quarta-feira, 30 de abril de 2025

GATOSE VII - o pulo do gato

  

            Depois do olho, como foco principal da efusão sedutora da parte dos gatos, um segundo componente possível de ter facilitado a interação humana com os gatos, deve ter sido, por parte dos humanos, o inaudito encantamento pelos pulos dos felinos.

A leveza, a propulsão, a maleabilidade do corpo e este magnífico poder de saltos, não apenas ornamentais, mas, também os da caça e os pulos da capacidade de fuga dos predadores naturais, fazem do gato um herói que os humanos gostam de venerar e apreciar.

O corpo delgado, insinua o sonho humano de um corpo atlético, flexível, aparentemente, feito só de elastina, para torna-lo capaz de mil acrobacias, faz com que os humanos sintam inveja dos gatos.

A leveza com que um gato se joga sobre uma presa e a facilidade de subir e descer muros e evadir-se através de telhados, é algo espetacular. Os humanos por exemplo, também se encantam com as aranhas e criam personagens como o “Homem Aranha”, para a fantasia do mundo juvenil. No entanto, os gatos, pelas suas acrobacias e pelos seus exercícios aeróbicos, airosos e imponentes, charmosos e elegantes, tornam-se o modelo de sedução para sonhadores humanos.

Quando humanos querem salientar e enfatizar a beleza extraordinária de um homem ou de uma mulher, valem-se simplesmente da comparação: é um gato!; ou, é uma gata!

Este pulo da antropomorfização do gato indica o quanto ele é apreciado, e, possivelmente, o quanto ocupa a mente dos sonhadores de um corpo perfeito que atrai para a complementariedade. Imagine-se um goleiro com a capacidade de pular similar ao do gato!

Consegue-se, pois, pressupor, com plausíveis evidências, que os humanos isolados, carentes de afeto, devem sentir um prazer incomum ao perceberem que o gato, num pulo gracioso, saltando sobre o colo e fazer dele o lugar do aconchego para receber afagos carinhosos, com dedos cheios de amor para dar.

Nesta similitude do que os humanos gostam, os gatos também se rendem ao mimo humano e devem acha-lo muito mais gratificante de que certas proximidades com gatas a mostrar dentes felinos e unhas que rasgam.

Mesmo perdendo gradualmente sua natural instintividade de amor entre gatos, descobrem eles que, o pulo para o lado humano, é muito mais afetivo e dengoso do que namoro entre gatos.

 Por isto, os gatos devem sofrer de um dilema profundo na hora de se adaptar aos humanos: vou continuar gato, com os pulos de gato, ou vou saltar no colo dos mimos arfantes, que bloqueiam as atividades precípuas do mundo amoroso dos gatos. Nesta situação dramática, embora sem liberdade suficiente para escolha, porque foram cooptados, restar-lhes-ia ainda uma alternativa de fuga, uma vez que são exímios no pulo.

 No entanto, o prato feito, colorido e crocante, atrai mais do que a caçada imprevisível e leva os gatos a resignar-se, perdendo a destreza dos pulos e a alta captação dos atrativos para vivenciar amores intensos nas noites escuras.

 Os machos aceitam ser castrados e as fêmeas, resignadas ao domínio superior e autoritário de interesses humanos, se submetem às pílulas anticoncepcionais ou à extirpação do que mais as identifica como gatas.

 Sobra-lhes o preço amargo das doenças humanas, do alto índice de câncer e dos muitos efeitos colaterais decorrentes da não procriação de gatos.

Pelo menos uma sintomatologia resultante do boicote generativo é o da histeria de muitas gatas e a compensação que as move a adotar pintinhos, cachorrinhos ou ursinhos de pelúcia, como supostos gatinhos.

 

 

 

 

terça-feira, 29 de abril de 2025

GATOSE VI - o olho do gato

  

            Se o cérebro felino é minúsculo, seus olhos proeminentes, no entanto, são maiúsculos, que não apenas enxergam mais do que os humanos, mas, também revelam um céu luminoso, brilhante e atraente com estrelas de linhas irdológicas a serem interpretados pela mente humana e donde promanam as luzes iluminadoras para preencher uma vida solitária.

            Felídeos não impressionam humanos pelas suas coxas, nem pelos seus mamilos e, menos ainda, pelos órgãos de evacuação e reprodução.

            A magia hipnótica do olhar do gato é, certamente, reveladora de um mundo de encantamentos subjetivos, capazes de submeter o ser humano com o fundo encantador do infinito, para nele projetar o vasto céu azul de esperanças capazes de preencher as carências humanas.

            Olhar para o olho do felino e perceber seu mundo cordato, na paisagem deslumbrante da candura, seduz de forma arrasadora para abrir a porta das amarguras humanas e permitir que aquele novo céu ofereça um percurso de ócio edificante.

Os olhos dos gatos, já parcialmente adaptados e dependentes do ser humano, além do fascínio, constituem um mundo translúcido que atinge o âmago do sentimento humano e prende sua atenção, porque estão desprovidos de falsidade, de traição, de infidelidade, de arrogância, de mágoa, tudo isso, tão presente no olhar humano.

No diagnóstico da labilidade humana de se encantar profunda e intensamente pelo gato, situa-se o desbravamento de um outro mundo, que desperta, de novo, a capacidade de reatância para sonhar com algo melhor do que o olhar humano. Este, tão inconstante, revela e desperta tanta insegurança e inquietação, e, ao mesmo tempo, mostra-se tão frágil, provisório e propenso ao ocultamento do que se passa nos sentimentos.

Neste modo de se constituir num campo nebuloso, o olhar humano desvia a atenção para não se comprometer.

No olhar dos gatos localiza-se, com razoáveis evidências de probabilidade, o magnetismo que atrai os corações humanos feridos. Neste olho mágico e contagiante do poder sedutor, revela-se um mundo maravilhoso de sonhos: que não condena, não censura, nem insinua algum abuso, pois, nele, está o indicativo redentor da pobre criatura humana, carente, frágil, contingente e que se resume num feixe de tensões desgastantes oriundas dos desencontros humanos.

Mais do que o gato, importa seu olho, um céu que se abre para quem se sente condenado ao inferno diante da sua convivência com similares que irritam, que chateiam, que aborrecem, e que mudam constantemente de humor.

A simbiose “humano-gatóide” traria vantagem fantástica à capacidade dos olhares humanos, mas, nas sutilezas da comunhão fechada para a fruição dos encantos precípuos dos gatos, não se supre a limitação da degeneração humana e, possivelmente, vai deixar seu lugar no mundo aos micro-organismos, sequer perceptíveis ao olho humano e nem mesmo, ao do gato.

 

 

 

segunda-feira, 28 de abril de 2025

GATOSE V

 

 

            Em nova sondagem para convencer a respeito da Gatose, como doença nova entre hospedeiros humanos e hospedados gatos, observou-se que afirmações sobre simbioses de parasitas antigos no corpo humano, se tornaram essencialmente fundamentais à vida dos humanos. Assim, o cocô das mitocôndrias e cloropastos, tornam-se enzimas que alimentam o corpo humano, isto é, pagam com seu cocô a hospedagem; e, os donos, acham que está bom desse jeito.

            No longo processo de adaptação para a convivência de múltiplos sistemas independentes de vida, que se adaptaram à convivência de complementariedade benfazeja, a Gatose, como é fenômeno recente, ainda se encontra em processo de ajuste, mas, já aponta indícios de que características típicas de seres humanos, em áreas urbanas, já não sobrevivam sem a hospedagem de gatos.

 Os gatos tornaram-se fundamentais para a afetuosidade humana e, também, para o passatempo das horas monótonas encafurnadas em pequenos cubículos de moradia. Ademais, a dispersão de deslocamentos de membros da família para serviços em lugares os mais variados, leva, aos que ficam em casa, a necessitarem de gatos como energia vital para sua existência a fim de passar as horas monótonas no isolamento humano.

            A compensação dos desencontros humanos devido aos deslocamentos para lugares de trabalho, encontra nos gatos o lenitivo que acalma os nervos, que atenua a libido, e que fornece a sensação de companhia agradável. Por outro lado, ainda que os gatos se lamentem em torno de mais comida, e refuguem a substituição de trato ao qual estão acostumados, são diferentes dos humanos que sempre querem algo diferente, um docinho, um chocolate, um trago, uma cervejinha, um prato que inove na aparência e no gosto.

            Em breve, casas e apartamentos humanos terão que contar com uma segunda despensa: uma para os humanos e outra para os felinos hospedados. Possivelmente, um longo processo permitirá que, tanto uns como outros, comam no mesmo prato, para sujar menos louça e dispensar a mente humana com muitas preocupações, toda vez que humanos vão aos supermercados e às farmácias.

            Algo que já indica algumas evidências da Gatose, é a dispensa de cestinhas, de pequenos cobertores e de outras fofuras para servirem de cama para os gatos. Estes passarão a dormir, necessariamente, ao lado de seus hospedeiros.

            Ainda se fará necessário um processo adaptativo para que o nariz humano não fique entulhado de pelos de gato e tranque a respiração humana, por enquanto, tão elementar para um bom sono humano. A convivência com mais gatos em ambientes muito reduzidos, também implicará em adaptação do corpo humano para não mais sentir as rinites alérgicas decorrentes da inalação de partículas de pelos dos gatos.

            Pelos de gatos, que em nossos tempos contingentes ainda são uma promiscuidade da interação humana-felina, poderão em futuro não muito distantes tornar-se remédio contra asma, rinites e gripes, pois, irão limpar os canais respiratórios e ainda enriquecê-los com vitaminas, proteínas, aminoácidos, sais e minerais.

            O processo interativo destes dois sistemas de vida, o dos humanos e o dos felinos, através da Gatose, irá trazer evidentemente alguns desafios aos atuais modos de vida dos humanos. Para que os mimados gatos não sujem seus pés, o carregamento braçal destes amados felinos, cada vez maiores e mais obesos, implicará em lordoses e desvios de coluna que também terão que ser ajustados à musculatura braçal para a adequada funcionalidade simbiótica.

            O afeto humano deslocado para os amorosos gatos, poderá, evidentemente, trazer uma nova doença: o desaparecimento do afeto entre seres humanos, uma vez que o afeto se desloca progressivamente para felinos e diminui na relação com criaturas humanas. Estas, assim que nascerem, terão que ser parecidas com as perdizes: assim que saem da casca, terão que ajeitar-se por conta para sobreviver. E terão que ser também como as serpentes peçonhentas: ao saírem da casca, saber soltar veneno mortal para assegurar sua auto-defesa e a sobrevivência na seleção das espécies.

 

domingo, 27 de abril de 2025

GATOSE IV


 

Em mais um pequeno tateio inquiridor sobre a Gatose, reparamos que a interação de felinos adaptados às carências humanas, leva-os a absorver características esquizofrênicas, que eram exclusivamente humanas.

 Assim, na captação de mais um traço humano, os felinos vivem uma inquietação contínua em torno da segurança assegurada pelos seus tutores. Na simples desconfiança de que estes se atrasam ao saírem, sem os levar juntos, já desencadeiam miados chatos e irritantes, certamente, pela possível pressuposição de que foram relegados e desvalorizados como focos únicos e exclusivos de amor humano.

Deste modo, os gatinhos super-mimados desenvolvem uma desconfiança doentia de pressupor que outros gatos possam estar sendo mais agraciados do que eles. Igualmente desenvolvem a desconfiança básica de poderem estar sendo preteridos e substituídos por outros, mediante constatação de que outros gatos possam ofertar e insinuar encantamento mais gratificante e profundo a seus tutores. Afinal, o que eles devem ter que eu não tenho? Mesmo extirpada a fluência da libido no sangue, será que isto faz tanta diferença?

 Esta obsessão de estarem sendo traídos, vira fator de depressão e estresse. Também leva a alergias. Na insistência de um pensamento compulsivo de que estejam sobrando, lambem parte do corpo, com aquela grosa áspera da sua língua, a tal ponto que o lugar começa a doer e sangrar. É um modo de expressar que sentem dor, que querem ser acudidos, bajulados pelo dói-dói, e receber, junto com muita atenção, aplicação de pomadinhas cheirosas e medicamentosas.

Neste campo da doença, os queridinhos, merecedores do amor intenso, para assegurar a exclusividade de muito gesto atencioso, também se tornam hipocondríacos, isto é, de tanto ouvirem falar em doença, absorvem a doença. Deste modo, ao apresentarem, continuamente, algum sintoma de algo errado nas funções orgânicas, tal diagnose lhes assegura e lhes garante, impreterivelmente, o desvelo especial pela sua saúde.

Nas consultas regulares aos veterinários, nos múltiplos exames e nos manuseios para as infindáveis observações, estes gatinhos metamorfoseados ampliam sua ninfomania. Que os veterinários mexam no corpo, que apalpem, que façam afagos, que emitam sussurros amorosos e que compensem a esterilidade através de mais colo.

Enfunados em espaços pequenos e limitados, doentinhos e mimados, já perderam a memória para as longas caminhadas, a fim de estabelecer encontros amorosos e procriadores com similares.

Dessexuados, e, sem libido a percorrer em seu sangue, os gatos afetados por Gatose, satisfazem seu mundo relacional com os mimos, e, muitos mimos durante o dia e em alguns momentos da noite.

Ver aqueles outros gatos, naquelas folias de lua cheia, brigando pela possibilidade de fechar um himeneu amoroso, subindo paredes, árvores e forçando a barra para intimidades, devem, enfim, produzir um sentimento doentio de banzo, saudade do tempo em que não foram cooptados por pessoas humanas para intimidades que fogem da sua natureza.

 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

FERIDA

 


De procedência infecciosa,

Ou duma agressão raivosa,

Requer o agir terapêutico,

Com recurso farmacêutico.

 

Higienizar e limpar a ferida,

Tarefa geralmente aturdida,

Dá a chance à recuperação,

Para exitosa transformação.

 

Nas inúmeras feridas sociais,

Aplicam-se sentenças banais,

Sem a terapêutica favorável,

Para restauração admirável.

 

Sobram incontáveis feridas,

Em posturas empedernidas,

Indispostos para agir na dor,

Sem um solidário pundonor.

 

O sinal das feridas de Cristo,

Lembra o seu agir benquisto,

Com real dificuldade de crer,

No seu distinto modo de ser.

 

Tomé lembra tal fragilidade,

De crer em Jesus divindade,

Sem humanidade redimida,

Nem atividade enternecida.

 

Sem atuar na comunidade,

Tomé viu sua parcialidade,

E não experimentou Cristo,

Porque sequer o tinha visto.

 

Tomé havia se negado crer,

E os testemunhos absorver,

Mas, junto na comunidade,

Sentiu um Jesus de bondade.

 

Ao captar bom clima de fé,

Declara-se ao filho de José,

Como seu Senhor de Deus,

A querer bem a filhos seus.

 

Clima da comunidade de fé,

Faz olhar para ferida como é,

E leva a alegrar-se no Senhor,

Para além da ação do terror.

 

 

 

GATOSE III

 


            Um olhar perfunctório sobre a Gatose, doença degenerativa que afeta tanto humanos, quanto felinos na sua simbiose doentia, permitiu observar, pelo lado dos gatos, que vivem a desgraça de terem que suprir demandas humanas, e assim, numa metamorfose obrigatória, acabam perdendo um traço de higiene básica, tão peculiar dos gatos, que é o do seu ritual de fazer cocô e xixi.

            Processos históricos longos levaram os felinos a terem muito cuidado com a evacuação. Possuem ainda o privilégio de não precisarem utilizar papel higiênico, e mesmo assim, quando andam livremente por jardins, hortas e pátios, cavam um pequeno buraco no chão, fazem suas necessidades fisiológicas, e, depois, puxam com as patas dianteiras a terra solta decorrente da escavação, por cima do produto despachado, até que a evacuação não emite mais cheiro desagradável.

            Para este ritual de evacuação, os gatos revelam, ou esperteza ou preguiça. Ainda falta apurar esta característica, porque gostam de escolher o espaço da horta, no meio das hortaliças, pois, já devem ter aprendido por experiência, que ali a terra é solta e fácil de ser removida para uma cavidade, a fim de proceder o movimento peristáltico na maciez da fofura do solo.

            Já os gatos que caíram nas mãos humanas doentias, são bloqueados para este solene ritual de defecação. Forçados a fazer xixi e cocô, nos banheiros humanos, ali produzem algo que é contra a sua natureza: deixam que seu cocô e seu xixi emitam mau cheiro, não apenas no banheiro, mas, também pela casa ou no apartamento. De tanto que se acostumam ao cheiro fétido, nem desejam mais outra coisa do que este ambiente de odores graveolentes. Trata-se de uma espécie de “Brain Rot” (Cérebro podre) que os acomete, e, de tanto que se acostumam com ares fétidos, nem desejam mais ar puro da natureza e do meio-ambiente.

            Reféns da morbidez humana, os gatos da compensação afetiva destas criaturas carentes e extraordinariamente intelectivas, tornam-se literalmente relaxados. Nem reagem mais ao cocô que espalham no banheiro ou nos outros ambientes da casa; e passam a viver num ambiente de m (*).

            Como fazem xixi no chão do banheiro e pisam sobre o dito xixi, espalham seu odor pelo colo dos que os afagam e também sobre cadeiras, poltronas, camas e tapetes. Esta promiscuidade, gera um ambiente muito desconfortável nas pessoas não contaminadas pela Gatose, que as visitam. Além do mais, quando os felinos adoentados se tornam o assunto principal das conversas, a digestão da conversação não sobe ao cérebro humano e nem desce ao estômago humanóide. Resulta, então, aquele refluxo causticante a produzir ardência na garganta, isto, sem mencionar os gases indecisos que não sabem se sobem no rumo do cérebro podre ou se descem ao “forébis” para um despacho volátil pelos ares.

            Entre os prejuízos que a Gatose provoca nos gatos domesticados, também está a perda da destreza, da acuidade e da paciência para esperar uma caça. Acostumados aos granulados, viram obsessivos por comida. Com excesso de peso e perda progressiva da rapidez para se locomover, estes gatos tornam-se incapazes de caçar para assegurar alimento que lhes seria saudável. Por isso, acomodam-se à rotina de esperar os granulados coloridos e crocantes e, para preencher seu tempo ocioso, voltam, a cada poucos instantes, para comer até exaurir o que está na travessa servida, a única fonte de satisfação, tanto libidinosa, quanto de preenchimento do tempo monótono.

            Mais outro efeito da simbiose felina com humanos doentes, é o da estranheza diante dos próprios congêneres. Assustam-se ao verem gatos saudáveis, magros, ágeis, espertos e atentos, capazes de saltos ornamentais e de proezas fantásticas em seus jogos lúdicos, pois, acostumados a uma rotina enfadonha, de um dia como outro, já não sabem mais o que fazer junto aos seus familiares e parentes próximos.

 

quinta-feira, 24 de abril de 2025

GATOSE II

  

            Em mais um pequeno tateio hermenêutico sobre a doença da Gatose, pudemos observar outra nuance desta doença humana, mas, especialmente, pela sua repercussão na vida dos gatos, alvos do afeto intenso e profundo por parte de seres humanos.

            Tudo indica que a Gatose se relaciona com Metamorfose: uma transformação gradual dos traços humanos, mas, ao mesmo tempo, mudança profunda na vida dos gatos super-mimados, que se aproximam muito mais dos humanos do que dos gatos originais.

            Pela raiz arqueológica, os gatos são transformados em eunucos, como os antigos eunucos humanos dos reis e das rainhas. Significa que perdem suas características naturais de sexualidade e procriação. Os machos são castrados e as fêmeas recebem hormônios para perderem a possibilidade reprodutora. Esvaídos deste direito milenar, os felinos são largamente transtornados em seu mundo de generatividade. Com isso, caem as possibilidades do exercício da sua paternidade, e eles acabam compensando seus traços instintivos e animalescos no deslocamento para os donos humanos, a fim de ficarem, precipuamente, devotados a estes humanos doentes que os exploram em afeto e requerem que este afeto seja canalizado apenas para eles.

            Nesta estranha simbiose, os prognósticos não são nada alvissareiros. Nem os humanos de Gatose e nem gatos vítimas da Gatose, terão vida longa sobre a Terra, porque, profundamente degenerados, não se reproduzem mais. Assim, o desaparecimento será evidente em questão de pouco tempo.

            Ademais, os gatos são vitimados pelas doenças humanas: já necessitam de tratamentos terapêuticos da medicina veterinária, similares aos dos tratamentos medicamentosos a humanos, na imitação literal das doenças humanas: depressão, estresse, “Burnout”, hipertensão, fadiga, neuroses, psicoses, hipocondrias, aquelas listas de doenças psiquiátricas e psicológicas, cálculos renais, câncer de ovário, câncer de próstata, sem contar as intermináveis outras doenças psicossomáticas humanas. No entanto, as doenças mais comuns que afetam a vida dos gatos decorrem da sua vida sedentária. Por isso, andam com excesso de peso, devido aos alimentos super-processados, precisam tratamentos contínuos para colesterol, para combater diabetes, doenças urinárias, sem mencionar aquela infinidade de problemas histéricos, cardíacos e psíquicos e de deslocamento de sintomas.

            Um dos muitos problemas psíquicos, que cai na vista em poucos instantes de observação destes gatos, é o seu ciúme mórbido, já absorvido dos humanos. Querem lugar exclusivo e excludente no colo e na cama da mãezona humana. Querem os lugares centrais na mesa, e brigam se alguém ocupa seus lugares no sofá. Ai se alguém ocupar seu lugar!

            Ao mesmo tempo que estes gatos são ciumentos, já metamorfoseados em humanos, tornam-se psiquicamente dependentes. Sem autonomia para quaisquer iniciativas, resta-lhes olhar seus donos, expressar afeição da sua sexualidade deslocada com esfregas supostamente amorosas nas suas pernas a fim de granjear alguma conversa meiga dos que lhes dão casa, comida e cama. Ficam tão parecidas com pessoas humanas viciadas em celular. Nada tem graça, mas, naquela feição de nojo, seguem focados nestas coisas sem graça.

            Os gatos metamorfoseados podem até assistir cenas eróticas, nas camas e nos aparelhos de transmissão televisiva, mas, nada comentam sobre o que viram, ouviram e pensaram. Nesta limitação, o devotamento exponencial aos humanos doentes, torna-os assistentes passivos e estreitamente dependentes dos seus tutores.

sábado, 19 de abril de 2025

GATOSE

 

            Sem pesquisas arqueológicas, científicas e, nem mesmo, através de pesquisas empíricas, chegou este pobre vivente, por mero e descuidado acaso, a observar algo que parece ser a emergência de mais uma doença social, com periculosidade de terminar com amores humanos entre si. Recém diagnosticada, esta nova emergência de amor por gatos avança mais do que aquelas mais conhecidas, como “Psicose sádica”, “Paranóia”, “Mania de grandeza” “Piromania”, etc.

 Ao lado das recém anunciadas como novas doenças, tipo “Cérebro Podre” (Brain Rot) que leva as pessoas a desejar manusear o celular o tempo todo e ficar ocupado somente com ele; “Amouco” que consiste em renunciar a uma posição pessoal para brigar, matar e perseguir, simplesmente para satisfazer a ideia maluca de um líder; ”Piromania”, gosto mórbido pelo fogo, guerra, morte e destruição; eis que este pobre vivente constatou, por um casual e despretensioso olhar, o jeito de algumas pessoas lidarem com seus gatos.

A Gatose (Gato + doenças psíquicas terminadas em “ose”, como neurose, psicose, etc.), constitui uma doença de deslocamento do foco afetivo-emocional, precípuo do ser humano, deslocado para o gato. Escolhi a palavra Gatose e já a acrescentei a lápis no meu dicionário, para denominar a referida doença. Quem sabe, uma hora descubro um jeito de acrescentá-lo, também a lápis, nos dicionários da Internet.

Gatose, palavra até simpática e chamativa para uma doença, consiste, pois, de acordo com a suposta descoberta, nesta paixão deslocada de um afeto profundo pelo querido animalzinho gato, seja ele macho ou fêmea.

Todo afeto não explicitado a seres humanos é direcionado em dobro sobre o pequeno felino. Fala-se com ele, num tom de voz intimista, afetuoso, carregado de amor e de beijos, numa voz embargada, com olhares contemplativos, sorrisos extasiantes e uma expressão facial do himeneu do amor de um clímax amoroso. Os gemidos chegam a extrapolar as medidas de conveniência.

O colinho, os afagos, as perguntas feitas aos mimosos, a fala sobre as suspeitas das suas doenças, os tratos, os modos de recolher o cocô e o xixi dos amados, tudo vira um heroico ato de amor profundo, incomparavelmente maior do que o amor maternal a uma criança.

Na sintomatologia da Gatose, está esta doçura, mesclada com ternura, e a conversa durante o dia todo com os mimosos, como se eles fossem os filhos prediletos a merecer, junto com o monólogo, o maior amor do mundo. Por outro lado, discordância do pensamento único destas pessoas, tão profundamente amorosas, produz instantâneas explosões de fúria e ódio profundo.

O primeiro sintoma está ligado à reação abrupta e intensamente raivosa diante de algumas palavras: como Paulo Freire, governo, política nem de esquerda e nem de direita, liderança nacional, etc.

A Gatose está a revelar um contágio coletivo crescente. Ainda não foi feito estudo se decorre da raiva que o gato transmite e que afeta o sistema nervoso central, produzindo, numa progressão rápida a hiperatividade agressiva, com fúria para depois entrar em coma. Tampouco se sabe se tal deslocamento procede dos outros contágios de doenças dos gatos para os seres humanos, tais como esporotricose, toxoplasmose, micose, stafilococo, leptospirose, cistites, infecções urinárias e alergias.

A suspeita deste incauto observador é a de que a doença da Gatose provenha de desencanto profundo com pessoas escolhidas para ser feliz, decepção ainda maior com filhos e netos e, assim, os fluxos naturais destas energias amorosas acabam projetados nos felinos que não retrucam, que não contrariam a fala, que não questionam ideias fanatizadas, porquanto estes queridinhos plenificam, pelo menos aparentemente, o êxtase do amor profundo da criatura humana. Na sua pior maldade, estas lindas e encantadoras criaturas, podem dar uma aranhada ou uma pequena mordidinha. Por conseguinte, não são imprevisíveis, mutáveis e auto-transcendentes como os humanos!

sexta-feira, 11 de abril de 2025

MULHERES PERIGOSAS


 

Incontável a conotação de sentido,

Seja do vivente comum ao arguido,

Quando o assunto é hermenêutico,

Sobre um feminino jeito maiêutico.

 

Velho ditado indicava não discutir,

Sobre gosto e mulher ao se arguir,

Pois incontáveis e infindas razões,

Subjaziam nas suas efetivas ações.

 

Lista sem fim de louvores à mulher,

Encontráveis em lugares quaisquer,

Não escondem mistério insondável,

De sua reação súbita e impensável.

 

Cantores exaltam a periculosidade,

Do olho invasivo de profundidade,

Da mulher que dá um tiro certeiro,

No coração do homem aventureiro.

 

Se paixão rebola no olhar cativante,

O processo se torna mais insinuante,

E desperta incontáveis razões à vida,

Para a completude de amor e garida.

 

Apesar disso, cultivo do pensamento,

O único, do ódio para humano alento,

Produz levas de mulheres perigosas,

De personalidades meigas e raivosas.

 

Fantasticamente mimosas e meigas,

Com cachorrinhos e gatos nas teigas,

São cobras prontas para bote mortal,

A discordantes da raiva descomunal.

 

Alimentadas na rede de informações,

Que vomita um ódio aos borbulhões,

Guiam-se pelo seu fanatismo gerado,

E soltam fúria e crítica por todo lado.

 

Humanos, ou são amigos ou inimigos,

E se não compartilham seus fustigos,

Que aguentem o veneno compulsivo:

O ódio cultivado em coração abrasivo.

 

Rompem convívio longo e harmonioso,

Diante do cordato fato despretensioso,

De comentar algo que não se coaduna,

Com sua estreita e categórica tribuna.

 

 

 

quinta-feira, 10 de abril de 2025

FILOFASCISMO DE FAMA

 

 

Farta argumentação produzida,

Gerenciou uma luta aguerrida,

Para que todo patriótico cidadão,

Aderisse ao mobilismo de paixão.

 

Era preciso obter superioridade,

E embate à comunista sociedade,

Ladeada pela socialista proposta,

Através de dura contraproposta.

 

Fabricantes da teoria do medo,

Irradiaram a tática do segredo:

Espalhar máximo ódio possível,

Contra um inimigo presumível.

 

Fábrica da modificação genética,

Criou a cultura de lida sem ética,

E aliada com ditaduras militares,

Gestou fascismos sem similares.

 

Tudo focado contra um inimigo,

Excesso de divulgação do perigo,

Estufou sociedade democrática,

Para engolir a autoritária tática.

 

Virose contagiante sem controle,

O autoritarismo virou rocambole,

Intragável para convivência social,

E frustrante na política estrutural.

 

Autoritarismo aclamado como bom,

Criou nas multidões da contra-mão,

Uma presunção categórica e fascista,

Sequer suportável na visão direitista.

 

Mentes geneticamente formatadas,

Agora se apresentam descontroladas,

E fazem da política campo de guerra,

Sem o neutralizador do que os ferra.

 

Sobrou um monstro ódio de espírito,

Como diploma superior de demérito,

Que extermina e mata na pífia razão,

De eliminar inimigo de má reputação.

terça-feira, 8 de abril de 2025

DRAGÃO SIMBÓLICO

 

 

Ante império romano decadente,

Um analista atento e consciente,

Apontou para horizonte inusitado,

Na frente do império acanalhado.

 

O dragão, feito império da morte,

Com o seu rabo comprido e forte,

Derrubava as estrelas reluzentes,

Que iluminavam atos indecentes.

 

O redator do livro do Apocalipse,

Em animada mensagem de elipse,

Vê o declínio iminente do dragão,

E olha para frente da complicação.

 

Na potência hegemônica teimosa,

Nem se admitia queda desastrosa;

Disputava-se o controle comercial,

E subjugava-se por domínio global.

 

Enquanto matava supostos inimigos,

Outro império, os deixou mendigos,

E o olhar de fé apocalíptica apontou,

Para a nova interação que despontou.

 

Se o dragão derrubou valiosas estrelas,

Dois terços delas abriam suas chancelas,

Para que modo bom e genuíno de Cristo,

Abrisse mundo humano mais benquisto.

 

Olhar para frente com outra consciência,

Aceitava romano terror e maledicência,

E permitia uma ação irradiante e cordial,

No jeito de Jesus, para respeito mundial.

 

A ruidosa queda do império decadente,

Secundário ante um mundo ascendente,

Na perspicácia fina de homem comum,

Apontava alegria da esperança incomum.

 

O rabo de outro império, vitupera o ódio,

No desespero por manter decaído pódio,

E discurso violento na batalha financeira,

Já vai se assando no fogo da nova lareira.

 

Ameaça com bomba, bloqueio e ataque,

Já não acode argumentação de achaque,

Pois cada país deseja maestria soberana,

Com a interação que mais países irmana.

 

 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

HIPOCRISIA RELIGIOSA

 

 

Irracionalidade religiosa humana,

Produz religião ilusória e sacana,

Consegue milhões de seguidores,

E apregoa os divinos esplendores.

 

Se a assessora e pastora pessoal,

De Presidente metido a triunfal,

O endeusa na divina iluminação,

Algo espanta nesta justificação.

 

Visa a teologia da prosperidade,

Vê as finanças como prioridade,

Das bênçãos divinas retribuídas,

Para formas humanas merecidas.

 

Serviço religioso-governamental,

Anima em nome de Jesus triunfal,

Que a rede do poder demoníaco,

Caia frente ao iluminado maníaco.

 

Divinamente abençoado por Deus,

Vence estratégia de inimigos seus,

Porque ele possui a força vitoriosa,

Contra inferno e sua ralé maldosa.

 

Nesta fantasia ante o sobrenatural,

Suposto privilégio do além mortal,

Permite a venda de ilusório milagre,

Para encher muita cabeça de bagre.

 

Na prática fetichista que infantiliza,

Suposta graça divina, que demoniza,

Apenas justifica sistema espoliador,

Que no mundo todo espalha terror.

 

Tanto resignado sem sair da miséria,

Confiante numa crassa mentira léria,

Ouve voz da malandragem atrevida,

Como ação divina por Deus auferida.

 

Se a intervenção divina é mediada,

Por apenas alguma pessoa dotada,

Então, o deus adorado da cortesia,

É apenas o da capitalista franquia.

 

 

 

sexta-feira, 4 de abril de 2025

UM OLHAR DE TERNURA

 

 

Quando o judaísmo sob controle romano,

No início da era cristã, no religioso abano,

Credenciava pertença à Roma imperialista,

Favoreceu uma ala conservadora integrista.

 

Fariseus e doutores da lei, os privilegiados,

Com o seu rigorismo de jeitos acanalhados,

Tornavam-se infensos ao interesse romano,

E rigorosos punidores do proceder de dano.

 

Amparo na vetusta lei de morte a adultério,

Dava-lhes um direito de caçar por vitupério,

E controlar a vida alheia nas noites escuras,

Para ostentar as suas edificantes bravuras.

 

Se tal serviço interessava a romanos ávidos,

Discriminava de modos cruéis e impávidos,

As mulheres, sem similar castigo a homens,

E os tornava precípuos e pífios lobisomens.

 

Jesus, sem endossar o erro, revelou ternura,

E respeito profundo sem ostensiva cara dura,

E apenas sugeriu mudança comportamental,

Enquanto questionou o puritanismo brutal.

 

Julgar outros com coração prenhe de pecado,

Revela uma justiça fingida de teor desafinado,

Que não abre caminho a quem errou na vida,

E imobiliza a sociedade para ser compadecida.

 

Deus certamente passa longe da mesquinhez,

Que persegue e que não perdoa a insensatez,

De viver e conviver com situação de pecado,

E sentir-se, por Ele, salvo e todo privilegiado.

 

Estruturas de pecado pautadas como santas,

Justificam os fanatismos de leis sacrossantas,

Para matar sob o falso atributo do bom Deus,

E produzir caos religioso em ambientes seus.

 

 

 

 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

NAÇÕES ANÉXICAS

 

 

Os autoritarismos nacionalistas,

No foco de afastar extremistas,

Caçaram os lideres inspiradores,

E mitificaram heróis salvadores.

 

A ausência de figuras visionárias,

Enseja as imposições autoritárias,

Destituídas de magnetismo moral,

Escoradas pela firmeza magistral.

 

Gestores tecnocratas na animação,

Focam e direcionam a acumulação,

Para amigos e grupos oligárquicos,

Com povão nos rumos anárquicos.

 

Na confiança em políticos, erodida,

Sabem eles aquilatar na sua medida,

O populismo da imagem paternalista,

Laureada pela promessa imediatista.

 

Longe de posturas éticas consistentes,

Prevalecem as propostas insinuantes,

Favoráveis aos ditos líderes impostos,

E a seu interesse político de arrostos.

 

A eventual proposta transformadora,

Sem efetivar uma mudança inovadora,

Firma o olhar na vantagem possível,

A enaltecer o aparato de ser visível.

 

Descartam-se todas as alternativas,

Para deificar o único, de invectivas,

E constituí-lo mandante poderoso,

Para um povo passivo, mas, airoso.

 

Reforço globalizado da indiferença,

Diminui toda e possível boa crença,

De que líder representativo inspire,

Algo que povo de uma nação mire.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 2 de abril de 2025

A CULPA É DELE

 

 

Feito para a ótima interação,

Lindo que apaixona coração,

O celular, um lídimo fetiche,

Se presta ao diário pastiche.

 

Imitação de influenciadores,

Produz fanáticos brigadores,

Focados no aparelho celular,

Insensíveis à riqueza do olhar.

 

O foco único do pensar único,

Seduz incremento mediúnico,

Da insensibilização de pessoas,

Vistas como apavorantes ilhoas.

 

Se o olhar para a tela sedutora,

Assegura a atenção motivadora,

Relega-se um olhar para pessoa,

E para ver o que do rosto ressoa.

 

Formato de celular tão atraente,

Desvia olhos do humano carente,

E despeja sobre ele ódio doentio,

Para preencher seu isolado fastio.

 

Ciberbullying veiculado no celular,

Globaliza a indiferença do xingar,

E impõe o argumento autoritário,

Sem algum horizonte visionário.

 

Sob populismo sem ética decente,

Some a luz de alegria abrangente,

E o fetiche do aparelho simpático,

Produz o relacionamento apático.

 

Enlevado no miolo de cada sujeito,

O celular produz tanto desrespeito,

Que desagrega parca sociabilidade,

A já tão esmilingüida, na sociedade.

 

 

 

<center>COLONIALIDADE</center>

  Este traço humano precípuo, Lídimo manifesto conspícuo, Revela na obsessão humana, Algo que choca e desengana.   Abrange modo ...