Abordar o
tema de pais, ou seus procedimentos, equivale a uma tarefa de incontáveis
possibilidades ambíguas e até contraditórias. Há os que se superaram
extraordinariamente para além do que receberam na educação infantil, doméstica
e coletiva, e encantam pela serenidade e pela segurança. Há os que eram muito
bons e amáveis, mas, deixaram-se induzir por ambientes e amizades para caminhos
totalmente opostos, perversos e degradantes.
Há pais que vivem, segundo aprenderam, para
serem meros machões e valentões. Há pais que tiveram impactos de entre-ajuda e
deram uma guinada fundamental na vida, apesar de terem memória, de ciclos do
seu passado com grandes abusos de si e de outras pessoas. Há também pais que
são incomparavelmente piores do que tudo quanto de ruim se possa pensar de uma
pessoa; e ainda existem os pais muito bons com seus amigos, mas,
simultaneamente, péssimos maridos para as esposas e de total desleixo para com seus
filhos. Para quem conviveu com um pai preocupado com a vida da família, com
desvelo para ser amparo e segurança, o sentimento em relação a ele, certamente
será muito distinto.
Mesmo que falar
de pai pode constituir assunto tão amplo e vago quanto falar de horóscopo:
qualquer coisa que dele se aponte, confere com alguns traços ou gestos de algum
momento. Mesmo assim, posso bendizer a Deus pelos 90 anos do meu pai e por tudo
quanto representa para mim e para meus irmãos e irmãs e para a mãe. Ele não
teve nenhuma peculiaridade especial de formação psicológica, técnica e
pedagógica para ser pai de família, mas, do que aprendeu do seu bloco familiar,
acrescido de humildade e participação regular numa comunidade de pertença, permitiu
que constituísse uma família numerosa e que se sente próxima dele.
Aprendeu uma
postura muito valiosa que foi a colocar limites para seus desejos e soube
cobrar limites dos filhos para o respeito do que havia sido combinado para a
convivência familiar. Assim, longe da truculência, quer em casa ou no ambiente
da comunidade, soube elevar-se pela prestimosidade de serviços, pelo bom nome e
pela honra; mas, também, pelo modo de cultivar amizades.
Ele se
confirmou a partir de uma vida simples e discreta. Foi, contudo, um lutador que
venceu muitos sofrimentos, nos imprevistos na saúde de membros da família e nas
lidas agrícolas, que, tantas dúzias de décadas não produziram o almejado e
quando produziram além do esperado, simplesmente não tinha preço de venda. Seu
sofrimento assimilado, no entanto, aponta ainda hoje a firmeza da fé, com um
olhar sereno para o futuro. Talvez por isso encontre tantas forças para estar
de bem com a vida e satisfeito com o que aconteceu em seu passado. Constitui,
pelo menos para mim, um sinal dos tempos, a apontar que há modos distintos e
melhores do que o cego determinismo da obsessão pela acumulação de riqueza.
Assim, aparece grata a emoção para dizer, - mesmo da distância, - “feliz dia
dos pais”!
Muito bom João, como pai de dois filhos, é reflexivo seu texto. Importante o legado que construímos com nossos filhos como o exemplo de seu pai!
ResponderExcluirMuito bom João, como pai de dois filhos, é reflexivo seu texto. Importante o legado que construímos com nossos filhos como o exemplo de seu pai!
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