Nas
ponderações deste taciturno ruminante, retornam sorrateiramente algumas
indesejáveis, causticantes e desconfortáveis memórias de algumas horas de
atividade acadêmica. As motivações foram insuficientes para assegurar uma plausível
e aparente serenidade a fim de fazer prevalecer bem-estar diante do impacto
indelével e marcante proporcionado pela cansativa necessidade de suportar
quatro horas de tagarelice de uma professora exponencialmente exagerada na
capacidade de jactar-se a si mesma. Existiria, por ventura, tormento mais
inócuo e sem graça do que suportar conversas grandiloquentes de auto-elogios e
que, em tudo mesclam explicações relativas aos seus inteligentes procedimentos
como referenciais do que existe de mais excelso nas capacidades
didático-pedagógicas?
Ao lado das
mil coisas gratificantes que gestos humanos suscitam, ocorrem impreterivelmente
momentos em que precisamos suportar e até disfarçar o desconforto para salvar
pelo menos algumas boas aparências. Todavia, quando o balde das repressões se
enche até as bordas e começa a extravasar para todos os lados do humor, então,
resta exteriorizar o desconforto pelo menos num papel a fim de propiciar a
volta da harmonia de outros humores mais satisfatórios no meio das emoções e
dos pensamentos. Entretanto, quando os guarda-costas das censuras e da crítica
subjetiva do Super-Ego alertam sobre os efeitos de tal soltura, salta a
premonição para insistir que podem implicar em perdas de espaço e de nome.
Então, o pobre taciturno precisa fazer de conta que tudo está normal, bom e
gostoso, e, que jogar no papel estes sentimentos remanescentes em nada muda a
ordem das precedências. Resta-lhe somente disfarçar discretamente sua
intolerância de aguentar pessoa gabola, arrogante e que massageia
excessivamente seu próprio Ego.
Sabe o pobre
taciturno que seguidamente pessoas extrapolam um pouco sua discreta modéstia e
se referem a fatos nos quais salientam alguns floreios de auto-elogios que
fogem um pouco da normalidade. A tendência da reação tende a de ser de disfarce
e de tolerância. Afinal, quem é tão perfeitamente humilde para não sacar algum
argumento em favor de uma passada de óleo cheiroso no Ego, a fim de deixá-lo
mais lustroso e inebriante?
Dentre muitas pessoas chatas, sem
graça, grosseiras, estúpidas dos lançamentos da memória, nenhuma se aproxima da
professora Margarida. É lisonjeira, bajuladora e altamente exagerada nos
procedimentos de elogiar-se em tudo e em qualquer coisa, mas, sempre com a
obcecada procrastinação de elevar-se, numa evidente mendicância de prestígio e
de status mais elevado de referência.
Seu traço peculiar é o de só
argumentar a partir de escritores que já foram seus ex-professores e
colaboradores em estudos de especialização, e somente os cita para explicar sua
relação próxima com sua autoridade proeminente diante da vulgaridade do que os
outros sabem. Todo exemplo ilustrativo
envolve elogios de alunos para mostrar como ela superou a mediocridade do comum
dos professores. As redundâncias impreterivelmente envolvem o reconhecimento
pela sua capacidade filosófico-pedagógica e os lugares onde sua produção
encontrou eco e publicidade.
Na vontade do
taciturno aflorou até mesmo o desejo de provocar uma eructação estomacal
através das vias orais sobre a mencionada professora. Mas, como isto é coisa
feia, tudo não passou de uma sombra inadequada do processo psíquico a intrometer-se nas
regras das conveniências de conduta social.
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