Sem
pesquisas arqueológicas, científicas e, nem mesmo, através de pesquisas
empíricas, chegou este pobre vivente, por mero e descuidado acaso, a observar
algo que parece ser a emergência de mais uma doença social, com periculosidade
de terminar com amores humanos entre si. Recém diagnosticada, esta nova
emergência de amor por gatos avança mais do que aquelas mais conhecidas, como
“Psicose sádica”, “Paranóia”, “Mania de grandeza” “Piromania”, etc.
Ao lado das recém anunciadas como novas
doenças, tipo “Cérebro Podre” (Brain Rot) que leva as pessoas a desejar
manusear o celular o tempo todo e ficar ocupado somente com ele; “Amouco” que
consiste em renunciar a uma posição pessoal para brigar, matar e perseguir,
simplesmente para satisfazer a ideia maluca de um líder; ”Piromania”, gosto
mórbido pelo fogo, guerra, morte e destruição; eis que este pobre vivente
constatou, por um casual e despretensioso olhar, o jeito de algumas pessoas
lidarem com seus gatos.
A Gatose (Gato + doenças psíquicas
terminadas em “ose”, como neurose, psicose, etc.), constitui uma doença de
deslocamento do foco afetivo-emocional, precípuo do ser humano, deslocado para
o gato. Escolhi a palavra Gatose e já a acrescentei a lápis no meu dicionário,
para denominar a referida doença. Quem sabe, uma hora descubro um jeito de
acrescentá-lo, também a lápis, nos dicionários da Internet.
Gatose, palavra até simpática e
chamativa para uma doença, consiste, pois, de acordo com a suposta descoberta,
nesta paixão deslocada de um afeto profundo pelo querido animalzinho gato, seja
ele macho ou fêmea.
Todo afeto não explicitado a seres
humanos é direcionado em dobro sobre o pequeno felino. Fala-se com ele, num tom
de voz intimista, afetuoso, carregado de amor e de beijos, numa voz embargada,
com olhares contemplativos, sorrisos extasiantes e uma expressão facial do
himeneu do amor de um clímax amoroso. Os gemidos chegam a extrapolar as medidas
de conveniência.
O colinho, os afagos, as perguntas
feitas aos mimosos, a fala sobre as suspeitas das suas doenças, os tratos, os
modos de recolher o cocô e o xixi dos amados, tudo vira um heroico ato de amor
profundo, incomparavelmente maior do que o amor maternal a uma criança.
Na sintomatologia da Gatose, está
esta doçura, mesclada com ternura, e a conversa durante o dia todo com os
mimosos, como se eles fossem os filhos prediletos a merecer, junto com o
monólogo, o maior amor do mundo. Por outro lado, discordância do pensamento
único destas pessoas, tão profundamente amorosas, produz instantâneas explosões
de fúria e ódio profundo.
O primeiro sintoma está ligado à
reação abrupta e intensamente raivosa diante de algumas palavras: como Paulo
Freire, governo, política nem de esquerda e nem de direita, liderança nacional,
etc.
A Gatose está a revelar um contágio
coletivo crescente. Ainda não foi feito estudo se decorre da raiva que o gato
transmite e que afeta o sistema nervoso central, produzindo, numa progressão
rápida a hiperatividade agressiva, com fúria para depois entrar em coma.
Tampouco se sabe se tal deslocamento procede dos outros contágios de doenças
dos gatos para os seres humanos, tais como esporotricose, toxoplasmose, micose,
stafilococo, leptospirose, cistites, infecções urinárias e alergias.
A suspeita deste incauto observador é
a de que a doença da Gatose provenha de desencanto profundo com pessoas
escolhidas para ser feliz, decepção ainda maior com filhos e netos e, assim, os
fluxos naturais destas energias amorosas acabam projetados nos felinos que não
retrucam, que não contrariam a fala, que não questionam ideias fanatizadas, porquanto
estes queridinhos plenificam, pelo menos aparentemente, o êxtase do amor
profundo da criatura humana. Na sua pior maldade, estas lindas e encantadoras
criaturas, podem dar uma aranhada ou uma pequena mordidinha. Por conseguinte,
não são imprevisíveis, mutáveis e auto-transcendentes como os humanos!
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