terça-feira, 29 de abril de 2025

GATOSE VI - o olho do gato

  

            Se o cérebro felino é minúsculo, seus olhos proeminentes, no entanto, são maiúsculos, que não apenas enxergam mais do que os humanos, mas, também revelam um céu luminoso, brilhante e atraente com estrelas de linhas irdológicas a serem interpretados pela mente humana e donde promanam as luzes iluminadoras para preencher uma vida solitária.

            Felídeos não impressionam humanos pelas suas coxas, nem pelos seus mamilos e, menos ainda, pelos órgãos de evacuação e reprodução.

            A magia hipnótica do olhar do gato é, certamente, reveladora de um mundo de encantamentos subjetivos, capazes de submeter o ser humano com o fundo encantador do infinito, para nele projetar o vasto céu azul de esperanças capazes de preencher as carências humanas.

            Olhar para o olho do felino e perceber seu mundo cordato, na paisagem deslumbrante da candura, seduz de forma arrasadora para abrir a porta das amarguras humanas e permitir que aquele novo céu ofereça um percurso de ócio edificante.

Os olhos dos gatos, já parcialmente adaptados e dependentes do ser humano, além do fascínio, constituem um mundo translúcido que atinge o âmago do sentimento humano e prende sua atenção, porque estão desprovidos de falsidade, de traição, de infidelidade, de arrogância, de mágoa, tudo isso, tão presente no olhar humano.

No diagnóstico da labilidade humana de se encantar profunda e intensamente pelo gato, situa-se o desbravamento de um outro mundo, que desperta, de novo, a capacidade de reatância para sonhar com algo melhor do que o olhar humano. Este, tão inconstante, revela e desperta tanta insegurança e inquietação, e, ao mesmo tempo, mostra-se tão frágil, provisório e propenso ao ocultamento do que se passa nos sentimentos.

Neste modo de se constituir num campo nebuloso, o olhar humano desvia a atenção para não se comprometer.

No olhar dos gatos localiza-se, com razoáveis evidências de probabilidade, o magnetismo que atrai os corações humanos feridos. Neste olho mágico e contagiante do poder sedutor, revela-se um mundo maravilhoso de sonhos: que não condena, não censura, nem insinua algum abuso, pois, nele, está o indicativo redentor da pobre criatura humana, carente, frágil, contingente e que se resume num feixe de tensões desgastantes oriundas dos desencontros humanos.

Mais do que o gato, importa seu olho, um céu que se abre para quem se sente condenado ao inferno diante da sua convivência com similares que irritam, que chateiam, que aborrecem, e que mudam constantemente de humor.

A simbiose “humano-gatóide” traria vantagem fantástica à capacidade dos olhares humanos, mas, nas sutilezas da comunhão fechada para a fruição dos encantos precípuos dos gatos, não se supre a limitação da degeneração humana e, possivelmente, vai deixar seu lugar no mundo aos micro-organismos, sequer perceptíveis ao olho humano e nem mesmo, ao do gato.

 

 

 

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