sexta-feira, 25 de abril de 2025

GATOSE III

 


            Um olhar perfunctório sobre a Gatose, doença degenerativa que afeta tanto humanos, quanto felinos na sua simbiose doentia, permitiu observar, pelo lado dos gatos, que vivem a desgraça de terem que suprir demandas humanas, e assim, numa metamorfose obrigatória, acabam perdendo um traço de higiene básica, tão peculiar dos gatos, que é o do seu ritual de fazer cocô e xixi.

            Processos históricos longos levaram os felinos a terem muito cuidado com a evacuação. Possuem ainda o privilégio de não precisarem utilizar papel higiênico, e mesmo assim, quando andam livremente por jardins, hortas e pátios, cavam um pequeno buraco no chão, fazem suas necessidades fisiológicas, e, depois, puxam com as patas dianteiras a terra solta decorrente da escavação, por cima do produto despachado, até que a evacuação não emite mais cheiro desagradável.

            Para este ritual de evacuação, os gatos revelam, ou esperteza ou preguiça. Ainda falta apurar esta característica, porque gostam de escolher o espaço da horta, no meio das hortaliças, pois, já devem ter aprendido por experiência, que ali a terra é solta e fácil de ser removida para uma cavidade, a fim de proceder o movimento peristáltico na maciez da fofura do solo.

            Já os gatos que caíram nas mãos humanas doentias, são bloqueados para este solene ritual de defecação. Forçados a fazer xixi e cocô, nos banheiros humanos, ali produzem algo que é contra a sua natureza: deixam que seu cocô e seu xixi emitam mau cheiro, não apenas no banheiro, mas, também pela casa ou no apartamento. De tanto que se acostumam ao cheiro fétido, nem desejam mais outra coisa do que este ambiente de odores graveolentes. Trata-se de uma espécie de “Brain Rot” (Cérebro podre) que os acomete, e, de tanto que se acostumam com ares fétidos, nem desejam mais ar puro da natureza e do meio-ambiente.

            Reféns da morbidez humana, os gatos da compensação afetiva destas criaturas carentes e extraordinariamente intelectivas, tornam-se literalmente relaxados. Nem reagem mais ao cocô que espalham no banheiro ou nos outros ambientes da casa; e passam a viver num ambiente de m (*).

            Como fazem xixi no chão do banheiro e pisam sobre o dito xixi, espalham seu odor pelo colo dos que os afagam e também sobre cadeiras, poltronas, camas e tapetes. Esta promiscuidade, gera um ambiente muito desconfortável nas pessoas não contaminadas pela Gatose, que as visitam. Além do mais, quando os felinos adoentados se tornam o assunto principal das conversas, a digestão da conversação não sobe ao cérebro humano e nem desce ao estômago humanóide. Resulta, então, aquele refluxo causticante a produzir ardência na garganta, isto, sem mencionar os gases indecisos que não sabem se sobem no rumo do cérebro podre ou se descem ao “forébis” para um despacho volátil pelos ares.

            Entre os prejuízos que a Gatose provoca nos gatos domesticados, também está a perda da destreza, da acuidade e da paciência para esperar uma caça. Acostumados aos granulados, viram obsessivos por comida. Com excesso de peso e perda progressiva da rapidez para se locomover, estes gatos tornam-se incapazes de caçar para assegurar alimento que lhes seria saudável. Por isso, acomodam-se à rotina de esperar os granulados coloridos e crocantes e, para preencher seu tempo ocioso, voltam, a cada poucos instantes, para comer até exaurir o que está na travessa servida, a única fonte de satisfação, tanto libidinosa, quanto de preenchimento do tempo monótono.

            Mais outro efeito da simbiose felina com humanos doentes, é o da estranheza diante dos próprios congêneres. Assustam-se ao verem gatos saudáveis, magros, ágeis, espertos e atentos, capazes de saltos ornamentais e de proezas fantásticas em seus jogos lúdicos, pois, acostumados a uma rotina enfadonha, de um dia como outro, já não sabem mais o que fazer junto aos seus familiares e parentes próximos.

 

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