terça-feira, 5 de novembro de 2013

Entre bulimia e anorexia - o inferno da culpa



Da criança estimulada a comer para ficar vigorosa
Veio a adolescência induzida ao excesso polarizado,
Cheia de alertas contra a constatação pavorosa,
De ostentar gordura para além do padronizado.

O paraíso do empanturrar-se na onda consumista,
Com insinuantes ofertas para ultrapassar medidas,
Confronta-se com as ordens do capeta pessimista,
A recomendar somente quantidades comedidas.

Quando a insinuação do comer para tudo exaurir,
Faz exaltada louvação para engolir e de tudo fruir,
Aparece o capeta a indicar o modelo estético,
E a exigir privação e consumo dietético.

No remorso do coração, prevalece antiga assimilação,
Ou comer para além da medida, ou optar pela beleza,
Que requer descomunal e massacrante abnegação,
Para não escapulir dos parâmetros da magreza.

Como ser feliz na magreza e na fofura,
Quando devastadoras insinuações insistem:
Comer à exaustão e inebriar-se da doçura,
De tudo quanto os paladares não resistem?

A felicidade associada à condecoração do ingerir,
Mostra a cada garfada, além do deglutido,
Inúmeros ideais de beleza a se denegrir,
Do ideário do belo e do magro pretendido.

Desejar não sofrer com a fartura que se oferece,
E não se enternecer com tudo quanto se renega,
 Poderia não gerar culpa que a tantos entristece,
E lhes amenizar a faina que o imaginário não relega?

No fragor de uma culpa, a sina efervescente:
Ou remoer-se como bulímico padecente,
Ou causticar-se como anoréxico atordoado,
Que precisa fazer renúncia por todo lado.


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