quinta-feira, 16 de março de 2017

Educação da fé




            Quem não gostaria de sentir-se possuidor de fé, sólida como a rocha, para viver num conforto estável e permanente? Bem sabemos que a fé não nos isenta de dificuldades, crises, inseguranças, mas nos fornece uma força interior para melhor lidar com as adversidades.
            Como a fé também não é mera conquista pessoal e nem acumulativa, - pois, nos é dada como graça, - requer um aprendizado progressivo para corresponder bem a este dom gratuito que Deus nos oferece. Muitas pessoas vivem o auto-engano de considerar sua fé, como vigorosa, forte e profunda, quando sua vida real está bem distante das orientações de Jesus Cristo. Numa imagem simples, para se beber água da fonte, requer-se que exista algum vínculo com a fonte.
            Mesmo sem má vontade, muitas pessoas vivem hábitos herdados e pressupõe que estes sejam a essência da sua fé. Algumas até exageram e proclamam que são possuidoras de muita fé, porquanto recebem tudo quanto pedem a Deus. No entanto, pode-se desconfiar destas certezas categóricas, e muito! A fé decorre de autoconsciência dos limites e da constatação de que, por conta própria, não é possível um ajuste razoavelmente adequado com estes limites. Decorre dali a necessidade de uma ajuda.
            Quando apelamos à ajuda de Deus, ela precisa acontecer dentro de um caminho. Não é apenas o desejo a ser suprido, porque ele implica em ação diante da avaliação dos atos perpetrados.
            No evangelho de João (4, 5-42) há uma narrativa muito interessante a respeito da forma como Jesus educava seus interlocutores para que percebessem que a fé tem algumas implicações. A samaritana representa um tipo de fé que não implica em mudança de vida. A pedagogia de Jesus foi a de permitir que a samaritana se auto-avaliasse e fizesse uma importante revisão de vida, e, se conscientizasse das suas limitações. Simultaneamente percebeu que precisava de ajuda para redimir-se do seu passado e viver com mais sentido para os tempos vindouros da existência.
            Como a samaritana não seguia a religião dos judeus e, tampouco tinha consciência da história religiosa em torno do templo, - pois os samaritanos adoravam Deus no monte Garizim, - seu diálogo com Jesus a fez perceber que esta diferença não era essencial, mas, que o importante era adorar Deus em espírito e verdade.
             Embora esperasse por um salvador, a samaritana demorou a perceber que Jesus Cristo estava sendo esta ocasião de salvação. Chama atenção que Jesus não deu uma aula de moral, não foi autoritário e nem rigoroso em exigências coercitivas e punitivas. Criou espaço para que a mulher pudesse avaliar sua história e desejar algo bem melhor do que tinha vivido.
            Somente o desejo de algo melhor seria insuficiente. A samaritana se deu conta de que deveria aproximar-se do jeito de Jesus Cristo, isto é, ter acesso à fonte que abastecia sua sede de Deus.
            Muitas supostas proclamações de fé em Deus não levam à estrada que conduz a Deus: a elementar constatação da necessidade de salvação!


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