sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O esplendor celebrativo




            No aparente sucesso do formalismo impecável nos gestos, nas vestimentas e na execução minuciosa dos ritos e cantorias, parece que o campo religioso descobriu, enfim, um caminho de vasta e exitosa prosperidade.
            Não poucos atuantes transformam os momentos celebrativos em especiais mediações para alargar o alcance da sua imagem e para se agraciarem a si mesmos com o ar do sucesso e da jactância de sua notoriedade. Na aparente luz irradiadora que salva o séquito de admiradores, pode estar acontecendo um ledo engano, pois, no detalhismo irrepreensível da execução cúltica, e na sofisticada ornamentação para climas festivos e envolventes, não se configura nada da motivação celebrativa propugnada por Jesus Cristo.
            Na história bíblica muitos momentos repetiram esta ilusória perspectiva e profetas, como Isaías 58, 8-10, apontaram outros procedimentos como expressão valiosa de culto. Não basta cantar glórias ao Senhor e exultar pelos milagres e pelas curas, quando a vida perde a capacidade de gestos humanitários. Esta luz incandescente é como a dos rojões. O lume da claridade se some num pequeno instante. De forma parecida, muito ato serve mais para enaltecer a própria precedência do que para fazer diminuir ou desaparecer os instrumentos de controle e de opressão, desenvolvidos de maneira sutil nos autoritarismos e nas linguagens que visam maldade contra pessoas.
            Sob este contexto podemos entender o ensinamento de Jesus Cristo, ao apresentar à multidão pobre em espírito, uma nova dimensão da solidariedade: teria que ser como o sal que conserva, e que purifica o ambiente, além de propiciar sabor aos alimentos, isto é, o reino novo, o das bem-aventuranças, para os seguidores de Cristo deveria implicar em “luz” constante capaz de propiciar satisfação à organização da vida.
            O louvor e a glória de Deus decorrem de um ambiente de relacionalidade. É dele que emerge a razão da expressão efusiva de louvores. Certamente a melhor imagem da condição de uma lamparina, para poder iluminar um ambiente, é a de que esteja em lugar elevado. É da elevação de gestos e procedimentos que se ratifica a aliança nova com Deus.
            Hoje constatamos, com certeza, na imagem do sal insípido, o quanto pessoas não melhoram a qualidade da vida pelo que celebram liturgicamente. Afinal, de onde poderia advir “qualidade do sal”? A vivência religiosa certamente pode dar outro sabor às condições da vida e da convivência humana.
            Não seria desejável ver que uma prática religiosa, aliada aos sistemas injustos que espoliam fracos e pobres, agrida pelo formalismo de um culto transformado em “Schow” para distrair.


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