encontrado, leva a atenção aguçada pelas ruas, esquinas, lugares de encontro e de festa.

No entanto, ao se encontrar esta metade complementar para uma vida feliz, a facilidade deste amor sumir, por muito pouca coisa, faz lembrar o antigo mito babilônico do sujeito que teimou em procurar a árvore da vida e da felicidade, contra toda opinião social categórica a insistir que a felicidade sequer era possível de ser encontrada.

 Quando o sujeito achou a dita árvore da vida, um pequeno arbusto, correu feliz, extasiante e pleno de satisfação, para mostra-la ao povo babilônico. De tanto que correu, ficou com sede, e ao cruzar por um lago, deitou o arbusto de lado para beber água, e, neste momento, uma serpente roubou a árvore da vida, sumiu, e, nunca mais ninguém conseguiu encontrá-la.

            As evidências de fracasso no que os seres humanos mais aspiram, são amplamente encontráveis nas sensacionalistas manchetes e nos noticiários de todos os dias, que bombardeiam as mentes com informações, detalhadas e repetidas à exaustão, sobre feminicídeos, envenenamentos, matança de filhos, ódios tornados públicos, e, perseguições a ex-parceiras ou ex-parceiros.

            A síntese do amor, mais lídimo e sagrado, que todos querem viver, indica que o universo a dois constitui uma aporia, isto é, trata-se de uma relação contraditória e sobre esta relação pode-se dizer tudo quanto é possível de ser pensado e sugerido, e ela, no entanto, continua a ser o mesmo problema insolúvel, como se nada jamais tivesse sido dito sobre ela. Em outras palavras, o amor entre seres humanos é altamente contraditório.

            Quando uma parte quer respeitar a alteridade alheia, - da outra parte, - incide no campo da indiferença, um dos grandes motivos de ruptura com marcas persistentes de ódio. Se, por outro lado, cuida com excesso de desvelo a outra parte, para que seja plenamente feliz, acaba avançando demais na sua autonomia e também produz resistência e processo de distanciamento.

            A dedicação em torno de querer que a outra parte se sinta feliz, implica numa entrada na intimidade desta pessoa, a quem se quer um bem irrestrito; e isto a fragiliza através de dois riscos: o de produzir dependência e, também o de se perder o respeito na lida com esta pessoa.

            Já quando se evita este mecanismo dominador de muita ingerência, surge outro efeito natural e evidente, que é o do pouco cuidado e desvelo, razão para muito sofrimento, mágoa, sentimento de abandono, e, gradual processo de busca de emancipação, a fim de livrar-se do amor que não satisfaz e, delinear a procura de outra possibilidade de achar a árvore da felicidade na vida.

            Quando uma parte quer cuidar com excessivo desvelo a outra, pode realçar-se o medo de perde-la ou atitude de cobiça-la de forma obsessiva. Então, o que é para culminar no amor profundo, genuíno e verdadeiro, automaticamente, o anula por produzir uma espécie de asfixia, ou, como se costuma falar em nossos dias, de um ambiente tóxico, que se torna insuportável.

            No desejo profundo de intimidade realizadora, anula-se a alteridade da outra parte, e se produz o conflito, o desencontro, a raiva, o ódio e a rejeição profunda e total. Ademais, o princípio da contradição também permite notar que tudo quanto atrai intensa e profundamente, é seguido por similar ato de repulsa e rejeição. Ainda bem, pois, sem isso, os seres já teriam desaparecido do planeta, há milhões de anos: o próprio ato maior da atração pela intimidade, mataria os dois, por exaustão, se não ocorresse repulsa e rejeição do próprio ato intimista.

            Neste universo a dois, a facilidade de alguém deslizar diante do que prometeu e jurou, faz com que a fonte mais freneticamente buscada para ser feliz é, simultaneamente, a fonte da frustração, da separação, do desprezo, da cobrança e até de procedimentos homicidas. Esta perversidade decorre tanto do desejo de agradar quanto do desejo de mudar a outra parte para adequá-la aos ideais do próprio desejo.

            Se este problema, impregnado no amor humano, já causa tanta briga, perseguição e morte, o que seria prognosticável num amor de Gatose?

            As possíveis evidências de que a frustração na convivência entre seres humanos a procurar esta comunhão romântica e sonhada com gatos, terá também suas inequívocas repercussões. Assim como se faz nos simulacros com bonecas “Reborn” (= renascidas; talvez seria melhor dizer que são simulacros encantadores de bebês, sobretudo, de recém-nascidos), expressão fantástica de como se consegue fazer algo similar ao real, a tal pode que se confunde com o real, certamente, significará que uma relação intimista com gatos produza algo parecido e que leve pessoas a relações cotidianas com gatos, como se fossem filhos de verdade.

Até já ocorrem brigas na justiça entre casais que disputam o direito de posse de boneca “Reborn”, razão de atrito entre casais que se escolheram para amor profundo. Outras pessoas caminham na rua com diversas bonecas “Reborn” no colo, dando a entender que são criaturas humanas.

Sintoma parecido com o quadro das bonecas, além de constituir relação anacrônica, poderá manifestar-se na Gatose, através de desvios nos processos psíquicos da relação com gatos: lida com gatos como se fossem filhos humanos reais.

            Nestas evidências do aprofundamento de um fracasso humano na relação que substitui gatos por criaturas humanas, ainda se corre o risco maior de absorver o que é da praxe dos gatos: a dos machos, no instinto de copular o maior número de fêmeas, colocarem a sua vida em risco de morte no enfrentamento de outros machos, que, numa certa altura da existência se tornam mais viris, ágeis e fortes.

 Ademais, os gatos também apresentam uma herança de um estarrecedor mecanismo de morte e destruição, isto é, um gato macho não admite surgimento de gatinhos que sejam precedentes de outro gato. Mata-os com requintes de extrema crueldade.

            Se esta predisposição dos gatos se juntar àquela que já dá sinais de fracasso nas relações humanas, então, um grande mal juntado a outro, terá elevadíssimo potencial destruidor da raça humana no planeta Terra.

            Apesar de que o visionário Elon Musk já quer assegurar que sobrevivam seres humanos, deslocando-os para Marte, caso levem os traços humanos engendrados, aqui na Terra, nem chegarão a grandes conquistas em Marte, porquanto levarão junto, tudo o que tem de bom e, ao mesmo tempo, o que de pior se pode constatar nos seres humanos.

 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

BONECAS REBORN

 


Nesta bela arte do simulacro,

Imitação de momento sacro,

Da emoção de belas crianças,

Ressalta peculiares bonanças.

 

Reborn, um termo estranho,

Nome dado para o desenho,

De bonecas tão semelhantes,

Aos vivos e reais semblantes.

 

A arte que imita o corpo real,

Admirável capacidade surreal,

Chega a confundir bebê físico,

Com um simulacro metafísico.

 

Arte de aparentar efeito real,

Dá ao fictício o aparente aval,

De que a realidade simulada,

Substitui a humana moldada.

 

Reprodução copiada ou fictícia,

Encanta como genuína delícia,

Na imitação hiper-real da vida,

E produz similaridade querida.

 

Arte de fazer algo semelhante,

Afeta uma história empolgante,

 Presente nas crenças e em jogos,

E se mescla em piedosos rogos.

 

Artística simulação de artistas,

Como de cantores e ensaístas,

Afeta as modas e publicidades,

E as etiquetas das sociedades.

 

A técnica artesanal representa,

No recém-nascido que encanta,

A perfeição que confunde bebê,

No boneco tão similar ao nenê.

 

Expressão facial de criança viva,

Sem iludir ação contemplativa,

Constitui mediação duma cópia,

Dum ente vivo como fotocópia.

 

Tanta coisa que na vida se copia,

Se aparenta naquilo que se cria,

Permita bonecas passar distante,

Do simulacro de arma aberrante.

terça-feira, 13 de maio de 2025

GATOSE 14 - GATOSE COM NOMOFOBIA

 

        Talvez a Organização Mundial da Saúde ainda não tenha promulgada esta nova doença social chamada de Nomofobia, mas, certamente, em breve será uma das doenças de larga proliferação.

Trata-se de uma doença recente, advinda de uma outra simbiose simultânea à da Gatose, em processo de comensalidade entre seres humanos com aparelhos celulares. Já virou síndrome de dependência humana e o excessivo manuseio do celular com as mãos e a necessidade de estar ligado com outros, ainda que na forma fria da virtualidade, produz um receio ansioso de que se possa ficar sem comunicação.

Imaginar que se possa passar mal ou ficar num apuro sem poder pedir socorro já aciona a sintomatologia desta neurose inquietante em torno do celular.

            Os sintomas parecem apresentar-se mais agudos em pessoas que já tiveram antecedentes de excessivas horas passadas em jogo de videogame, de jogos digitais e de outras ocupações no computador.

            No distúrbio da Nomofobia a possibilidade de alguém presumir que vai ficar desconectado, já aumenta tristeza, ansiedade e estresse. Tais manifestações podem favorecer as somatizações como taquicardia, sudorese, impaciência e crises de pânico. Muita gente, caso viesse a ser informada de que terá que ficar uma hora sem celular, já entraria, imediatamente, em pânico, porque nem sequer suporta ficar três minutos sem ligar e desligar o celular.

            Ligar e desligar o celular já virou o primeiro sinal doentio, porque o normal movimento de ver algo no celular, se tornou expressão da incapacidade de conversar. Sem assunto, puxa-se o celular como se algo importante estivesse sendo comunicado. No entanto, é disfarce da dificuldade de inteirar-se com pessoas. O olhar precípuo sobre o celular desloca a capacidade da escuta interior e da grandeza da vida que se transluz no rosto. Sem esta referência, o humano nomofóbico cria muitos problemas de relacionamento. Xinga, destrata, ofende, humilha e ameaça nas mensagens jogadas nas redes virtuais, mas, não é capaz de expressar uma vírgula numa conversa com outras pessoas e familiares.

            Nomofobia é doença essencialmente relacionada à incapacidade de relacionamentos humanos normais. Dali decorre a inquietude, a irritabilidade e a impaciência para qualquer tipo de diálogo. Trata-se, em suma, de um transtorno mental que afeta muitas funções da mente.

            O que teria a Nomofobia a ver com a doença da Gatose? As evidências são perceptíveis: já que pessoas apaixonadas por gatos também apresentam dificuldades de interações humanas, esta limitação se compensa com o equipamento eletrônico como melhor companhia e passa-tempo. Dali vai resultar a novidade da ocupação braçal: nada de operações braçais rotineiras, mas destreza para manusear o aparelhinho que complementa a vida e ocupar a outra mão para fazer os devidos e esperados afagos nos gatos. Poder-se-á interagir perfeitamente com alguém e extravasar o himeneu do amor pelo suave e macio esfregamento das mãos no gato. Sem demora, os humanos, -  ainda um pouco normais, -  passarão a sentir inveja dos nomofóbicos afetados pela Gatose, pois, já não importará e beleza feminina, nem a elegância masculina, nem o elã das ativações para complementariedade, nem perfumes, nem as bricolagens de enfeites, nem estas brigas de gênero e nem sorrisos encantadores para provocar jogos lúdicos e festivos.

O humano da Gatose carecerá apenas de um celular e de um gato.


GATOSE 13 - CARÊNCIA AFETIVA DOS GATOS

 

 

Embora não ocorram animadas discussões em torno de comentários relativos à carência afetiva dos gatos soltos na vasta natureza, já os outros, cooptados por seres humanos nesta simbiose mórbida, tudo indica, que foram transformados em criaturas carentes de afeto.

Acostumados a muito mimo e cafuné abundante, os gatos integrados aos humanos foram contemplados com excesso de afeto, provavelmente, todo o afeto não canalizado para filhos e pessoas parceiras da convivência familiar.

Longo processo de carga afetiva abundante, fragilizou os gatos e os tornou dependentes destes cuidados múltiplos e cotidianos. Mais do que bebês carentes, os gatos levam vantagem sobre as criaturas humanas, porque se satisfazem com o carinho automático e imutável na intensidade ante afagos de pelo menos uma mão, liberando a outra para o celular, enquanto que, uma criança requer duas mãos cheias de dedos e ainda dá sinais de pretender mais do que isso.

Esta mendicância de afeto, por parte dos felídeos, já resulta de longo processo de aconchego ao colo humano, o que os tornou profissionais espertos para chamarem a atenção dos donos sobre seus merecidos cafunés.

Um bebê humano normal, vive de contínua auto-transcendência, pois, se aceita beijos e contatos exaustivos numa fase, logo em seguida, já os rejeita e espera outro modo de manifestação afetiva. Esta contínua mudança requer muito das mães e pais porque também eles devem envolver-se em constantes modificações nas formas de externalização do seu afeto. É neste lado fraco que o gato dá o seu pulo para a vantagem. Requer sempre o mesmo gesto, a mesma cantilena sem nunca exigir uma conversa um pouco mais racional. Basta somente aquela cobrança sobre xixi e cocô, sobre não sujar os pés e sobre como serem todos os dias mimosos de mesmo jeito.

O bebê muda de humor a todo instante, é misterioso para revelar o que sente e o que realmente deseja; e exige exaustivas tentativas de atenção para reagir com satisfação afetiva. Além da imprevisibilidade, vive da constante mutabilidade. Requer inovação constante e contínua de inovadas modificações no seu anseio afetivo. Se num momento deseja colo, logo, rejeita o colo e quer sentir-se amado para seguir seu rumo, mesmo que caia depois de um metro andado. Então, vai exigir o colo para acalmar-se.

Neste paralelismo de gato com criança, o gato é constante, regular e gracioso. Não costuma nem morder no seio, nem olhar feio e nem choramingar para querer outra coisa distinta daquela que lhe foi oferendada. Enquanto o gato até lambe o prato, uma criaturinha humana espalha comida sobre a mesa, sobre a cadeira e ainda deixa muita migalha no chão.

O que certamente mais pesa na comparação de gatos com crianças, é a vantagem dos gatos em relação às evacuações e fraldas a serem trocadas muitas vezes por dia. Os mimosos felídeos, embora emitam maus odores pela falta de banho e pelo cheiro de urina e cocô nos banheiros, ajeitam-se autonomamente neste campo. Já uma criaturinha humana requer milhares de banhos e conselhos repetitivos à exaustão até se lavar razoavelmente e higienizar um pouco o seu corpo num banho.

Humanóides, tão pouco especializados por comandos de cerebelo, demoram anos para chegar ao ponto de sobrevivência e de auto-cuidados dos felídeos já nos primeiros dias de vida. Porém, uma vez desvirtuados destas qualidades ingênitas e instintivas, os felídeos tornam-se essencialmente dependentes dos seus tutores humanos.

Bebês descobrem manhas e aprendem patranhas. Emburram, teimam, desobedecem, irritam, exageram, brigam e, por qualquer coisa, se intrigam. Ao crescerem, aprendem a mentir, a esconder, a ocultar, a furtar, a agredir, a não estudar, a querer outra roupa, a irem a lugares não autorizados e a catar tudo o que não presta nos supermercados e meios virtuais.

Os felídeos feitos carentes, pulam por cima deste mar de irritabilidades, e, graciosamente, saltam sobre o colo dos tutores, num dia como outro, sem mudar a personalidade e nem mesmo para encher as paciências com pedidos de aquisições impossíveis.

Na Gatose, a substituição do gato pelo filho, evita preocupantes gastos com estudos, roupas e etiquetas de moda, celulares, tênis de status, carros, festas, casamentos e aquele consumismo desenfreado para consumir e ser feliz, e, mesmo assim, viver o mundo da metamorfose oriunda de drogas, sexo excessivo, bebidas energéticas e alcoólicas e tantas outras coisas estúpidas e mirabolantes. Por conseguinte, pode-se entender o porquê do afeto humano tão devotado pelos gatos.

 

segunda-feira, 12 de maio de 2025

GATOSE 12 - Meiguice sedutora dos gatos

  

Na capacidade de denotar afeição a seres humanos, os gatos despertam encantamento, porque sua afabilidade e seu jeito carinhoso constituem o que os corações humanos carentes mais esperam: sinais de afabilidade e de ternura, na interação.

Nesta simbiose que gatos conseguem estabelecer com os humanos, - na característica que lhes é peculiar, - exercem um poder que fascina os humanoides, mas, também os seduz e os explora através do desfrute por dependência. Trata-se de um modo de interação, em que, ao se tornarem totalmente dependentes dos humanos, os gatos roubam os afetos que uma vez eram peculiares e precípuos entre seres humanos, sobretudo, de casais entre si e seus filhos.

Nesta sedução de se tornarem o alvo central dos afetos humanos, os gatos despertam o fenômeno da paixão exclusiva dos humanoides pela sua meiguice.

Como a meiguice felídea mexe com corações humanos, carentes, feridos e desencontrados, prende também toda atenção do seu entorno humano; e, os gatos, sabem valer-se deste poder sedutor para criar uma dependência de desfrute, que os leva a perder seus traços instintivos, mas, em compensação, lhes assegura carinho, cama, comida, amparo e conforto, uma vantagens invejáveis a qualquer outro ser vivo neste planeta que precisa lutar e correr riscos para sobreviver. Nem os papagaios, com suas encantadoras plumagens e suas falas humanas, aprendidas por repetição, conseguem tanta intimidade quanto os gatos.

Se a meiguice felídea assegura uma vida altamente burguesa aos gatos, ela, no entanto, gera um deslocamento de sintoma nos seres humanos. Estes, compensam nos gatos a meiguice raramente encontrada entre similares humanos, e deslocam o foco da pouca afetividade que ainda lhes resta, aos gatos. Ademais, como os felídeos esnobam meiguice, eles cooptam e prendem os corações humanos, a tal ponto, que estes vivem mais para os gatos do que corações felídeos vivem para os seres humanos.

Seriam os felídeos já coabitantes com pessoas humanas carentes, ainda capazes de aceitar menos correspondência afetiva por parte dos humanos, a fim de que estes possam voltar a manifestar mais meiguice entre si?

As suspeitas, são as de que, como já se trata de um desfrute por dependência, os felídeos já roubaram esta peculiaridade humana, pois, a canalizam e a absorvem precipuamente para a sua própria vantagem.

Como poderia ser imaginado o futuro desta interação, - tão mórbida e doentinha, -  da simbiose humanoide-felídea?

Tudo leva a crer que, pelo lado humanoide, a perda da capacidade dos seres adultos, de se emocionarem intensa e profundamente com novas criaturas humanas, vai degenerar a condição humana. Como o ato de “emocionar-se” com crianças que nascem, condição primeira e fundamental para a sua sobrevivência, a perda desta primeira condição vital vai causar muitas mortes e anomalias de conduta humana.

Se a nomobobia (distúrbio mental crônico de dependência a celular) já diminui a atenção de adultos para as crianças, a meiguice felídea vai acabar absorvendo o resto que sobraria para ser manifestado a nascituros humanos. Ademais, como os gatos se preenchem com o afeto humano, também vão perder a capacidade de procriar e conviver, emocionalmente bem relacionados com seus gatinhos.

Pode-se, pois, antever que gatos mimados ocupem o colo das mães, e bebezinhos carentes de afeto sejam amparados por cachorras ou alguma outra fêmea de sentimentos maternais. Talvez retorne a antiga condição da mitologia romana, de Rômulo e Rêmulo, criados por uma loba.

 

 

 

sábado, 10 de maio de 2025

VOZES ESTRANHAS

 

 

Não procedentes do além,

E nem da alma de alguém,

Mas do homem mandante,

Em seu delírio governante.

 

Promessa de bom desvelo,

Acaba em tanto desmazelo,

E deixa de ser hospitaleira,

Para ser flor que não cheira.

 

Não escuta a voz do âmago,

Mas esta que vem do afago,

Dos ricos bem interesseiros,

Para ampliar seus carreiros.

 

Seguem velha noção bíblica,

E agem na repartição pública,

Não para orientar as ovelhas,

Mas guiá-las às suas quelhas.

 

Adoram desunir e dispersar,

Para mais e melhor devassar,

A favor de si e do seu grupo,

E esperar o lisonjeado apupo.

 

Concepção de ovelha e pastor,

Eleva-os no traço de impostor,

Para manipular as consciências,

E deixa-las nas subserviências.

 

Infantilizam para a submissão,

Induzem para passiva reação,

Atrofiam genuína autonomia,

Para evitar crítica à sua mania.

 

Longe de auscultar as ovelhas,

E de escutar suas vozes tralhas,

Ouvem só voz de conveniência,

Bem favorável à sua leniência.

 

 

 

 

 

MÃES QUE ESCUTAM

 

Celebrar o dia das mães,

Aponta tantas mamães,

Feitas vítimas indefesas,

Ante machistas cruezas.

 

Nem todas são virtuosas,

Santificadas e prodigiosas,

Mas o céu estrelado reluz,

Pelo que tanta mãe produz.

 

Nas admiráveis qualidades,

Seus tantos gestos amáveis,

A expressar genuíno amor,

Também tinem em clamor.

 

Providas dum dom especial,

Entre homens pouco usual,

Sabem escutar na paciência,

Larga glória e impertinência.

 

Escuta com a hospitalidade,

Transcende tanta maldade,

Na renúncia à ideia própria,

Para evitar razão imprópria.

 

Intuição por entendimento,

Leva-as a apontar um alento,

Para além do ódio cultivado,

Pelo amor humano reatado.

 

Sob tanto homem que mata,

Que dispersa e logo desacata,

Mães movem união e cuidado,

Para reagregar o desagregado.

 

Homens, dragões de morte,

E militarismo de braço forte,

Desunem na ordem racional,

Sem cultivar amor emocional.

 

Mães, a recuperar este amor,

Apesar do seu nato pundonor,

Tornam-se vítimas coisificadas,

Ante as machistas leis sagradas.

 

Fito em sociedades matrísticas,

O antídoto das forças balísticas,

Faz sonhar com mundo inovado,

Sem tanta guerra por todo lado.

 

 


sexta-feira, 9 de maio de 2025

PASTOR BONDOSO

 

 

Momento humano crítico e doloroso,

Contradiz esperado desvelo bondoso,

Dos que supõem mandar no planeta,

E o degradam, sob horripilante treta.

 

Na Igreja católica se espera pastor,

Sensível a sofrido anseio redentor,

De tanta vítima humana explorada,

O que fruir de império em queda?

 

O hegemônico do império reinante,

Insensível a sofrimento dominante,

Todo incapaz de sentir compaixão,

Exibe-se como midiático fanfarrão.

 

Faz do Estado a sua democratura,

E na contradição da sua ditadura,

Vive sob delírio da sua ingerência,

Para dominar a mundial gerência.

 

Nada de sentir cheiro das ovelhas,

E agregar, desde feridas, às velhas,

Torna-se ele cúmplice da limpeza,

De raças e povos na cruel sutileza.

 

Decreta humanos como mero lixo,

Intrometido no seu sofrido nicho,

Para reprimi-los e força-los a êxodo,

E se sentir o rei do melhor denodo.

 

O que faz, com Israel, contra Gaza,

Cisjordânia, Sudão a produzir brasa,

De humanos rejeitados e ignorados,

Jamais poderá produzir bons legados.

 

Cada dia menos escutada a sua voz,

Nada arruma com vociferação atroz,

Porque sua noção de paz autoritária,

Não gesta e nem cria ação solidária.

 

TOMBO DA SUPREMACIA


Nas socializações antropoides,

Os machos em fases psicóides,

Visam copular todas as fêmeas,

E sobram condições abstêmias.

 

Com muitos machos na disputa,

Países movidos em diuturna luta,

Querem súditos por supremacia,

E contradizem qualquer cortesia.

 

Visam ser mais fortes que outro,

E para tanto atacam aqueloutro,

Pela submissão à sua desordem,

E quebram a sua própria ordem.

 

Neste seguro itinerário da queda,

Absolutização da própria moeda,

Desperta concorrentes corajosos,

A enfrenta-los com ares airosos.

 

Insubmissão à ordem decretada,

Tira a força da ordem subjugada,

E o poder militar e diplomático,

Não mudam proceder antipático.

 

Ainda que tenha discurso de paz,

Subentende submissão que apraz,

Noção que não regula a interação,

Nem mesmo na sua própria nação.

 

Desperta rivalidades abundantes,

Perde as suas forças mandantes,

E supostos valores desmoronam,

Nos blefes que eles já detonam.

 

Numa instabilidade larga e ampla,

Criada sem moral que a adimpla,

E, reféns da própria contradição,

Fenecem no tombo da sua ação.

 

 

  

quinta-feira, 8 de maio de 2025

CONQUISTA DO CÉU

 

 

Antiga concepção do mérito pessoal,

No itinerário para uma vida espiritual,

Levou à crença gnosticista da certeza,

De obter o lugar do céu sem inteireza.

 

Com os simples exercícios de piedade,

Garantia-se o lugar fixo na eternidade,

Com muita honra e larga precedência,

Mesmo que a vida fosse de indecência.

 

Sob o falso cheiro da excelsa santidade,

Ocultou-se uma inabalável obscuridade,

Duma vida, facilmente ambígua e falsa,

Encenada dança teatral de divina valsa.

 

Espetáculos de cerimônias esplêndidas,

Com os figurinos sem falhas infundidas,

Detalhistas nas minudências dos rituais,

Criam as imagens de divinos mananciais.

 

Nos protocolos e arranjos dos figurinos,

Pressupostos secretos contatos divinos,

Passam a realçar em rubricas e manejos,

E que somente configuram os remelejos.

 

Os protagonistas relegam a simbologia,

E fazem com seus gestos a bela magia,

Da luz misteriosa que paira sobre eles,

Para ser infundida sobre as vidas reles.

 

Na memória de Jesus, aquele Nazareno,

Evidenciou-se o esplendor do pequeno,

Da humildade na interação de ser e agir,

Como espaço e lugar para o céu se abrir.

 

No amparo que recria rumos e sonhos,

Céus de dias mais solidários e risonhos,

Tornam-se graça a abrir ao amor maior,

Sem negociar um lugar no céu superior.

 

 

 

terça-feira, 6 de maio de 2025

GATOSE 11 - o dente do gato

  

Gatinho pequeno, leva um certo tempo para distinguir afago, carinho ou ameaça de agressão. Por isso, mostra os dentes diante de qualquer aproximação humana.

Aos poucos o gatinho em crescimento, consegue discernir estima da agressão e passa a mostrar menos os dentes. No entanto, o dente de gato, comparado ao humano, ainda leva vantagem larga, pois, mesmo minúsculo em relação ao humano, destroça osso, além de outros alimentos sólidos e consistentes.

O que até o momento ainda não se pode observar é a necessidade de gato precisar de serviços dentários, mesmo não escovando seus dentes, e, nem utilizando cremes para protege-los de bactérias corrosivas.

Por conseguinte, com seus dentes sempre vistosos, brancos, sem cáries, os gatos desafiam a simbiose: vão aproximar-se das fragilidades dos dentes humanos, ou vão os humanos regredir nos modos alimentares, para consumir menos açúcar, e viver com dentes similares aos dos gatos?

        Assuntos irrelevantes e pensamentos pouco interessantes, podem, todavia, distrair por alguns instantes, o que já representa um pequeno benefício ao ser humano, altamente obediente à ordem de produzir e consumir.

 Abordagens da beira dos grandes temas de inquietações humanas, podem, também, salientar algo importante do agir cotidiano, a revelar traços mórbidos do mundo destas criaturas.

            Como a qualidade humana não provém desta doentia obsessão pelo trabalho, sugerir algo, mesmo insignificante como escrever sobre gatos, tem, contudo, a virtualidade de despertar outros pensamentos melhores, para não culminar em Gatose, nome dado ao deslocamento da capacidade amorosa de pessoas humanas para felídeos.

 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

GATOSE 10 - a unha do gato

 

 

Unhas humanas tem funções de multiuso, que vão do ornamento ao recurso de auto-defesa.

Já no mundo felídeo, unha tem função mais utilitarista: estreita, encurvada e pontiaguda, torna-se mediação para subir e descer com facilidade, e também, como recurso de auto-proteção e para agredir.

Na complementariedade simbiótica entre humanoides e felídeos, as unhas dos gatos, apresentam vantagens em relação às unhas humanas, porque firmam o passo dado e complementam a ferocidade da boca cheia de dentes.

Entre humanos também ocorrem algumas utilizações de auto-preservação à base das unhas, mas, são raras e ocasionais. Talvez, por isso, adquiriram denotação de outros mundos de comunicação: a higiene, a pintura, o tamanho das unhas e a cor aplicada nas unhas femininas, etc.. Desta forma, unhas, constituídas em signos de comunicação humana, já não prestam para cavar, para subir em árvores ou como utensílios para abrir frutas e substituir chaves de fenda.

A unha do gato, neste aspecto leva vantagem porque desperta um sonho humano de voar, agarrar-se, saltar e evitar agressões.

Aos humanos este recurso das unhas dos gatos, torna-se particularmente irritante, ainda mais quando resolvem fazer exercício de alongamento, agarrando-se nas pernas ou nas calças compridas e soltando fios do tecido, ou arranhando o couro. As unhas compridas dos gatos, ainda não se coadunaram com as unhas humanas, e, talvez em decorrência disso, irritam quando arranham cortinas, revestimentos de sofás, colchas das camas e toalhas de mesa. Deve ser devido a uma descarga de agressividade enrustida, decorrente da alteração de seu mundo vital de soltura e liberdade na imensidão da Terra e, não no estreito ambiente doméstico humano.

 

sábado, 3 de maio de 2025

O PELO DO GATO

 

 

Para além das disputas de precedência na apresentação dos felídeos com pelos vistosos, ajeitados e aprumados - para serem largamente apreciados, - os pelos de gatos devem ter um outro magnetismo no mundo dos desejos humanos.

Basta ver como mãos delgadas conseguem ser suaves para os afagos e insistentes nas movimentações dos ritos cadenciados e ritmados de esfregar o couro peludo dos gatos. Certamente decorre de outro arquétipo humano, muito antigo, do tempo em que os humanóides eram peludos.

A saudade de contatos macios, erógenos e intimistas para estimular insinuações de interesses, levam os humanos a sentirem uma melancólica inferioridade em relação aos gatos.

Pelos de felídeos, de fato, possuem um poder hipnótico, sobretudo, nos tempos atuais, porque atingem o âmago do gosto humano por deslizar. E ninguém quer deslizar sobre algo que seja áspero ou que algo deslize sob rangidos de mau contato. O que mais encanta os humanos é tudo quanto implica em lisura, maciez e suavidade. São as palavras mágicas que não faltam nas publicidades de qualquer produto a ser adquirido.

Tudo precisa ser suave, macio e distante de provocar chiados, atritos ou enroscamentos, ante os sonhos despertados pela leveza do gato. Seu andar gracioso, e, naquela pelugem colorida, mimosa e cheirosa, ele desperta e toca o anelo do anseio mais recôndito dos seres humanos pelo ato de deslizar, e, se algo não agrada, esvair-se na leveza de gato, para outros ambientes, mais aconchegantes e lisos.

Basta reparar que ninguém vai fazer publicidade de algum produto bom, que seja áspero e causticante. O aço deve ser liso, a tela do celular deve ser macia e deslizante, o carro, o assento, o colchão, enfim, tudo deve ser macio, a roupa deve ser lisa e maleável ao corpo. A pele requer incontáveis cremes para se tornar lisa e macia. Propaganda de um carro, implica em mulher, com pouca roupa para destacar um corpo macio, com mãos carinhosas deslizando de forma graciosa e fofa no capô do veículo.

Assim, pensar que uma mulher queira comprar esfregão de aço, bom-bril, sabão com muita areia, isto, talvez ainda possa servir a mecânicos de carros antigos e todo engraxados, mas, até estes já se valem de luvas para evitar mãos ásperas.

Possuidores de poucos pelos, os humanos devem estar vendo, nos pelos de gato, o que preenche o anseio de muitos, longos e amaciados pelos em todo espaço do couro humano. Evitaria tanto transtorno de vestes desconfortáveis e constantes trocas de roupa para lavagem.

O pelo do gato preenche o imaginário coletivo da limitação deste recurso natural.

 

 

<center>COLONIALIDADE</center>

  Este traço humano precípuo, Lídimo manifesto conspícuo, Revela na obsessão humana, Algo que choca e desengana.   Abrange modo ...