A antiga imagem bíblica e poética
de Isaías oferece uma atualidade muito especial para nos ajudar em situações
humanas muito parecidas às daquela época. Um povo dilacerado, em parte vivendo
no exílio, outros sem se entender e sem capacidade de se organizar diante da
espoliação praticada por países imperialistas e dominadores, levaram Isaías a
olhar para frente dos problemas.
Dirigindo-se aos exilados da
Babilônia, quando soube da possibilidade de novamente regressarem à sua terra,
valeu-se de uma imagem muito elucidativa: que Deus ajudaria a nivelar o caminho
no meio do deserto para que montanhas fossem abaixadas, precipícios preenchidos
e curvas endireitadas.
Na consideração, quem teria causado
estes desencontros do nível da terra? Efeito da má e perversa administração dos
governantes, mais preocupados com os conluios de guerras do que com a segurança
e o bem estar do povo. Ao lado da profunda injustiça social, nem mesmo os
pobres escravizados na Babilônia se entendiam entre si. Por isso, para voltar, Deus
teria que ajudar a nivelar os caminhos. Mais do que os caminhos sinuosos da
terra, ocorria desnível de todo jeito entre os exilados.
O profeta não esperava evidentemente
uma mágica ação de Deus, mas esperava que os exilados se entendessem melhor, a
fim de que o regresso e a reorganização da vida do país pudessem acontecer sob
os auspícios da antiga aliança: entendimento, justiça e lealdade.
Nossa preparação em torno da festa de
Natal enfrenta como a dos exilados da Babilônia, muitos fatores de desencontro
humano, desde diálogo, à posse de bens e exercício de poder. Figurativamente
ocorrem muitos desníveis na compreensão do que é ser cristão, do que é ser
ético, do que é ser reto e honesto e do que é serviço humanitário.
A dificuldade de alinhar esta estrada no meio
dos desertos de nossos dias requer uma luz interior de fé, de boa vontade e de
colaboração para que nosso ambiente humano seja melhor. Os desníveis são
realmente complicados: basta lembrar as notícias sobre corrupção, desvios de
verbas, compra de votos e tantas outras brigas ideológicas que ferem o
bom-senso humano.
A intuição de Isaías é importante
para nós: para pensar num entendimento mais harmonioso, temos que aprender a
olhar para além dos problemas, das mágoas, e dos sentimentos de vingança. Há
muito coração pobre no meio de montanhas de grãos e de fortunas, há muito
coração ferido por humilhações e desencontros, e nem é fácil anunciar um tempo
da graça do Senhor. A tentação é mais insinuante para comer e farrear e beber
muito a fim de esquecer que a vida não está fácil.
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