sexta-feira, 31 de março de 2017

A atração do pessimismo


            De vez em quando somos obrigados a aturar conversas pessimistas de quem parece não ter outra coisa na cabeça do que lamúria e insatisfação. Literalmente não consegue antever algo que possa ser agradável e bom. No entanto, também nós nos contagiamos com ambientes pessimistas e, quando menos nos damos conta, nos constatamos eivados de azedume ante tudo que nos envolve.
            Fazer um pessimista ver as coisas pelo avesso, ou, pela esperança que leva a antecipar situações boas e agradáveis, geralmente requer alguma imagem forte para convencer.
            O profeta Ezequiel (37, 12-14), vivendo no exílio da Babilônia, junto com seu povo desanimado e entregue ao pessimismo, foi capaz de intuir algo diferente e de falar para seus companheiros de que Deus seria capaz de mudar este quadro fatalista e sem graça de viver naquela condição escrava. Valeu-se de uma imagem forte: diante dos ossos ressecados e das esperanças já extintas daquele quadro pessimista, Deus poderia fazê-los sair daquelas sepulturas, e fazê-los andar novamente no rumo da sua Terra de origem.
            Para tal condição profundamente transformadora, Deus teria que fazer praticamente uma recriação para colocar espírito e vida naqueles cadáveres ambulantes sem motivação para nada. Para o profeta, bastaria que seus companheiros admitissem outra perspectiva para a sua vida.
            Nossos dias permitem um pessimismo similar aos escravizados na Babilônia, mesmo sem aquela situação de humilhante servidão. Mesmo assim, requerem postura similar à de Ezequiel. Afinal, ao admitirem que Deus possa, com espírito e vida, recriar razões de gosto e de exuberância na vida, tudo começa a renovar-se e pequenas intuições começam a apontar a viabilidade da transformação da vida.
            Na imagem simbólica de nova criatura, alimentamos a esperança cristã de que nossa participação na vida de Jesus Cristo possa nos plenificar com a transcendência que ele manifestou ao longo da sua vida e celebrar a certeza da definitiva ressurreição com ele. Foi assim que São Paulo (Rom 8,8-11) convidou uma comunidade romana a sentir-se, pela fé em Jesus Cristo, uma comunidade renovada na sua condição de vida e capaz de discernir nas tensões normais do dia-a-dia, o rumo que conduz no caminho da perfeição do ressuscitado.
           


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