sexta-feira, 21 de abril de 2017

A beneficência do bem comum




            O sistema de vida que nos envolve aponta para um elevado patamar de felicidade, possível de ser haurido pela aquisição de posses e de bens materiais.
            Obcecados na perseguição desta primazia de bem-estar, somos também induzidos a pensar que podemos ser felizes sozinhos. Basta ter bens. Desta perspectiva conquistadora, decorre que não convém gastar tempo com outros, a fim de ajuda-los ou socorrê-los, pois, tal atividade é considerada literalmente inócua para o desfrute da felicidade.
            Da memória dos primeiros seguidores de Jesus Cristo sabemos que uma comunidade primitiva, a de Jerusalém, levou à radicalidade a convicção de que a proposta de Jesus Cristo para a organização da vida era digna de ser vivenciada.
             A cordialidade, aprendida de Cristo, levou os membros daquela comunidade a experimentar um clima muito satisfatório ao perceber que a ajuda, ou alegria causada a alguém, retornava com grande sensação de bem-estar pelo gesto perpetrado. Na imagem da partilha do pão como sentido da vida, sobravam cestos cheios. Em outro sentido, a constatação de que algo de bom feito para alguma pessoa aumentava a experiência gratificante pelo bem praticado.
            Ao nosso tempo parece constituir uma anormalidade pensar em bem comum. Afinal, é o avesso do que se valoriza sob o sistema capitalista. No entanto, convém lembrar que o procedimento da comunidade dos seguidores de Jesus Cristo, em Jerusalém, tornou-se um fermento que despertou uma simpatia enorme e uma curiosidade em torno da possibilidade de vivenciar algo parecido, ainda mais, diante do imperialismo romano, altamente espoliador.
            O fato narrado em Atos dos Apóstolos a respeito da comunidade de Jerusalém salienta que as celebrações da memória de Jesus Cristo levaram seus membros a se tornarem muito solidários e que colocavam tudo em comum (At 2, 42-47).
            Mais do que descrição jornalística de um estado perfeito, o texto revela que a eucaristia levou aquela comunidade a viver uma alegria contagiante e uma magnanimidade de grupo. Com certeza, são traços dignos de serem invejados em nossos dias, pois, neles predomina o individualismo, impregnado de tantos problemas existenciais com progressiva perda de sentido para a vida. Basta lembrar a onda da “Baleia Azul” e coisas similares que afetam incontáveis jovens.
            Na recordação da partilha eucarística da comunidade de Jerusalém, renascem evidências prodigiosas de uma eficaz ação evangelizadora. A celebração da fé antecipadora de outro mundo possível, e, a ação em vista de sua vigência, pode constituir-se em vigoroso fermento para a extraordinária expansão apostólica também em nossos dias.
             Assim, a eficácia da vivência eucarística produzirá, além do bom sentimento de pertença, uma coesão dinâmica e atraente para um modo de viver que dá sentido muito mais profundo à existência do que a velha prática sacrificialista de tempos anteriores a Jesus Cristo.

            

Nenhum comentário:

Postar um comentário

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...