O que pode
significar para um cristão a saudação a Maria, mãe de Jesus Cristo, com o
título de assunta ao céu?
Mais do que
uma defesa apologética contra o pensamento moderno, técnico e cientificista,
trata-se de uma experiência do âmbito religioso. Significa reconhecer na
primeira formadora de comunidade cristã, em torno da mensagem do seu Filho, a
grande expectativa da comunidade cristã e também de cada pessoa católica de que
é possível transcender-se, elevar-se acima de problemas e de contingências, e,
alcançar um nível de vida identificado como céu.
Na gestação
da Igreja, a imagem pessoal de Maria, representava certamente o anseio do que a
comunidade esperava encontrar através da vivência da fé em Jesus Cristo. Mesmo
diante da necessidade de refugiar-se no deserto, devido às intensas
perseguições do império romano, celebravam os primeiros cristãos a certeza da
vitória em torno do salvador.
O
evangelista Lucas, mais do que uma narrativa histórica, fez uma leitura
teológica, para salientar a importante pedagogia de Deus presente nos
acontecimentos em torno de Jesus Cristo e de sua mãe. Assim como Jesus nasceu
de uma mulher simples, humilde e serviçal, Deus já teria dado sinais similares através
de algumas mulheres do primeiro testamento, pois elas, como Raquel, Ester,
Judite e diversas outras, agiram junto a seus maridos governantes para que
mudassem planos diabólicos que se mostravam frontalmente contrárias aos anseios
de vida do povo.
Portanto,
importa muito o lugar por onde Deus deu efetivos sinais da sua bondade: não foi
a partir de damas nobres, de rainhas opulentas e vaidosas, nem do luxo dos
palácios e nem tampouco da precedência de famílias régias e privilegiadas para
os grandes acontecimentos sociais. Lucas percebeu que as coisas importantes de
Deus na pela condição humana, apresentavam uma peculiaridade muito especial e
aconteceram dentro de um mesmo itinerário: não de cima para baixo (do poder,
da honra e da precedência), mas, pelo contrário, de baixo para cima, ou seja, emergiram
da pequenez humana e da humildade colocada a serviço para o bem de outros.
Assim Lucas constatou que os grandes sinais da parte de Deus pendiam a se
manifestar de baixo para cima.
Esta
elevação da qualidade humana, que a mãe de Jesus tão bem expressou, para
apontar um céu além da contingência cruel de um tempo difícil e impregnado de
prepotência humana, serviu como substrato para a comunidade cristã primitiva, e
representa, ainda hoje, nossa grande esperança cristã: que deste frágil
mundo podemos ascender e elevar-nos a um
nível de céu.
Longe das
medalhas, das coroas de poder e das honrarias advenientes da superação dos
outros, seja pela disputa da força e destreza física, ou pela astúcia de
impor-se sobre os demais, o perfil de Maria aponta para uma ascensão de um
caminho que, atualmente, desfruta de baixíssima cotação social: o daquela moça
pobre, simples, humilde e mãe, - chamada Maria, - no modo como agiu para o
bem-comum do seu tempo. Por conseguinte, mais do que esnobação triunfalista de
muitos rituais em torno da coroação da poderosa deusa, a assunção de Maria é a
festa da nossa esperança: que a nossa pequenez pode elevar-se até Deus!
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