De vez em
quando somos obrigados a aturar conversas pessimistas de quem parece não ter
outra coisa na cabeça do que lamúria e insatisfação. Literalmente não consegue
antever algo que possa ser agradável e bom. No entanto, também nós nos
contagiamos com ambientes pessimistas e, quando menos nos damos conta, nos
constatamos eivados de azedume ante tudo que nos envolve.
Fazer um
pessimista ver as coisas pelo avesso, ou, pela esperança que leva a antecipar
situações boas e agradáveis, geralmente requer alguma imagem forte para
convencer.
O profeta
Ezequiel (37, 12-14), vivendo no exílio da Babilônia, junto com seu povo
desanimado e entregue ao pessimismo, foi capaz de intuir algo diferente e de
falar para seus companheiros de que Deus seria capaz de mudar este quadro
fatalista e sem graça de viver naquela condição escrava. Valeu-se de uma imagem
forte: diante dos ossos ressecados e das esperanças já extintas daquele quadro
pessimista, Deus poderia fazê-los sair daquelas sepulturas, e fazê-los andar
novamente no rumo da sua Terra de origem.
Para tal
condição profundamente transformadora, Deus teria que fazer praticamente uma
recriação para colocar espírito e vida naqueles cadáveres ambulantes sem
motivação para nada. Para o profeta, bastaria que seus companheiros admitissem
outra perspectiva para a sua vida.
Nossos dias
permitem um pessimismo similar aos escravizados na Babilônia, mesmo sem aquela
situação de humilhante servidão. Mesmo assim, requerem postura similar à de
Ezequiel. Afinal, ao admitirem que Deus possa, com espírito e vida, recriar
razões de gosto e de exuberância na vida, tudo começa a renovar-se e pequenas
intuições começam a apontar a viabilidade da transformação da vida.
Na imagem
simbólica de nova criatura, alimentamos a esperança cristã de que nossa
participação na vida de Jesus Cristo possa nos plenificar com a transcendência
que ele manifestou ao longo da sua vida e celebrar a certeza da definitiva
ressurreição com ele. Foi assim que São Paulo (Rom 8,8-11) convidou uma
comunidade romana a sentir-se, pela fé em Jesus Cristo, uma comunidade renovada
na sua condição de vida e capaz de discernir nas tensões normais do dia-a-dia,
o rumo que conduz no caminho da perfeição do ressuscitado.
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