terça-feira, 5 de novembro de 2013

A cachoeira de jactância



            Nas ponderações deste taciturno ruminante, retornam sorrateiramente algumas indesejáveis, causticantes e desconfortáveis memórias de algumas horas de atividade acadêmica. As motivações foram insuficientes para assegurar uma plausível e aparente serenidade a fim de fazer prevalecer bem-estar diante do impacto indelével e marcante proporcionado pela cansativa necessidade de suportar quatro horas de tagarelice de uma professora exponencialmente exagerada na capacidade de jactar-se a si mesma. Existiria, por ventura, tormento mais inócuo e sem graça do que suportar conversas grandiloquentes de auto-elogios e que, em tudo mesclam explicações relativas aos seus inteligentes procedimentos como referenciais do que existe de mais excelso nas capacidades didático-pedagógicas?
            Ao lado das mil coisas gratificantes que gestos humanos suscitam, ocorrem impreterivelmente momentos em que precisamos suportar e até disfarçar o desconforto para salvar pelo menos algumas boas aparências. Todavia, quando o balde das repressões se enche até as bordas e começa a extravasar para todos os lados do humor, então, resta exteriorizar o desconforto pelo menos num papel a fim de propiciar a volta da harmonia de outros humores mais satisfatórios no meio das emoções e dos pensamentos. Entretanto, quando os guarda-costas das censuras e da crítica subjetiva do Super-Ego alertam sobre os efeitos de tal soltura, salta a premonição para insistir que podem implicar em perdas de espaço e de nome. Então, o pobre taciturno precisa fazer de conta que tudo está normal, bom e gostoso, e, que jogar no papel estes sentimentos remanescentes em nada muda a ordem das precedências. Resta-lhe somente disfarçar discretamente sua intolerância de aguentar pessoa gabola, arrogante e que massageia excessivamente seu próprio Ego.
            Sabe o pobre taciturno que seguidamente pessoas extrapolam um pouco sua discreta modéstia e se referem a fatos nos quais salientam alguns floreios de auto-elogios que fogem um pouco da normalidade. A tendência da reação tende a de ser de disfarce e de tolerância. Afinal, quem é tão perfeitamente humilde para não sacar algum argumento em favor de uma passada de óleo cheiroso no Ego, a fim de deixá-lo mais lustroso e inebriante?
Dentre muitas pessoas chatas, sem graça, grosseiras, estúpidas dos lançamentos da memória, nenhuma se aproxima da professora Margarida. É lisonjeira, bajuladora e altamente exagerada nos procedimentos de elogiar-se em tudo e em qualquer coisa, mas, sempre com a obcecada procrastinação de elevar-se, numa evidente mendicância de prestígio e de status mais elevado de referência.
            Seu traço peculiar é o de só argumentar a partir de escritores que já foram seus ex-professores e colaboradores em estudos de especialização, e somente os cita para explicar sua relação próxima com sua autoridade proeminente diante da vulgaridade do que os outros sabem.  Todo exemplo ilustrativo envolve elogios de alunos para mostrar como ela superou a mediocridade do comum dos professores. As redundâncias impreterivelmente envolvem o reconhecimento pela sua capacidade filosófico-pedagógica e os lugares onde sua produção encontrou eco e publicidade.

Na vontade do taciturno aflorou até mesmo o desejo de provocar uma eructação estomacal através das vias orais sobre a mencionada professora. Mas, como isto é coisa feia, tudo não passou de uma sombra inadequada do processo psíquico a intrometer-se nas regras das conveniências de conduta social.

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