sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Humildade e gratuidade



            As duas virtudes destacadas por Jesus Cristo encontram-se, com certeza, em momento histórico de baixíssima cotação. O ímpeto social e coletivo aponta precipuamente para o contrário: fazer qualquer coisa para tornar-se visível e valer-se de quaisquer mediações que ajudem para a elevação da autorreferencialidade.
            Parece que especialmente em tempos de crise de convivência urbana é que voltam mais as crises em torno da capacidade de se portar de forma modesta e acolhedora diante das pessoas. Como já acontecia no tempo de Cristo, a decadência urbana repete cada dia mais a centralidade da precedência a qualquer preço, a tal ponto que posturas de humildade e de gratuidade se tornam tão estranhas que até parecem ser anormais.
            E como é desconfortável ter que ir a uma casa e ter que preencher o tempo todo ouvindo bajulações para enaltecer o anfitrião ou seu convidado especial, ao lado de outros que disputam a proximidade para aparecer na maior evidência possível. Segundo o evangelista Lucas (14, 1.7-14) Jesus soube tocar com sutileza nesta doença social da precedência. E entre as historinhas que Jesus contava, ele ressaltava que no entorno da mesa deveria prevalecer uma expressão de amizade e não a dos interesses pela prática de rituais elogiosos e de etiquetas em torno da imagem de alguém.
            Jesus relativizou a precedência dos lugares de destaque e das honrarias em torno do lugar mais proeminente. E para surpresa, sugeriu não convidar pessoas do mesmo padrão para a festa com a expectativa de receber pelo menos outra festa similar como retribuição. Jesus salientou, ao mesmo tempo, a grandeza da gratuidade no sentido de oferecer algo sem ter em vista o retorno de algo similar em termos de qualidade e de ostentação.
            A proximidade de eleições municipais nos coloca muito por dentro deste clima bajulador em que o centro da conversa constitui a trocas de gentilezas, com muito mérito fantasioso e com muitas atribuições exageradas. O elogio apresenta sempre uma segunda intenção.
            Outra surpresa deixada por Jesus Cristo foi a de estimular o convite a pessoas que não tem o que retribuir. Ao se fazer festa para elas, não se considera algum mérito, mas, destaca-se o valor expresso à vida destas pessoas. Não cabe, pois, manipulá-las para o interesse subentendido de que se submetam a alguém que está sendo colocado em evidência. Trata-se de um amor gratuito, como foi aquele amor manifestado por Deus. Assim, quer sejam pessoas próximas por parentesco ou as consideradas pelo valor da sua existência, quando convidadas para algum momento festivo ou de valorização de suas vidas, sempre ocorre algo que se aproxima do amor de Deus. Tanto o receber quanto o ofertar algo para alguém, implica em humildade e gratuidade.

            

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