Se as
simpatias já não nos encantam por reis, rainhas e monarquias, menos ainda nos
entusiasmam por governanças autoritárias e prepotentes. Ainda que ocorram
estranhas opiniões favoráveis a uma ditadura militar, quem passou pelos anos da
década de 1960 e 1970, certamente não desejará que aquela forma de reinado
volte a implantar-se em nosso país.
Como fica,
então, a noção de Jesus Cristo como rei? O renomado teólogo John Sobrino
observou que a América Latina está ostentando muitas Cristologias. Uma delas
consiste em enfatizar insistentemente a grandeza, a glória e o poder de Jesus
Cristo e seu reinado. Na verdade, esta insistência estaria visando não alguma
proposta de Jesus Cristo, mas, simplesmente o poder do pregador sobre seus
ouvintes, na pretensão de alargar sua influência dominadora.
Bem
lembramos o quanto textos do primeiro testamento da Bíblia descrevem e retomam
atribuições do reinado do saudoso rei Davi. Talvez pelas conquistas das terras
de Israel, a memória dele sempre se avivou nos tempos de crise e de ameaça de
perder a soberania sobre aquele chão, como de fato, ocorreu em diversas
ocasiões.
Mesmo com a
proeza de grandes conquistas, o rei Davi não foi um bom secretário de Deus para
cuidar com desvelo da vida do povo, sobretudo, os mais pobres, assim como jurou
fazer. Estava muito mais encantado com as orgias junto às suas muitas amantes
e, por isso, seu reinado entrou em decadência rápida. No entanto, ficou a sua memória
diante de outras crises e derrocadas do país de Israel.
O segundo
testamento da Bíblia também faz muitas alusões ao reinado de Davi. Como outros
judeus, os daquele momento histórico, também sonhavam com uma estabilidade com rica
prosperidade econômica e, de modo especial, com a soberania nacional de Israel.
Jesus
Cristo, pelo fato de encantar grandes multidões, despertou rapidamente a
associação a velhos anseios de um reinado em que até os pobres pudessem ter voz
e vez. Entretanto, seu discurso não era o de um líder político interessado na
conquista de Israel e, tampouco, visava um poder monárquico e nacionalista.
Contudo, falava de um reino, não no estilo de Davi ou de algum de seus
sucessores, mas, do Reino de Deus, isto é, que Deus poderia facilitar a razão e
o centro das lidas humanas, muito mais justas, solidárias e viáveis para todos
os membros da sociedade.
No anúncio
desta boa notícia da parte de Deus e na convocação para a construção de um
reinado que caminhasse para o jeito de Deus, Jesus foi lembrado pelos seus
discípulos como proposta antagônica à do rei Davi. Enquanto Davi matou,
submeteu e impôs à força seu modo de reinar, a proposta de Jesus Cristo visava a
salvação, a redenção humana e regras éticas e morais para um modo de proceder,
bem diverso daquele dos tempos de Davi.
Se ainda
hoje nos referimos a Jesus Cristo como rei, não é mais com olhos fitos em
governança, mas, para lembrar o outro caminho a ser construído, não nas trilhas
da prepotência, da honra e da grandeza, mas do humilde serviço para o bem
comum.
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