Em mais um pequeno tateio inquiridor
sobre a Gatose, reparamos que a interação de felinos adaptados às carências
humanas, leva-os a absorver características esquizofrênicas, que eram
exclusivamente humanas.
Assim, na captação de mais um traço humano, os
felinos vivem uma inquietação contínua em torno da segurança assegurada pelos
seus tutores. Na simples desconfiança de que estes se atrasam ao saírem, sem os
levar juntos, já desencadeiam miados chatos e irritantes, certamente, pela
possível pressuposição de que foram relegados e desvalorizados como focos
únicos e exclusivos de amor humano.
Deste modo, os gatinhos super-mimados
desenvolvem uma desconfiança doentia de pressupor que outros gatos possam estar
sendo mais agraciados do que eles. Igualmente desenvolvem a desconfiança básica
de poderem estar sendo preteridos e substituídos por outros, mediante
constatação de que outros gatos possam ofertar e insinuar encantamento mais
gratificante e profundo a seus tutores. Afinal, o que eles devem ter que eu não
tenho? Mesmo extirpada a fluência da libido no sangue, será que isto faz tanta
diferença?
Esta obsessão de estarem sendo traídos, vira
fator de depressão e estresse. Também leva a alergias. Na insistência de um
pensamento compulsivo de que estejam sobrando, lambem parte do corpo, com
aquela grosa áspera da sua língua, a tal ponto que o lugar começa a doer e
sangrar. É um modo de expressar que sentem dor, que querem ser acudidos,
bajulados pelo dói-dói, e receber, junto com muita atenção, aplicação de
pomadinhas cheirosas e medicamentosas.
Neste campo da doença, os
queridinhos, merecedores do amor intenso, para assegurar a exclusividade de
muito gesto atencioso, também se tornam hipocondríacos, isto é, de tanto ouvirem
falar em doença, absorvem a doença. Deste modo, ao apresentarem, continuamente,
algum sintoma de algo errado nas funções orgânicas, tal diagnose lhes assegura
e lhes garante, impreterivelmente, o desvelo especial pela sua saúde.
Nas consultas regulares aos
veterinários, nos múltiplos exames e nos manuseios para as infindáveis
observações, estes gatinhos metamorfoseados ampliam sua ninfomania. Que os
veterinários mexam no corpo, que apalpem, que façam afagos, que emitam
sussurros amorosos e que compensem a esterilidade através de mais colo.
Enfunados em espaços pequenos e
limitados, doentinhos e mimados, já perderam a memória para as longas
caminhadas, a fim de estabelecer encontros amorosos e procriadores com
similares.
Dessexuados, e, sem libido a
percorrer em seu sangue, os gatos afetados por Gatose, satisfazem seu mundo
relacional com os mimos, e, muitos mimos durante o dia e em alguns momentos da
noite.
Ver aqueles outros gatos, naquelas
folias de lua cheia, brigando pela possibilidade de fechar um himeneu amoroso,
subindo paredes, árvores e forçando a barra para intimidades, devem, enfim,
produzir um sentimento doentio de banzo, saudade do tempo em que não foram
cooptados por pessoas humanas para intimidades que fogem da sua natureza.
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