sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Discussões sobre questões de fé



            Como nos tempos de Jesus Cristo, persistem, em nossos dias, muitas questões polêmicas a respeito do que esperamos a partir da nossa fé. E quando o assunto envolve realidades que vão para além da morte, o antagonismo pode não só referir-se a outros credos, ou a credos cristãos diferentes, mas, também separa em posturas opostas a visão de movimentos e pastorais no interior de uma comunidade cristã.
             Em muitos destas agremiações os desencontros começam a decorrer, já a partir de uma concepção teológica, quer tradicional, mais fundamentalista, essencialista ou aberta aos novos tempos, quer hermenêutica ou de perspectiva da teologia evangélica norte-americana a ocupar espaços amplos no interior da Igreja Católica.
            Um caso ilustrativo, do tempo de Cristo, foi a da tradição dos saduceus. Eles queriam ser literalmente fiéis a costumes do Pentateuco, em vigência há muitos séculos. Em razão da crença, eles valorizavam apenas a ressurreição biológica como prolongamento da vida, isto é, que a vida de uma pessoa prosseguiria na geração dos filhos e se ampliaria para a descendência. Por isso, eram rígidos na observação de gerar filhos e, caso alguma mulher ficasse viúva antes de gerar filhos, ela deveria ser assumida por um cunhado e ter muitos filhos com ele.
            Jesus apresentou uma perspectiva totalmente inusitada e nada atrelada às questões biológicas, nem tampouco as relativas a recompensas por terem gerado muitos filhos e assim repousar em paz, mas, reforçou uma crença que se desenvolveu algumas décadas antes a partir da violenta perseguição dos selêucidas feita aos judeus e que matou muitos jovens que ainda não tinham gestado filhos. Neste caso, Deus seria injusto por permitir que sua vida não se expandisse numa descendência. Os macabeus sobreviventes da perseguição selêucida deduziram que todas as pessoas iriam ressuscitar depois da morte, porém, nem todas para a vida mais plena, pois, se a vida daqui da Terra tivesse sido maldosa, iriam para a condenação eterna.
             Como Jesus justificou esta perspectiva, abriu polêmicas para além dos fariseus, uma vez que, também a aristocracia sacerdotal se fundamentava no conceito antigo do Pentateuco, porque este lhes oferecia uma série de vantagens. Na polemização, Jesus mostrou que a concepção de ressurreição dos saduceus e sacerdotes estava desfocada, uma vez que não se trata de reativação da vida que se levava aqui na Terra, mas, uma realidade de radical transformação da vida. É como uma semente plantada. Aparentemente, ela apodrece, mas a vida desta semente se transforma profundamente com possibilidade de gerar muitas sementes...

            Oxalá que em nossos dias os interesses não se sobreponham às virtualidades de transformações profundas para experiências de fé mais elevadas e respeitosas e dignas de uma esperança na qual se possa apostar a razão última da vida!

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