Estamos em
tempo de muita adoração da personalidade nos serviços prestados numa comunidade
de fé. Se, de um lado, a centralidade de Cristo é deslocada para a
personalidade de quem se sente diretamente privilegiado com poderes especiais e
superiores aos demais, por outro lado diminuem cada dia mais, os que estão
dispostos a “remar” junto com os outros nos serviços da comunidade.
Nos tempos
do império romano, e, possivelmente já antes dos romanos, o deslocamento de
barcos pequenos ou de navios dependia da força muscular humana. Pode-se
imaginar o que representava um confronto de guerra ou outra adversidade, e a
velocidade do navio dependia dos remadores que ficavam no porão do navio.
O que se aprendeu do consenso, já em tempos
muito antigos, foi que o ritmo cadenciado de puxar e soltar os remos se tornava
imprescindível para o êxito do processo de navegação. Se alguém não seguisse rigorosamente o ritmo
das remadas, com os demais, fazia força à toa e se cansava sem demora. Eles
falavam da palavra “upêretas”. Não cabia ficar querendo algo contrário à
uniformidade cadenciada de puxar e repuxar os remos, pois a sintonia com o
grupo se tornava essencial para o melhor rendimento.
São Paulo, -
ao constatar que na comunidade cristã de Corinto havia acirrada disputa por
precedência de algumas lideranças e formação de facções de simpatizantes em
torno de uns e de outros, - foi categórico ao lhe mostrar que todos os agentes
de evangelização da época teriam que estar sintonizados na finalidade do “navio”
e não de seus atributos pessoais. Importava o ritmo coletivo destes agentes e a
profunda sensibilidade para movimentar os remos no mesmo compasso dos demais.
O desempenho
das funções de animação numa comunidade cristã depende fundamentalmente da
capacidade de sintonia dos animadores. Quando cada um quer alargar seu
fã-clube, acaba, evidentemente, ficando relegada a razão e a causa do
deslocamento do navio... A galera dos
agentes de sinais do amor de Deus precisa que todos se constituam em servidores
de Cristo e não em protagonistas dos gostos pessoais e interesseiros.
Paulo
certamente tinha presente o ensinamento de Jesus Cristo que (segundo Mt 6,
24-34) fala da impossibilidade de se seguir adequadamente a dois senhores. Presume-se
que estava em jogo um traço que já tinha causado grandes danos à religião
judaica: a de fazer leis para cultivar fidelidade a Deus, e, depois ficar
atrelado de forma hipócrita às exterioridades de prática destas normas.
Evidencia-se da comparação que a opção por Deus deve levar a pessoa de fé a
tornar-se capaz de tomar decisões, por vezes, radicais, porque o atrelamento a
muitas dependências inviabiliza um bom discipulado ao projeto de Jesus Cristo.
Muito mais
do que passiva resignação à prática de certas praxes de se colocar na espera da
resolução de tudo por parte de Deus, é preciso focar o que objetivamente conduz
ao reino anunciado por Jesus Cristo. Podem muitas práticas, mesmo muito festivas,
emocionantes e cheias de apelação aos milagres divinos induzir ao outro tipo de
senhorio: o de alguém que quer aparecer a todo custo e se tornar notável pelos
seus poderes espirituais, e, para a sua glorificação.
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