Quando se
inventa alguma lei, sempre se alega que é para melhorar condições e facilitar a
vida das pessoas. Sabemos muito bem que a intencionalidade nem sempre
corresponde ao que realmente facilita a vida. O pior, é que estas mesmas leis,
podem oprimir pessoas, espolia-las e não levar a nada de bom nesta vida.
Apesar dos
bons anseios libertadores em torno das leis, a frustração se estabelece não
apenas em relação à ineficácia das leis, mas, à constatação de que leis perdem
o essencial da sua razão de vigência, e favorecem apenas aspectos secundários,
como precedência e prosperidade material; vantagens para grupos de interesse, e,
privilégios para poder prosseguir em roubos e ficar isento e imune às penas
estabelecidas aos demais infratores. Foros privilegiados e interesses
corporativos conseguem matar o espírito da lei e deixa-la como mero aporte para
contravenções e atos ilícitos.
Quando leis
perdem sua função balizadora de facilitar a vida das pessoas, bem sabemos do
mal que podem causar e dos sofrimentos que conseguem imputar a amplos setores
da sociedade. Nesta condição, a observância das leis nem sempre é sinônimo de
bênção.
Como a Lei
religiosa, abordada em muitos livros sagrados da longa tradição judaica estava
esvaziada no tempo de Jesus Cristo, ele apresentou uma única regra com a
virtualidade de tornar-se superior a todas as já codificadas no primeiro
testamento da Bíblia, a lei do amor, e a esmiuçou nas bem-aventuranças, porque
implicava num agir positivo em favor de um reino onde Deus novamente poderia
estar na essência das razões de boa convivência.
Materializar
a vida religiosa sobre uma exteriorização de regras pode equivaler a construir
uma casa sobre a areia (Mt 7, 21-27). Assim, o cultivo da fé não tem a virtualidade
de ajudar a lidar com doenças, conflitos e tantos imprevistos que surgem na
vida. Também muito “sim, Senhor” proclamado a Deus, mesmo com veementes
floreios, cantados e com exaustivos contornos de persuasão, podem ser inócuos
para a capacidade de fazer acontecer o que os ritos e as regras religiosas
visam na relação com Deus. Pelo nível das picuinhas, fofocas, mal-entendidos e
ressentimentos por minúcias exteriores, muita praxe religiosa, seguida em
mínimos detalhes formais, pode não apresentar nenhuma eficácia para melhor
entendimento com as pessoas e para facilitar as condições de respeito
edificante.
A presença
do espírito de Cristo nas regras religiosas tanto as oficiais da Igreja, quanto
as tantas outras implícitas, pelo menos, deveriam nos ajudar a firmar uma
direção no modo de proceder. Com certeza podemos constatar que nem todas as
regras insinuadas e apregoadas a toda hora, ajudam efetivamente a sermos
melhores. E como é difícil escutar a Palavra de Deus, ponderar sobre sua
interpelação, e agir positivamente para que o entendimento com outras pessoas
se alargue na qualidade. As regras
cristãs, quando desprovidas da fé em Jesus Cristo, mesmo tidas como as mais
sagradas, não produzem as necessárias modificações no nosso sentir afetivo
básico para nos levar a atos de amor merecedores de crédito.
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