sexta-feira, 7 de abril de 2017

Ressurreição e vida



            Mesmo que não se queira ficar no maniqueísmo de supor a existência de duas forças contrárias agindo em torno da nossa vida, - a do bem e a do mal, - constatamos uma misteriosa inclinação para o avesso do que pode favorecer mais qualidade de vida.
            De um lado temos um avanço notável de estudos e avanços científicos; de pesquisas e inovações para tratar da melhor forma os desequilíbrios da saúde. Em torno da defesa da vida inventam-se aparelhos, tratamentos, transplantes, enxertos e fantásticas terapias para assegurar saúde normal e boa qualidade de vida. Com satisfação, constatamos largos avanços na medicina preventiva que já vem demonstrando a eficácia de prolongar a vida para muito além do que era comum há algumas décadas atrás.
            Por outro lado, constatamos, com pesar, a corrupção que causa mortes, a exploração da doença e o acesso seletivo que exclui os empobrecidos da sociedade e os deixa ao léu da própria sorte. Mais do que isto, causa estupefação a verdadeira indústria de morte: fabricação de armas, de componentes químicos para matar, de organizações de aborto, de falsificação de remédios para obtenção de maiores lucros, e das hediondas tragédias humanas produzidas por interesses econômicos, celebrados como boa administração. O pior é que se perde gradualmente a sensibilidade com os que são mortos todos os dias pelas razões mais estúpidas que se possam pensar.
            Frente ao quadro perverso contra a vida, parece que apenas celebramos a sorte de ainda continuar vivos e vamos aceitando a guerra contra a vida como algo natural e feito por Deus. Apenas choramos e lamentamos a morte dos entes próximos. Assim, parece que a morte é a linguagem muito mais convincente do que a da preservação da vida.
            Parece bem difícil aprender de experiências humanas e religiosas muito antigas. Ezequiel, exilado com seu povo na Babilônia, reagiu ao ditado popular que circulava naquela gente oprimida: os ossos já secaram e as esperanças já se extinguiram. Já não havia mais alento para algo reconfortante. Por isso, Ezequiel valeu-se de uma imagem forte: Deus seria capaz de abrir as sepulturas, juntar os ossos, envolvê-los com músculos, para que pudessem andar novamente, e, regressar à sua terra... (Ez 37, 12-14). Em outras palavras, a vida daquela gente poderia renovar-se completamente.

            O evangelista São João, refletiu sobre os sinais manifestados por Jesus Cristo para assegurar que seu jeito de vida não terminaria com a morte e esta deixaria de ser a última palavra sobre a existência. A palavra de Jesus assegura a vida para além da morte. Diante da morte de Lázaro (Jo 11, 1-45) enfatiza-se que Jesus é o dom escatológico que assegura a vida plena para além da morte. No lógion “Eu sou a ressurreição e a vida”, fica evidente que a adesão ao jeito de Cristo faz valorizar o dom da vida. Oxalá possa prevalecer e alargar-se uma hegemonia da vida sobre a morte. Jesus Cristo se revelou altamente humanitário diante da dor que os familiares de Lázaro sentiram com sua morte e os fez crer na vida. Mais do que juntar ossos e músculos, o sentido da vida, move para além da morte.

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