O
sistema de vida que nos envolve aponta para um elevado patamar de felicidade,
possível de ser haurido pela aquisição de posses e de bens materiais.
Obcecados
na perseguição desta primazia de bem-estar, somos também induzidos a pensar que
podemos ser felizes sozinhos. Basta ter bens. Desta perspectiva conquistadora, decorre
que não convém gastar tempo com outros, a fim de ajuda-los ou socorrê-los, pois,
tal atividade é considerada literalmente inócua para o desfrute da felicidade.
Da
memória dos primeiros seguidores de Jesus Cristo sabemos que uma comunidade
primitiva, a de Jerusalém, levou à radicalidade a convicção de que a proposta
de Jesus Cristo para a organização da vida era digna de ser vivenciada.
A cordialidade, aprendida de Cristo, levou os
membros daquela comunidade a experimentar um clima muito satisfatório ao
perceber que a ajuda, ou alegria causada a alguém, retornava com grande
sensação de bem-estar pelo gesto perpetrado. Na imagem da partilha do pão como
sentido da vida, sobravam cestos cheios. Em outro sentido, a constatação de que
algo de bom feito para alguma pessoa aumentava a experiência gratificante pelo
bem praticado.
Ao
nosso tempo parece constituir uma anormalidade pensar em bem comum. Afinal, é o
avesso do que se valoriza sob o sistema capitalista. No entanto, convém lembrar
que o procedimento da comunidade dos seguidores de Jesus Cristo, em Jerusalém,
tornou-se um fermento que despertou uma simpatia enorme e uma curiosidade em
torno da possibilidade de vivenciar algo parecido, ainda mais, diante do
imperialismo romano, altamente espoliador.
O
fato narrado em Atos dos Apóstolos a respeito da comunidade de Jerusalém
salienta que as celebrações da memória de Jesus Cristo levaram seus membros a
se tornarem muito solidários e que colocavam tudo em comum (At 2, 42-47).
Mais
do que descrição jornalística de um estado perfeito, o texto revela que a
eucaristia levou aquela comunidade a viver uma alegria contagiante e uma
magnanimidade de grupo. Com certeza, são traços dignos de serem invejados em
nossos dias, pois, neles predomina o individualismo, impregnado de tantos
problemas existenciais com progressiva perda de sentido para a vida. Basta
lembrar a onda da “Baleia Azul” e coisas similares que afetam incontáveis
jovens.
Na
recordação da partilha eucarística da comunidade de Jerusalém, renascem evidências
prodigiosas de uma eficaz ação evangelizadora. A celebração da fé antecipadora
de outro mundo possível, e, a ação em vista de sua vigência, pode constituir-se
em vigoroso fermento para a extraordinária expansão apostólica também em nossos
dias.
Assim, a eficácia da vivência eucarística
produzirá, além do bom sentimento de pertença, uma coesão dinâmica e atraente
para um modo de viver que dá sentido muito mais profundo à existência do que a
velha prática sacrificialista de tempos anteriores a Jesus Cristo.
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