quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Endireitar caminhos



            A antiga imagem bíblica e poética de Isaías oferece uma atualidade muito especial para nos ajudar em situações humanas muito parecidas às daquela época. Um povo dilacerado, em parte vivendo no exílio, outros sem se entender e sem capacidade de se organizar diante da espoliação praticada por países imperialistas e dominadores, levaram Isaías a olhar para frente dos problemas.
Dirigindo-se aos exilados da Babilônia, quando soube da possibilidade de novamente regressarem à sua terra, valeu-se de uma imagem muito elucidativa: que Deus ajudaria a nivelar o caminho no meio do deserto para que montanhas fossem abaixadas, precipícios preenchidos e curvas endireitadas.
Na consideração, quem teria causado estes desencontros do nível da terra? Efeito da má e perversa administração dos governantes, mais preocupados com os conluios de guerras do que com a segurança e o bem estar do povo. Ao lado da profunda injustiça social, nem mesmo os pobres escravizados na Babilônia se entendiam entre si. Por isso, para voltar, Deus teria que ajudar a nivelar os caminhos. Mais do que os caminhos sinuosos da terra, ocorria desnível de todo jeito entre os exilados.
O profeta não esperava evidentemente uma mágica ação de Deus, mas esperava que os exilados se entendessem melhor, a fim de que o regresso e a reorganização da vida do país pudessem acontecer sob os auspícios da antiga aliança: entendimento, justiça e lealdade.
Nossa preparação em torno da festa de Natal enfrenta como a dos exilados da Babilônia, muitos fatores de desencontro humano, desde diálogo, à posse de bens e exercício de poder. Figurativamente ocorrem muitos desníveis na compreensão do que é ser cristão, do que é ser ético, do que é ser reto e honesto e do que é serviço humanitário.
 A dificuldade de alinhar esta estrada no meio dos desertos de nossos dias requer uma luz interior de fé, de boa vontade e de colaboração para que nosso ambiente humano seja melhor. Os desníveis são realmente complicados: basta lembrar as notícias sobre corrupção, desvios de verbas, compra de votos e tantas outras brigas ideológicas que ferem o bom-senso humano.
A intuição de Isaías é importante para nós: para pensar num entendimento mais harmonioso, temos que aprender a olhar para além dos problemas, das mágoas, e dos sentimentos de vingança. Há muito coração pobre no meio de montanhas de grãos e de fortunas, há muito coração ferido por humilhações e desencontros, e nem é fácil anunciar um tempo da graça do Senhor. A tentação é mais insinuante para comer e farrear e beber muito a fim de esquecer que a vida não está fácil.



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