No aparente
sucesso do formalismo impecável nos gestos, nas vestimentas e na execução minuciosa
dos ritos e cantorias, parece que o campo religioso descobriu, enfim, um
caminho de vasta e exitosa prosperidade.
Não poucos
atuantes transformam os momentos celebrativos em especiais mediações para
alargar o alcance da sua imagem e para se agraciarem a si mesmos com o ar do
sucesso e da jactância de sua notoriedade. Na aparente luz irradiadora que
salva o séquito de admiradores, pode estar acontecendo um ledo engano, pois, no
detalhismo irrepreensível da execução cúltica, e na sofisticada ornamentação
para climas festivos e envolventes, não se configura nada da motivação
celebrativa propugnada por Jesus Cristo.
Na história
bíblica muitos momentos repetiram esta ilusória perspectiva e profetas, como
Isaías 58, 8-10, apontaram outros procedimentos como expressão valiosa de
culto. Não basta cantar glórias ao Senhor e exultar pelos milagres e pelas
curas, quando a vida perde a capacidade de gestos humanitários. Esta luz
incandescente é como a dos rojões. O lume da claridade se some num pequeno
instante. De forma parecida, muito ato serve mais para enaltecer a própria
precedência do que para fazer diminuir ou desaparecer os instrumentos de
controle e de opressão, desenvolvidos de maneira sutil nos autoritarismos e nas
linguagens que visam maldade contra pessoas.
Sob este
contexto podemos entender o ensinamento de Jesus Cristo, ao apresentar à
multidão pobre em espírito, uma nova dimensão da solidariedade: teria que ser
como o sal que conserva, e que purifica o ambiente, além de propiciar sabor aos
alimentos, isto é, o reino novo, o das bem-aventuranças, para os seguidores de
Cristo deveria implicar em “luz” constante capaz de propiciar satisfação à
organização da vida.
O louvor e a
glória de Deus decorrem de um ambiente de relacionalidade. É dele que emerge a
razão da expressão efusiva de louvores. Certamente a melhor imagem da condição
de uma lamparina, para poder iluminar um ambiente, é a de que esteja em lugar
elevado. É da elevação de gestos e procedimentos que se ratifica a aliança nova
com Deus.
Hoje
constatamos, com certeza, na imagem do sal insípido, o quanto pessoas não
melhoram a qualidade da vida pelo que celebram liturgicamente. Afinal, de onde
poderia advir “qualidade do sal”? A vivência religiosa certamente pode dar
outro sabor às condições da vida e da convivência humana.
Não seria
desejável ver que uma prática religiosa, aliada aos sistemas injustos que espoliam
fracos e pobres, agrida pelo formalismo de um culto transformado em “Schow”
para distrair.
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