Ao lado dos
muitos níveis de fé, que vão de ingênuas piedades e elevados compromissos, aparecem
surpresas e crises de fé. No entanto, existe uma propensão para se procurar
segurança em certos ritos e hábitos de praxes religiosas, com a pressuposição
de que conferem especiais poderes e graças.
Chega a ser
espantoso o clima criado em torno de certos títulos marianos e a verdadeira
correria atrás de certas induções milagreiras banais em torno de novos lugares,
todos apresentados como propiciadores de milagres muito notáveis e instantâneos.
Ao
lembrarmos o chamado pai da fé, o antigo patriarca Abraão (Gn 12, 1-4), ele foi
tornado referência porque sua fé o levou a querer vivenciar um grande sonho de
futuro e que o levou a um progressivo diálogo com Deus. Por orações e rituais
simbólicos desejou Abraão expressar seus anseios a Deus. Simultaneamente,
Abraão percebia que tal aliança implicava em lidar com as inseguranças: partir,
sair, começar de novo. Parece algo diametralmente contrário ao que se busca em
tantos lugares de culto.
O apóstolo
Paulo constitui outro exemplo de alguém que se transformou profundamente a
partir da fé, mas, nada a ver com coisas mágicas e intimistas. Foi
paulatinamente mais forte para suportar adversidades, injúrias e calúnias e nem
por isso deixou de pensar ainda mais no bem-estar das comunidades de fé.
Demonstrou isso ao saber do colega Timóteo, que ficou muito abatido quando foi
informado que Paulo se encontrava preso na cadeia. Ao invés de se colocar como
vítima sofredora e barganhar afeto para suportar aquele sofrido isolamento na
cadeia, Paulo tomou a iniciativa de escrever a Timóteo a fim de alertá-lo para
que aproveitasse essa ocasião e se solidificasse ainda mais no seguimento a
Cristo (2Tm 1, 8-10). A graça do amor de Deus o levaria a suportar os
sofrimentos e os medos dos que poderiam causar-lhe algo parecido do que estava
ocorrendo com seu amigo Paulo. A vocação à santidade cobrava o preço desta
coerência.
Do apóstolo
Pedro pode-se recordar, na mesma perspectiva, um processo de fé que o levou a
reconhecer melhor os sinais de Deus. Sua concepção de fé o havia levado a
considerar Deus no nível de Abraão, Moisés, Elias e, possivelmente, outras
lideranças simpáticas e de ascensão social. Todavia, num momento de oração, fez
uma experiência hierofânica e percebeu que Jesus brilhava como orientação
superior para fazer a vontade de Deus. Nele, Deus estava revelando sua
habitação na condição humana, e este encantamento dava a Pedro uma força
especial para vencer os muitos medos e inseguranças alimentados em torno de
Jesus Cristo.
A imagem do
rosto brilhante, mais do que em outras ocasiões, deu a Pedro uma elucidação
essencial: Jesus não se constituía apenas num líder carismático, que arrastava
discípulos e multidões pela simpatia ou por um discurso visando ascensão de
poder. Pelo contrário, constituía a morada de Deus e Pedro sentiu que este
Jesus o interpelava a ter a mesma capacidade de lidar com tantas fraquezas
humanas e, acima de tudo, com a vivência de uma fé de meras praxes rituais e
que não ofereciam resposta aos problemas candentes da vida religiosa judaica.
A fé se
elucidou não como um porto seguro de proteção e defesa, mas, um dinamismo
interior capaz de leva-lo a lidar com dificuldades de toda natureza.
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