Mesmo que
não se queira ficar no maniqueísmo de supor a existência de duas forças
contrárias agindo em torno da nossa vida, - a do bem e a do mal, - constatamos
uma misteriosa inclinação para o avesso do que pode favorecer mais qualidade de
vida.
De um lado
temos um avanço notável de estudos e avanços científicos; de pesquisas e
inovações para tratar da melhor forma os desequilíbrios da saúde. Em torno da
defesa da vida inventam-se aparelhos, tratamentos, transplantes, enxertos e
fantásticas terapias para assegurar saúde normal e boa qualidade de vida. Com
satisfação, constatamos largos avanços na medicina preventiva que já vem
demonstrando a eficácia de prolongar a vida para muito além do que era comum há
algumas décadas atrás.
Por outro
lado, constatamos, com pesar, a corrupção que causa mortes, a exploração da
doença e o acesso seletivo que exclui os empobrecidos da sociedade e os deixa
ao léu da própria sorte. Mais do que isto, causa estupefação a verdadeira
indústria de morte: fabricação de armas, de componentes químicos para matar, de
organizações de aborto, de falsificação de remédios para obtenção de maiores
lucros, e das hediondas tragédias humanas produzidas por interesses econômicos,
celebrados como boa administração. O pior é que se perde gradualmente a
sensibilidade com os que são mortos todos os dias pelas razões mais estúpidas
que se possam pensar.
Frente ao
quadro perverso contra a vida, parece que apenas celebramos a sorte de ainda
continuar vivos e vamos aceitando a guerra contra a vida como algo natural e
feito por Deus. Apenas choramos e lamentamos a morte dos entes próximos. Assim,
parece que a morte é a linguagem muito mais convincente do que a da preservação
da vida.
Parece bem
difícil aprender de experiências humanas e religiosas muito antigas. Ezequiel,
exilado com seu povo na Babilônia, reagiu ao ditado popular que circulava
naquela gente oprimida: os ossos já secaram e as esperanças já se extinguiram.
Já não havia mais alento para algo reconfortante. Por isso, Ezequiel valeu-se
de uma imagem forte: Deus seria capaz de abrir as sepulturas, juntar os ossos,
envolvê-los com músculos, para que pudessem andar novamente, e, regressar à sua
terra... (Ez 37, 12-14). Em outras palavras, a vida daquela gente poderia
renovar-se completamente.
O
evangelista São João, refletiu sobre os sinais manifestados por Jesus Cristo
para assegurar que seu jeito de vida não terminaria com a morte e esta deixaria
de ser a última palavra sobre a existência. A palavra de Jesus assegura a vida
para além da morte. Diante da morte de Lázaro (Jo 11, 1-45) enfatiza-se que
Jesus é o dom escatológico que assegura a vida plena para além da morte. No
lógion “Eu sou a ressurreição e a vida”, fica evidente que a adesão ao jeito de
Cristo faz valorizar o dom da vida. Oxalá possa prevalecer e alargar-se uma
hegemonia da vida sobre a morte. Jesus Cristo se revelou altamente humanitário
diante da dor que os familiares de Lázaro sentiram com sua morte e os fez crer
na vida. Mais do que juntar ossos e músculos, o sentido da vida, move para além
da morte.
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