As duas
virtudes destacadas por Jesus Cristo encontram-se, com certeza, em momento
histórico de baixíssima cotação. O ímpeto social e coletivo aponta
precipuamente para o contrário: fazer qualquer coisa para tornar-se visível e
valer-se de quaisquer mediações que ajudem para a elevação da
autorreferencialidade.
Parece que
especialmente em tempos de crise de convivência urbana é que voltam mais as
crises em torno da capacidade de se portar de forma modesta e acolhedora diante
das pessoas. Como já acontecia no tempo de Cristo, a decadência urbana repete cada
dia mais a centralidade da precedência a qualquer preço, a tal ponto que
posturas de humildade e de gratuidade se tornam tão estranhas que até parecem
ser anormais.
E como é
desconfortável ter que ir a uma casa e ter que preencher o tempo todo ouvindo
bajulações para enaltecer o anfitrião ou seu convidado especial, ao lado de
outros que disputam a proximidade para aparecer na maior evidência possível.
Segundo o evangelista Lucas (14, 1.7-14) Jesus soube tocar com sutileza nesta
doença social da precedência. E entre as historinhas que Jesus contava, ele
ressaltava que no entorno da mesa deveria prevalecer uma expressão de amizade e
não a dos interesses pela prática de rituais elogiosos e de etiquetas em torno
da imagem de alguém.
Jesus relativizou
a precedência dos lugares de destaque e das honrarias em torno do lugar mais
proeminente. E para surpresa, sugeriu não convidar pessoas do mesmo padrão para
a festa com a expectativa de receber pelo menos outra festa similar como
retribuição. Jesus salientou, ao mesmo tempo, a grandeza da gratuidade no
sentido de oferecer algo sem ter em vista o retorno de algo similar em termos
de qualidade e de ostentação.
A proximidade
de eleições municipais nos coloca muito por dentro deste clima bajulador em que
o centro da conversa constitui a trocas de gentilezas, com muito mérito
fantasioso e com muitas atribuições exageradas. O elogio apresenta sempre uma
segunda intenção.
Outra
surpresa deixada por Jesus Cristo foi a de estimular o convite a pessoas que
não tem o que retribuir. Ao se fazer festa para elas, não se considera algum
mérito, mas, destaca-se o valor expresso à vida destas pessoas. Não cabe, pois,
manipulá-las para o interesse subentendido de que se submetam a alguém que está
sendo colocado em evidência. Trata-se de um amor gratuito, como foi aquele amor
manifestado por Deus. Assim, quer sejam pessoas próximas por parentesco ou as
consideradas pelo valor da sua existência, quando convidadas para algum momento
festivo ou de valorização de suas vidas, sempre ocorre algo que se aproxima do
amor de Deus. Tanto o receber quanto o ofertar algo para alguém, implica em
humildade e gratuidade.
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