sábado, 15 de outubro de 2016

Oração



            Em progressiva decrepitude, a capacidade de rezar está, cada dia, menos prestigiada, porque muitos desejos são satisfeitos com dinheiro e muitas alterações orgânicas e psíquicas são saradas através de componentes químicos e de terapias.
            O povo do primeiro testamento da Bíblia costumava repetir certos fatos marcantes para despertar nas gerações novas a capacidade de perseverar na oração. Um destes fatos salientava um momento do Moisés, pobre e humilde, mas crente de que Deus o ajudaria a vencer os amalecitas, a fim de conseguir terra para o seu povo. O aspecto mais relevante era o de que Moisés rezava insistentemente a Deus para que amparasse Josué, seu general em aguerrida luta (Ex. 17,8-13).
            A narrativa salienta que Moisés rezava de mãos erguidas ao céu para implorar a ajuda de Deus. Como os músculos não suportavam longo tempo os braços erguidos, e diante da natural propensão de relaxamento, ele os baixava, e, então, os amalecitas pareciam adquirir mais força na batalha.
            Conta-se que ficou um dia todo de braços erguidos clamando ajuda de Deus. Até colocaram pedras para escorar os braços e, pessoas ao seu lado, ajudavam a escorar os braços erguidos.
            A conclusão foi a de que a guerra foi vencida pela insistente e continuada oração de Moisés. Tratava-se de uma maneira que visava despertar nas pessoas o cultivo permanente e regular de oração.
            Bem sabemos que a oração pode apresentar-se de formas muito variadas: pode ser de petição humilde diante de erros e fracassos, de louvor por conquistas pessoais ou coletivas, de gratuidade por experiências satisfatórias, de silêncio para acolher o que Deus mais possa esperar da nossa parte, ou também a apresentação a Deus do estado de alma: dor, indignação, gratuidade, revolta, compaixão, leveza e tantas outras situações impactantes.
            Jesus Cristo também deixou evidente a importância do perseverar na oração. Lucas retransmitiu do ensinamento de Jesus, que Ele um dia contou a história de uma viúva insistente que não parava de insistir diante de juiz a fim de que fosse justo com ela, até que este a atendeu. Só este aspecto de justiça, em nossos dias, carece não só de oração, mas, também, de alguma ação que possa fazer algo a favor de uma organização humana menos injusta.

            Que quadro de fé a historinha de Jesus tinha pela frente nas primeiras comunidades cristãs? Certamente o vacilo na regularidade da oração, porque já pensavam no fim do mundo e esperavam passivamente que Deus viesse implantar a almejada justiça. Hoje, tanta gente se indigna contra a corrupção e a injustiça; no entanto, vemos pouca gente fazer algo efetivo e insistente pelo crescimento real de mais justiça, tal como procedeu a pobre viúva injustiçada, da narrativa de Lucas (18, 1-8).

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