Depois
do olho, como foco principal da efusão sedutora da parte dos gatos, um segundo
componente possível de ter facilitado a interação humana com os gatos, deve ter
sido, por parte dos humanos, o inaudito encantamento pelos pulos dos felinos.
A leveza, a propulsão, a
maleabilidade do corpo e este magnífico poder de saltos, não apenas
ornamentais, mas, também os da caça e os pulos da capacidade de fuga dos
predadores naturais, fazem do gato um herói que os humanos gostam de venerar e
apreciar.
O corpo delgado, insinua o sonho
humano de um corpo atlético, flexível, aparentemente, feito só de elastina,
para torna-lo capaz de mil acrobacias, faz com que os humanos sintam inveja dos
gatos.
A leveza com que um gato se joga
sobre uma presa e a facilidade de subir e descer muros e evadir-se através de
telhados, é algo espetacular. Os humanos por exemplo, também se encantam com as
aranhas e criam personagens como o “Homem Aranha”, para a fantasia do mundo
juvenil. No entanto, os gatos, pelas suas acrobacias e pelos seus exercícios
aeróbicos, airosos e imponentes, charmosos e elegantes, tornam-se o modelo de
sedução para sonhadores humanos.
Quando humanos querem salientar e
enfatizar a beleza extraordinária de um homem ou de uma mulher, valem-se
simplesmente da comparação: é um gato!; ou, é uma gata!
Este pulo da antropomorfização do
gato indica o quanto ele é apreciado, e, possivelmente, o quanto ocupa a mente
dos sonhadores de um corpo perfeito que atrai para a complementariedade.
Imagine-se um goleiro com a capacidade de pular similar ao do gato!
Consegue-se, pois, pressupor, com
plausíveis evidências, que os humanos isolados, carentes de afeto, devem sentir
um prazer incomum ao perceberem que o gato, num pulo gracioso, saltando sobre o
colo e fazer dele o lugar do aconchego para receber afagos carinhosos, com
dedos cheios de amor para dar.
Nesta similitude do que os humanos
gostam, os gatos também se rendem ao mimo humano e devem acha-lo muito mais
gratificante de que certas proximidades com gatas a mostrar dentes felinos e
unhas que rasgam.
Mesmo perdendo gradualmente sua
natural instintividade de amor entre gatos, descobrem eles que, o pulo para o
lado humano, é muito mais afetivo e dengoso do que namoro entre gatos.
Por isto, os gatos devem sofrer de um dilema
profundo na hora de se adaptar aos humanos: vou continuar gato, com os pulos de
gato, ou vou saltar no colo dos mimos arfantes, que bloqueiam as atividades
precípuas do mundo amoroso dos gatos. Nesta situação dramática, embora sem
liberdade suficiente para escolha, porque foram cooptados, restar-lhes-ia ainda
uma alternativa de fuga, uma vez que são exímios no pulo.
No entanto, o prato feito, colorido e
crocante, atrai mais do que a caçada imprevisível e leva os gatos a
resignar-se, perdendo a destreza dos pulos e a alta captação dos atrativos para
vivenciar amores intensos nas noites escuras.
Os machos aceitam ser castrados e as fêmeas,
resignadas ao domínio superior e autoritário de interesses humanos, se submetem
às pílulas anticoncepcionais ou à extirpação do que mais as identifica como
gatas.
Sobra-lhes o preço amargo das doenças humanas,
do alto índice de câncer e dos muitos efeitos colaterais decorrentes da não procriação
de gatos.
Pelo menos uma sintomatologia
resultante do boicote generativo é o da histeria de muitas gatas e a
compensação que as move a adotar pintinhos, cachorrinhos ou ursinhos de
pelúcia, como supostos gatinhos.