sexta-feira, 3 de março de 2017

Um elo entre pensar e fazer



            Quando se inventa alguma lei, sempre se alega que é para melhorar condições e facilitar a vida das pessoas. Sabemos muito bem que a intencionalidade nem sempre corresponde ao que realmente facilita a vida. O pior, é que estas mesmas leis, podem oprimir pessoas, espolia-las e não levar a nada de bom nesta vida.
            Apesar dos bons anseios libertadores em torno das leis, a frustração se estabelece não apenas em relação à ineficácia das leis, mas, à constatação de que leis perdem o essencial da sua razão de vigência, e favorecem apenas aspectos secundários, como precedência e prosperidade material; vantagens para grupos de interesse, e, privilégios para poder prosseguir em roubos e ficar isento e imune às penas estabelecidas aos demais infratores. Foros privilegiados e interesses corporativos conseguem matar o espírito da lei e deixa-la como mero aporte para contravenções e atos ilícitos.
            Quando leis perdem sua função balizadora de facilitar a vida das pessoas, bem sabemos do mal que podem causar e dos sofrimentos que conseguem imputar a amplos setores da sociedade. Nesta condição, a observância das leis nem sempre é sinônimo de bênção.
            Como a Lei religiosa, abordada em muitos livros sagrados da longa tradição judaica estava esvaziada no tempo de Jesus Cristo, ele apresentou uma única regra com a virtualidade de tornar-se superior a todas as já codificadas no primeiro testamento da Bíblia, a lei do amor, e a esmiuçou nas bem-aventuranças, porque implicava num agir positivo em favor de um reino onde Deus novamente poderia estar na essência das razões de boa convivência.
            Materializar a vida religiosa sobre uma exteriorização de regras pode equivaler a construir uma casa sobre a areia (Mt 7, 21-27). Assim, o cultivo da fé não tem a virtualidade de ajudar a lidar com doenças, conflitos e tantos imprevistos que surgem na vida. Também muito “sim, Senhor” proclamado a Deus, mesmo com veementes floreios, cantados e com exaustivos contornos de persuasão, podem ser inócuos para a capacidade de fazer acontecer o que os ritos e as regras religiosas visam na relação com Deus. Pelo nível das picuinhas, fofocas, mal-entendidos e ressentimentos por minúcias exteriores, muita praxe religiosa, seguida em mínimos detalhes formais, pode não apresentar nenhuma eficácia para melhor entendimento com as pessoas e para facilitar as condições de respeito edificante.
            A presença do espírito de Cristo nas regras religiosas tanto as oficiais da Igreja, quanto as tantas outras implícitas, pelo menos, deveriam nos ajudar a firmar uma direção no modo de proceder. Com certeza podemos constatar que nem todas as regras insinuadas e apregoadas a toda hora, ajudam efetivamente a sermos melhores. E como é difícil escutar a Palavra de Deus, ponderar sobre sua interpelação, e agir positivamente para que o entendimento com outras pessoas se alargue na qualidade.         As regras cristãs, quando desprovidas da fé em Jesus Cristo, mesmo tidas como as mais sagradas, não produzem as necessárias modificações no nosso sentir afetivo básico para nos levar a atos de amor merecedores de crédito.
           


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