O indigesto assunto da pobreza,
Reflete decorrência da avareza,
Desloca culpabilidade no pobre,
Para procedência do seu alfobre.
É pobre por não aspirar nobreza,
Da adorada idolatria da riqueza,
E, por isso, merece ser ignorado,
Por ser culpado pelo seu legado.
Olha-se pobre pela apresentação,
Fruto duma econômica condição,
A merecer os tratos de desprezo,
Por sua situação de menosprezo.
Por ser declarado ente culpado,
Sem avançar no rol afortunado,
Não é digno de ajuda solidária,
Pois, poderia haurir boa diária.
Restrição do conceito de pobre,
Confronta seu estado ao nobre,
Para ratificação da culpabilidade,
E, efetiva exclusão da sociedade.
Ostentação das cidades e favelas,
Ilustra bem estas tristes querelas,
Sob sensor do estado econômico,
Que rejeita pobre como anômico.
Vasta negação de outra pobreza,
Mostra miséria oculta da riqueza,
Que é pobreza de senso humano,
E de elã para sair do autoengano.
Bem miserável na gratuita alegria,
Da sensibilidade que gera empatia,
Ele é o pobre que compra etiqueta,
Para destacar-se sobre sua muleta.
Pobre de caridade de foco cordial,
No ar sisudo e de gesto intelectual,
Ostenta airoso sua pobreza vistosa,
E tem só dinheiro e vida ostentosa.
Sem tempo para uma escuta alheia,
Precisa ser esperto e ágil na peleia,
Para o negócio que amplia o poder,
Para barganha de sempre ascender.
Justifica-se então qualquer pobreza,
Como um defeito da divina destreza,
Pois, engendrou a condição humana,
Com parcela em condição subumana.
Atribuir pobreza a um erro de Deus,
Faculta explorá-la e dar-lhe adeus,
Sem pagamento justo e merecido,
Sob ar de pouco serviço produzido.
Pobreza oculta do enriquecimento,
Vista como graça do divino alento,
Percebe apenas um lado da moeda,
E seu avesso é do pobre em queda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário