É próprio da
condição humana o desejo de descobrir algo melhor e mais apropriado para as
condições de convivência. No desejo de propiciar o melhor, surge,
simultaneamente, o fenômeno sectário, isto é, considera-se o novo intuído ou
descoberto, como absolutamente melhor quanto o que vem sendo feito sob outras
motivações.
Um dos
componentes de persuasão para convencer os outros é o do apelo exagerado para
assegurar que a novidade inventada ou assumida é radicalmente superior e muito
melhor do que tudo quanto está sendo feito. Neste processo, tende-se a cair com
facilidade no campo do fanatismo. Exagera-se na argumentação e se quer apressar
a adesão de outras pessoas.
O campo
religioso não está isento do risco de fanatismos. O apóstolo São Paulo constatou
este fenômeno de exageros por parte da comunidade de Tessalônica. Duas
tendências afastavam a comunidade do que era essencial no seguimento de Cristo.
Uma, sustentava que Jesus não retornaria à condição humana; e outra, assegurava
que esta volta estaria na iminência de acontecer a qualquer instante e sem
demora. Se um fanatismo relativizava qualquer inquietação diante do jeito que
vivia, o outro apavorava por medos. Este levava a tal pânico que muitos
cristãos já nem se preocupavam nem com os trabalhos cotidianos, nem com a vida
a ser alargada e nem mesmo com a construção de um reino segundo Jesus Cristo.
Esperavam passivamente que Jesus já viria condecora-los com o melhor prêmio nos
céus.
Os dois
fanatismos da comunidade de Tessalônica não estavam vinculados à boa notícia de
Jesus Cristo que convocava a agir positivamente no meio das dificuldades de
organização da vida.
A real
missão decorrente do anúncio de Jesus Cristo, ao ficar relegada, levava à perda
das características peculiares da comunidade de Tessalônica. Este fato, tão
antigo, nos mostra a necessidade de amadurecimento da fé em nossos dias, pois,
muitos fanatismos em torno de aspectos irrelevantes e muito distantes do reino
anunciado por Jesus Cristo, são colocados como essenciais à vivência da fé. E
como tem gente sendo conduzido por um cabresto de fanatismos em movimentos e
pastorais das comunidades cristãs!
Por isso, é
bom lembrar um texto muito interessante do evangelho de Lucas (19,9-10).
Enquanto muitos foram levados por outros a chegar perto de Jesus, Zaqueu,
consciente de seus erros, sobretudo, o de cobrar mais do que lhe era permitido,
ao encantar-se com o que ouvia falar de Jesus Cristo, e, ao saber que ele
passaria numa estrada, quis ser visto por Jesus e, por isso, subiu numa árvore
da beira do caminho para lhe partilhar seus limites e o bom desejo de
alinhar-se ao trabalho de Jesus Cristo. Deste apelo resultou um jantar muito
importante: o do pecador que se sente agraciado e perdoado pelo amor de Deus e
se transforma radicalmente para ser melhor do que tinha sido até aquele
momento.
Muito mais
valioso do que o atrelamento passivo e dependente de fanáticos, o processo de
conversão de Zaqueu abriu-lhe a perspectiva de ser mais reto, mais honesto, e
mais humanitário. Este novo modo de ser foi radicalmente diferente do que um
atrelamento a fanáticos, mais interessados pelos seus planos do que nos planos
do amor de Deus.
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