Nas
lidas com instâncias hierárquicas, também nas eclesiásticas, o lado messiânico facilmente
se destaca. Sob suas sombras, porém, podem sobrepor-se com facilidade e
freqüência, procedimentos não só distantes do bom-senso, mas constituir
processos de ruptura e distanciamento bem mais destacados do que os de efetiva
salvação.
Alguns mandantes são longamente
formados para as instâncias administrativas através das vias da honra familiar.
Outros se proclamam agraciados e ungidos pelos dotes divinos para o exercício
gratuito da boa condução das mansas e dóceis ovelhas da sua grei. Estes “homens
de Deus” podem, todavia, mostrar-se, tanto quanto os perversos, mais propensos
para atos de violência do que de bondade e, seus discursos enfáticos e
incisivos sobre amor, ternura, afabilidade, nem sempre conseguem desvincular-se
do prepotente autoritarismo no trato efetivo com pessoas vinculadas a eles no
serviço evangelizador.
Fala-se muito da crueldade dos policiais,
dose ladrões e dos assaltantes, mas pouco se fala da crueldade e da violência
de todas as estruturas internalizadas, sejam políticas, econômicas ou
religiosas. Bem sabemos o quanto todas as estruturas se mostram cruéis. Também
as estruturas interiores de cada pessoa, podem constituir uma borbulhenta fonte
de violência, capaz de levar a mobilizações bem mais agressivas do que se
poderia esperar.
Inquietam-nos principalmente as formas
disfarçadas de violência que se manifestam através da religião. Na aparente
oblatividade dos mais puros e lídimos sentimentos elevados a Deus, tende-se a disfarçar
a dimensão perversa que perpassa a subjetividade humana, pois, impregna-se de
múltiplas formas de capazes de incrementar atos perversos.
Segundo Luís Maldonado, o sagrado tem sido uma
das formas de avivar os instintos cruéis da humanidade.[1]
Ele mesmo chegou a indagar se o sagrado não constituía a maior fonte de
violência no mundo.
Basta observar como nas invocações da
divindade, geralmente extravasam exacerbações de violência, pois, invoca-se a
ação divina para suprir e complementar o que não se consegue vingar e alcançar
com a força das próprias mãos. Convém,
portanto, que se perceba nos presumidos mediadores de Deus, a coexistência de
formas bem sutis e sorrateiras de sacrificar e imolar, em nome das instâncias
divinas, todos quantos que não se alinham com seu pensamento único, monista e
presumidamente especial, porque diretamente delegado por Deus.
Algumas estruturas de regimes sociais
são certamente mais fáceis de serem mudadas do que as estruturas interiores.
Por isso, as aparentes fachadas do poder de certos cargos, sobretudo quando
implicam em vestes muito especiais e pomposas, não conseguem esconder e
dissuadir que também os presumidos homens de Deus podem constituir-se em importante
fonte de procedimentos marcados por perversos níveis de crueldade.
[1]
MALDONADO, Luis. La Violencia de lo
Sagrado – crueldad versus oblatividad o El ritual Del sacrifício. Salamanca:
Ediciones Sígueme, 1974, p. 08.
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