sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Pais e suas opções na vida



            Abordar o tema de pais, ou seus procedimentos, equivale a uma tarefa de incontáveis possibilidades ambíguas e até contraditórias. Há os que se superaram extraordinariamente para além do que receberam na educação infantil, doméstica e coletiva, e encantam pela serenidade e pela segurança. Há os que eram muito bons e amáveis, mas, deixaram-se induzir por ambientes e amizades para caminhos totalmente opostos, perversos e degradantes.
             Há pais que vivem, segundo aprenderam, para serem meros machões e valentões. Há pais que tiveram impactos de entre-ajuda e deram uma guinada fundamental na vida, apesar de terem memória, de ciclos do seu passado com grandes abusos de si e de outras pessoas. Há também pais que são incomparavelmente piores do que tudo quanto de ruim se possa pensar de uma pessoa; e ainda existem os pais muito bons com seus amigos, mas, simultaneamente, péssimos maridos para as esposas e de total desleixo para com seus filhos. Para quem conviveu com um pai preocupado com a vida da família, com desvelo para ser amparo e segurança, o sentimento em relação a ele, certamente será muito distinto.
            Mesmo que falar de pai pode constituir assunto tão amplo e vago quanto falar de horóscopo: qualquer coisa que dele se aponte, confere com alguns traços ou gestos de algum momento. Mesmo assim, posso bendizer a Deus pelos 90 anos do meu pai e por tudo quanto representa para mim e para meus irmãos e irmãs e para a mãe. Ele não teve nenhuma peculiaridade especial de formação psicológica, técnica e pedagógica para ser pai de família, mas, do que aprendeu do seu bloco familiar, acrescido de humildade e participação regular numa comunidade de pertença, permitiu que constituísse uma família numerosa e que se sente próxima dele.
            Aprendeu uma postura muito valiosa que foi a colocar limites para seus desejos e soube cobrar limites dos filhos para o respeito do que havia sido combinado para a convivência familiar. Assim, longe da truculência, quer em casa ou no ambiente da comunidade, soube elevar-se pela prestimosidade de serviços, pelo bom nome e pela honra; mas, também, pelo modo de cultivar amizades.
            Ele se confirmou a partir de uma vida simples e discreta. Foi, contudo, um lutador que venceu muitos sofrimentos, nos imprevistos na saúde de membros da família e nas lidas agrícolas, que, tantas dúzias de décadas não produziram o almejado e quando produziram além do esperado, simplesmente não tinha preço de venda. Seu sofrimento assimilado, no entanto, aponta ainda hoje a firmeza da fé, com um olhar sereno para o futuro. Talvez por isso encontre tantas forças para estar de bem com a vida e satisfeito com o que aconteceu em seu passado. Constitui, pelo menos para mim, um sinal dos tempos, a apontar que há modos distintos e melhores do que o cego determinismo da obsessão pela acumulação de riqueza. Assim, aparece grata a emoção para dizer, - mesmo da distância, - “feliz dia dos pais”!


2 comentários:

  1. Muito bom João, como pai de dois filhos, é reflexivo seu texto. Importante o legado que construímos com nossos filhos como o exemplo de seu pai!

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  2. Muito bom João, como pai de dois filhos, é reflexivo seu texto. Importante o legado que construímos com nossos filhos como o exemplo de seu pai!

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