sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Propósitos e sinais na governança




            Sabemos mais do que o suficiente a respeito das táticas dos pretendentes a cargos de governança em todos os níveis da organização social, seja civil ou religiosa. Apresentam o melhor do que desejamos ouvir, mas, o exercício normalmente tende engolir, sem demora, todos os bons propósitos.
            Uma antiga história bíblica lembra muito bem esta peculiaridade do desejo de mandar. O povo de Israel andava insatisfeito com o modo como os juízes o governavam. Ao constatar que outros países tinham reis, pressupôs que, com um rei, a vida daquele país também poderia ser melhor. Elegerem Davi como rei e ele, com rigidez férrea, conseguiu aglutinar as doze tribos de Israel para uma unidade nacional. Mesmo assim, os grandes anseios populares ficaram relegados. Veio o fracasso e a derrocada.
            Muitos séculos mais tarde, já sem autonomia nacional, o povo ainda lembrava com saudosismo o reinado de Davi, porque, com ele, constituíram uma nação. No desejo de restauração da almejada unidade nacional, esperavam um novo rei. Na figura de Jesus de Nazaré e na sua lida agregadora de multidões, emergiu uma esperança de que ele poderia reimplantar a condição de um bom governo sob a tutela de Deus, como Davi havia desejado na sua posse: fazer o melhor possível para o povo como um bom secretário de Deus.
            Nas expectativas políticas, até de discípulos muito próximos de Jesus Cristo, acalentavam-se cargos de precedência sob o seu reinado, um possível grande rei de Israel. Tanto as atitudes quanto as orientações de Jesus Cristo, não incidiam com esta esperança, mas, ele falava da proximidade de um novo reinado, porém, o reinado de Deus, que já se manifestava no meio do povo de Israel. Era o seu agir que indicava um modo de ser totalmente novo em relação aos saudosismos antigos e reativados diante das crises de dependência que o povo vivia, pois, estava atrelado ao império romano.
            Para decepção e o desencanto de muitos, Jesus, em vez da posse como rei, foi elevado numa cruz sob a acusação de ser subversivo, agitador do povo e desestabilizador da religião oficial. No entanto, desta elevação humilhante, culminou a revelação de um amor profundo pela condição humana. Na coerência do que Jesus fez e orientou estava a perspectiva do reinado de Deus, pelo caminho da cruz e das condições humanitárias que o levaram à morte numa cruz. Assim, a cruz se tornou um ícone para lembrar um caminho de vida que permite Deus estar no meio de nós.

            A encarnação do modo de ser de Jesus Cristo aponta não para um reinado tirânico de precedência, mas, para um modo de reconciliação entre as pessoas e com Deus. É mais do que uma grandeza meramente humana e de ambições ideológicas dos diferentes caminhos para chegar às honras de poder reinar sobre outros. Trata-se mais da adesão para um caminho humano capaz de vencer o ódio e a divisão em torno de interesses quer pessoais ou grupais.

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