quinta-feira, 24 de abril de 2025

GATOSE II

  

            Em mais um pequeno tateio hermenêutico sobre a doença da Gatose, pudemos observar outra nuance desta doença humana, mas, especialmente, pela sua repercussão na vida dos gatos, alvos do afeto intenso e profundo por parte de seres humanos.

            Tudo indica que a Gatose se relaciona com Metamorfose: uma transformação gradual dos traços humanos, mas, ao mesmo tempo, mudança profunda na vida dos gatos super-mimados, que se aproximam muito mais dos humanos do que dos gatos originais.

            Pela raiz arqueológica, os gatos são transformados em eunucos, como os antigos eunucos humanos dos reis e das rainhas. Significa que perdem suas características naturais de sexualidade e procriação. Os machos são castrados e as fêmeas recebem hormônios para perderem a possibilidade reprodutora. Esvaídos deste direito milenar, os felinos são largamente transtornados em seu mundo de generatividade. Com isso, caem as possibilidades do exercício da sua paternidade, e eles acabam compensando seus traços instintivos e animalescos no deslocamento para os donos humanos, a fim de ficarem, precipuamente, devotados a estes humanos doentes que os exploram em afeto e requerem que este afeto seja canalizado apenas para eles.

            Nesta estranha simbiose, os prognósticos não são nada alvissareiros. Nem os humanos de Gatose e nem gatos vítimas da Gatose, terão vida longa sobre a Terra, porque, profundamente degenerados, não se reproduzem mais. Assim, o desaparecimento será evidente em questão de pouco tempo.

            Ademais, os gatos são vitimados pelas doenças humanas: já necessitam de tratamentos terapêuticos da medicina veterinária, similares aos dos tratamentos medicamentosos a humanos, na imitação literal das doenças humanas: depressão, estresse, “Burnout”, hipertensão, fadiga, neuroses, psicoses, hipocondrias, aquelas listas de doenças psiquiátricas e psicológicas, cálculos renais, câncer de ovário, câncer de próstata, sem contar as intermináveis outras doenças psicossomáticas humanas. No entanto, as doenças mais comuns que afetam a vida dos gatos decorrem da sua vida sedentária. Por isso, andam com excesso de peso, devido aos alimentos super-processados, precisam tratamentos contínuos para colesterol, para combater diabetes, doenças urinárias, sem mencionar aquela infinidade de problemas histéricos, cardíacos e psíquicos e de deslocamento de sintomas.

            Um dos muitos problemas psíquicos, que cai na vista em poucos instantes de observação destes gatos, é o seu ciúme mórbido, já absorvido dos humanos. Querem lugar exclusivo e excludente no colo e na cama da mãezona humana. Querem os lugares centrais na mesa, e brigam se alguém ocupa seus lugares no sofá. Ai se alguém ocupar seu lugar!

            Ao mesmo tempo que estes gatos são ciumentos, já metamorfoseados em humanos, tornam-se psiquicamente dependentes. Sem autonomia para quaisquer iniciativas, resta-lhes olhar seus donos, expressar afeição da sua sexualidade deslocada com esfregas supostamente amorosas nas suas pernas a fim de granjear alguma conversa meiga dos que lhes dão casa, comida e cama. Ficam tão parecidas com pessoas humanas viciadas em celular. Nada tem graça, mas, naquela feição de nojo, seguem focados nestas coisas sem graça.

            Os gatos metamorfoseados podem até assistir cenas eróticas, nas camas e nos aparelhos de transmissão televisiva, mas, nada comentam sobre o que viram, ouviram e pensaram. Nesta limitação, o devotamento exponencial aos humanos doentes, torna-os assistentes passivos e estreitamente dependentes dos seus tutores.

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