sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal - boa notícia!


            Parece um tanto anacrônico falar em “boa notícia”, sobretudo, de alguns anos para cá. Uma atenção às informações diárias relativas ao procedimento dos mandantes do governo do nosso país faz ecoar uma voz estridente de cotidianas “notícias desalentadoras” envolvendo corrupção, e, consequentemente, muito sofrimento entre pessoas que deveriam estar bem. No entanto, a memória de tempos que já foram muito melhores, permite um horizonte de razões plausíveis para que esta esperança nos alegre.
            Aos atuais seguidores de Jesus Cristo, oportuniza-se na festa comemorativa do seu nascimento, uma recordação especial de parte dos textos do profeta Isaías, escritos há muitos séculos antes, em tempos extremamente difíceis para o povo de Israel. O profeta convidou grande parcela do seu povo exilado na Babilônia a se alegrar, apesar de todo o clima de resignação fatalista que vivia na condição escrava.
            A libertação, por uma mediação não esperada, - pois o rei da Pérsia invadiu a Babilônia e mandou embora os escravos judeus – fez com que Isaías percebesse uma peculiaridade do amor de Deus: Ele havia se manifestado, de onde menos se poderia esperar, um favorecimento aos exilados na Babilônia.
            Aquilo que os reis de Israel deixaram de fazer em favor da unidade do povo, o detestado rei da Pérsia, acabou fazendo, mas, nada adiantaria retornar com o mau humor que marcara este tempo de exílio. O profeta, sentindo este amor maior de Deus, encontrava motivação para animar o povo revoltado e convidá-lo a celebrar a alegria, pois, Deus deu sinal mais que evidente de que não abandonou o povo.
            Deus poderia constituir o elã da reconstrução do país e tornar-se, de novo, a indispensável fonte de alegria e de esperança, não apenas para os judeus, mas, também para os demais povos.
            Como já não se esperavam portadores de alguma boa notícia da libertação, Isaías, poeticamente, referiu-se à beleza dos pés de quem anuncia a felicidade, a paz e a libertação da escravidão. Na expectativa do poeta, todos deveriam erguer a voz e irromper brados de alegria porque Deus estava mostrando seu bem-querer àquele povo sofrido.
            A festa que o profeta Isaías projetou, não era a festa da frustração e do vazio existencial e, tampouco, visava comer e beber para esquecer as mágoas, pois, seria a festa da antecipação do que poderia voltar a acontecer sob o bom sentimento de amparo do povo, agraciado pelo amor de Deus. Em vez de nação desolada, o ponto mais elevado da sua capital, Jerusalém, poderia voltar a ser referência de boas vindas para outros povos, algo totalmente diferente das seguidas invasões e da pífia preocupação dos governantes para guerrear.
            A exaltação antiga do profeta tinha o olhar da esperança a partir da boa experiência de tempos passados: Deus poderia novamente constituir-se na referência para o bom reinado do povo e para transcender a ambição de corruptos e inescrupulosos mandantes que infernizaram a vida do povo.
            Assim, a festa para celebrar o nascimento de Jesus do nosso tempo, apesar de todas as razões para estar de mau humor e de insatisfação desalentadora, nos permite antever que o jeito de Jesus, com certeza, aponta para tempos mais felizes do que estes, vividos sob governantes que apenas pensam em suas vantagens pessoais.

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