Como nos
tempos de Jesus Cristo, persistem, em nossos dias, muitas questões polêmicas a
respeito do que esperamos a partir da nossa fé. E quando o assunto envolve
realidades que vão para além da morte, o antagonismo pode não só referir-se a
outros credos, ou a credos cristãos diferentes, mas, também separa em posturas
opostas a visão de movimentos e pastorais no interior de uma comunidade cristã.
Em muitos destas agremiações os desencontros
começam a decorrer, já a partir de uma concepção teológica, quer tradicional,
mais fundamentalista, essencialista ou aberta aos novos tempos, quer
hermenêutica ou de perspectiva da teologia evangélica norte-americana a ocupar
espaços amplos no interior da Igreja Católica.
Um caso ilustrativo,
do tempo de Cristo, foi a da tradição dos saduceus. Eles queriam ser
literalmente fiéis a costumes do Pentateuco, em vigência há muitos séculos. Em
razão da crença, eles valorizavam apenas a ressurreição biológica como
prolongamento da vida, isto é, que a vida de uma pessoa prosseguiria na geração
dos filhos e se ampliaria para a descendência. Por isso, eram rígidos na
observação de gerar filhos e, caso alguma mulher ficasse viúva antes de gerar
filhos, ela deveria ser assumida por um cunhado e ter muitos filhos com ele.
Jesus
apresentou uma perspectiva totalmente inusitada e nada atrelada às questões
biológicas, nem tampouco as relativas a recompensas por terem gerado muitos
filhos e assim repousar em paz, mas, reforçou uma crença que se desenvolveu
algumas décadas antes a partir da violenta perseguição dos selêucidas feita aos
judeus e que matou muitos jovens que ainda não tinham gestado filhos. Neste
caso, Deus seria injusto por permitir que sua vida não se expandisse numa
descendência. Os macabeus sobreviventes da perseguição selêucida deduziram que
todas as pessoas iriam ressuscitar depois da morte, porém, nem todas para a
vida mais plena, pois, se a vida daqui da Terra tivesse sido maldosa, iriam
para a condenação eterna.
Como Jesus justificou esta perspectiva, abriu
polêmicas para além dos fariseus, uma vez que, também a aristocracia sacerdotal
se fundamentava no conceito antigo do Pentateuco, porque este lhes oferecia uma
série de vantagens. Na polemização, Jesus mostrou que a concepção de ressurreição
dos saduceus e sacerdotes estava desfocada, uma vez que não se trata de
reativação da vida que se levava aqui na Terra, mas, uma realidade de radical
transformação da vida. É como uma semente plantada. Aparentemente, ela
apodrece, mas a vida desta semente se transforma profundamente com
possibilidade de gerar muitas sementes...
Oxalá que em
nossos dias os interesses não se sobreponham às virtualidades de transformações
profundas para experiências de fé mais elevadas e respeitosas e dignas de uma
esperança na qual se possa apostar a razão última da vida!
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