Em mais um
pequeno tateio hermenêutico sobre a doença da Gatose, pudemos observar outra
nuance desta doença humana, mas, especialmente, pela sua repercussão na vida
dos gatos, alvos do afeto intenso e profundo por parte de seres humanos.
Tudo indica
que a Gatose se relaciona com Metamorfose: uma transformação gradual dos traços
humanos, mas, ao mesmo tempo, mudança profunda na vida dos gatos super-mimados,
que se aproximam muito mais dos humanos do que dos gatos originais.
Pela raiz
arqueológica, os gatos são transformados em eunucos, como os antigos eunucos
humanos dos reis e das rainhas. Significa que perdem suas características
naturais de sexualidade e procriação. Os machos são castrados e as fêmeas
recebem hormônios para perderem a possibilidade reprodutora. Esvaídos deste
direito milenar, os felinos são largamente transtornados em seu mundo de
generatividade. Com isso, caem as possibilidades do exercício da sua
paternidade, e eles acabam compensando seus traços instintivos e animalescos no
deslocamento para os donos humanos, a fim de ficarem, precipuamente, devotados
a estes humanos doentes que os exploram em afeto e requerem que este afeto seja
canalizado apenas para eles.
Nesta
estranha simbiose, os prognósticos não são nada alvissareiros. Nem os humanos
de Gatose e nem gatos vítimas da Gatose, terão vida longa sobre a Terra,
porque, profundamente degenerados, não se reproduzem mais. Assim, o
desaparecimento será evidente em questão de pouco tempo.
Ademais, os
gatos são vitimados pelas doenças humanas: já necessitam de tratamentos
terapêuticos da medicina veterinária, similares aos dos tratamentos
medicamentosos a humanos, na imitação literal das doenças humanas: depressão,
estresse, “Burnout”, hipertensão, fadiga, neuroses, psicoses, hipocondrias,
aquelas listas de doenças psiquiátricas e psicológicas, cálculos renais, câncer
de ovário, câncer de próstata, sem contar as intermináveis outras doenças psicossomáticas
humanas. No entanto, as doenças mais comuns que afetam a vida dos gatos
decorrem da sua vida sedentária. Por isso, andam com excesso de peso, devido
aos alimentos super-processados, precisam tratamentos contínuos para
colesterol, para combater diabetes, doenças urinárias, sem mencionar aquela
infinidade de problemas histéricos, cardíacos e psíquicos e de deslocamento de
sintomas.
Um dos
muitos problemas psíquicos, que cai na vista em poucos instantes de observação
destes gatos, é o seu ciúme mórbido, já absorvido dos humanos. Querem lugar
exclusivo e excludente no colo e na cama da mãezona humana. Querem os lugares
centrais na mesa, e brigam se alguém ocupa seus lugares no sofá. Ai se alguém
ocupar seu lugar!
Ao mesmo
tempo que estes gatos são ciumentos, já metamorfoseados em humanos, tornam-se
psiquicamente dependentes. Sem autonomia para quaisquer iniciativas, resta-lhes
olhar seus donos, expressar afeição da sua sexualidade deslocada com esfregas
supostamente amorosas nas suas pernas a fim de granjear alguma conversa meiga
dos que lhes dão casa, comida e cama. Ficam tão parecidas com pessoas humanas
viciadas em celular. Nada tem graça, mas, naquela feição de nojo, seguem
focados nestas coisas sem graça.
Os gatos
metamorfoseados podem até assistir cenas eróticas, nas camas e nos aparelhos de
transmissão televisiva, mas, nada comentam sobre o que viram, ouviram e
pensaram. Nesta limitação, o devotamento exponencial aos humanos doentes,
torna-os assistentes passivos e estreitamente dependentes dos seus tutores.
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