sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Deus conosco



            Pela manifestação de algumas tendências no interior da Igreja Católica, caberia mais a afirmação do Deus no céu, e, muito longe daqui. Talvez este desejo de distância se preste para algumas ações ideológicas com vistas a manipular pessoas em favor do interesse de grupos que se impõem através de discursos alienantes.
            Fica fácil falar de um “Jesus Cristinho” intimista ou da “mãezinha do céu” ou do “Deus categórico, autoritário e vingativo”.
            Em nossa costumeira preparação de Natal, as semanas que antecedem a festa, nos brindam com as ricas imagens do profeta Isaías. O ambiente extremamente difícil do seu tempo levou-o a olhar para além da obsessão comum pelas guerras, cultivo de ódios e de vinganças. Ele constatou que no passado, sob as regras éticas da grande experiência teofânica do Monte Sinai, a vida era incomparavelmente melhor.
            É possível que Isaías tenha sonhado com a perspectiva meramente política, pois o rei Acaz (735 anos antes de Cristo) resistente a acolher uma palavra do profeta para algum sentimento mais humanitário que pudesse revelar Deus no meio daquele momento histórico angustiante, não dava nenhuma evidência de que seu fracassado reinado permitiria procedimentos mais favoráveis ao povo.
            A saudosa imagem da dinastia Davídica despertava no profeta Isaías algo bom que ainda poderia manifestar-se da parte de Deus: a gravidez da filha do Rei poderia fornecer ao país um futuro rei – menos prepotente - que novamente poderia tornar-se, como Davi desejou ser, um bom secretário de Deus, a fim de que o bom entendimento do povo revelasse o “Deus conosco” (Emanuel).
            A antiga esperança do profeta ofereceu uma chave de leitura aos primeiros seguidores de Jesus Cristo, pois, entenderam que, nele, a plena manifestação do esperado “Deus conosco” estava, enfim, se realizando como um casamento novo para uma vida mais ordeira e decente.
            Temos hoje razões suficientes para não cultivar boas expectativas em torno dos nossos governantes, mas, será que nos bastaria um grupo de pessoas retas, honestas e sensíveis ao sofrimento do povo em funções básicas do governo, para nos apontar a imagem poética de que Deus realmente vai morar no meio de nós?
            Certamente se fará necessária uma mudança muito grande em toda a coletividade, pois, se não somos induzidos para a guerra estúpida, somos envolvidos pela lamentável perda de regras éticas, estas que poderiam apontar capazes de superar a corrupção, o enriquecimento ilícito, e o aumento de vantagens pessoais em detrimento de outras pessoas, que precisam pagar o preço da miséria e da fome.
            Que a memória de Jesus, filho da mulher simples, atenciosa, serviçal, que abriu o dom da sua vida a Deus, - Maria - possa nos antecipar alegrias de tempos melhores na irrupção de um agir messiânico, em que se instauram mais sinais de amor, e que, enfim, nos convençam de que “Deus está conosco”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...