Quem não
gostaria de sentir-se possuidor de fé, sólida como a rocha, para viver num
conforto estável e permanente? Bem sabemos que a fé não nos isenta de
dificuldades, crises, inseguranças, mas nos fornece uma força interior para
melhor lidar com as adversidades.
Como a fé também
não é mera conquista pessoal e nem acumulativa, - pois, nos é dada como graça,
- requer um aprendizado progressivo para corresponder bem a este dom gratuito
que Deus nos oferece. Muitas pessoas vivem o auto-engano de considerar sua fé,
como vigorosa, forte e profunda, quando sua vida real está bem distante das
orientações de Jesus Cristo. Numa imagem simples, para se beber água da fonte,
requer-se que exista algum vínculo com a fonte.
Mesmo sem má
vontade, muitas pessoas vivem hábitos herdados e pressupõe que estes sejam a
essência da sua fé. Algumas até exageram e proclamam que são possuidoras de
muita fé, porquanto recebem tudo quanto pedem a Deus. No entanto, pode-se
desconfiar destas certezas categóricas, e muito! A fé decorre de
autoconsciência dos limites e da constatação de que, por conta própria, não é
possível um ajuste razoavelmente adequado com estes limites. Decorre dali a
necessidade de uma ajuda.
Quando
apelamos à ajuda de Deus, ela precisa acontecer dentro de um caminho. Não é
apenas o desejo a ser suprido, porque ele implica em ação diante da avaliação
dos atos perpetrados.
No evangelho
de João (4, 5-42) há uma narrativa muito interessante a respeito da forma como
Jesus educava seus interlocutores para que percebessem que a fé tem algumas
implicações. A samaritana representa um tipo de fé que não implica em mudança
de vida. A pedagogia de Jesus foi a de permitir que a samaritana se
auto-avaliasse e fizesse uma importante revisão de vida, e, se conscientizasse
das suas limitações. Simultaneamente percebeu que precisava de ajuda para
redimir-se do seu passado e viver com mais sentido para os tempos vindouros da
existência.
Como a
samaritana não seguia a religião dos judeus e, tampouco tinha consciência da história
religiosa em torno do templo, - pois os samaritanos adoravam Deus no monte
Garizim, - seu diálogo com Jesus a fez perceber que esta diferença não era
essencial, mas, que o importante era adorar Deus em espírito e verdade.
Embora esperasse por um salvador, a samaritana
demorou a perceber que Jesus Cristo estava sendo esta ocasião de salvação.
Chama atenção que Jesus não deu uma aula de moral, não foi autoritário e nem
rigoroso em exigências coercitivas e punitivas. Criou espaço para que a mulher
pudesse avaliar sua história e desejar algo bem melhor do que tinha vivido.
Somente o
desejo de algo melhor seria insuficiente. A samaritana se deu conta de que
deveria aproximar-se do jeito de Jesus Cristo, isto é, ter acesso à fonte que
abastecia sua sede de Deus.
Muitas
supostas proclamações de fé em Deus não levam à estrada que conduz a Deus: a elementar
constatação da necessidade de salvação!
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