quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Partidarismo religioso



         Enquanto a função dos múltiplos partidos políticos ajuda a revelar as muitas sujeiras que são jogadas debaixo do tapete das aparências, no quadro religioso, algo similar se manifesta em torno de rompantes passageiros de alguns movimentos e, quando se presumem no papel redentor da Igreja tendem a criar grandes rupturas nas comunidades através da fanatização dos membros.
            Geralmente não costuma estar ausente uma concepção fundamentalista para assegurar que a novidade do que se oferece é da raiz essencial do cristianismo, quando, na verdade, costuma ficar bem distante das sugestões dadas por Jesus Cristo.
            A construção de uma comunidade cristã encontra reais e causticantes dificuldades para ajustar bandeiras fanatizadoras e que, facilmente, beiram o lado da morbidez, sobretudo em porta-bandeiras que se orientam excessivamente no campo afetivo-emocional e assim perdem a compostura do bom senso. Vem se manifestando muito exagero com clara perspectiva de arrebanhar um grande quadro de membros. Para a conquista, nada mais eficaz do que a apelação a milagres, a curas e a acessos especiais aos dons e poderes divinos.
            A antiga orientação do povo judaico ao orientar um caminho de santidade já sugeria que fosse do jeito que Deus é santo. Na expressão concreta de vivência do caminho da santidade deveria salientar-se, acima de tudo, a caridade para com o próximo (Lv19,1ss).
            No afã do sucesso, a caridade tende a ficar relegada e, então, o que acaba se impondo sob o quadro religioso é disputa cega em que a foice da palavra corre solta para todo lado. São Paulo ao interpretar o significado da cruz de Jesus Cristo é que ele não permite valer-se do espaço religioso e de culto para a busca da própria personalidade cultuada. A tendência de grupos e movimentos fechados no interior da Igreja, que se centralizam em fã-clubes e na mitologização de certos líderes, tende a produzir inestimável estrago. Como na comunidade primeva de Corinto, Paulo viu o desempenho da comunidade de fé desmoronar-se por causa do partidarismo de simpatias em torno de alguns dos seus animadores (1Cor 3, 16-23). Ele foi enfático ao salientar que tal procedimento anulava a comunidade na sua unidade com Cristo, e que não passava de uma insensatez e de uma sabedoria de vanglória deste mundo.
            Cristo, por sua vez havia salientado que o quadro dos seus seguidores deveria constituir-se no cultivo da capacidade de mansidão e na progressiva ascensão para chegar ao nível mais elevado (ágape) de um amor não possessivo. Sob esta condição, a aproximação do jeito de Deus de amar de graça ainda tem longo percurso a ser percorrido. E como se precisa de perdão para não entrar no ciclo da vingança de pessoas obcecadas em seus fanatismos e, por isso, de maledicências que chegam aos limiares do absurdo, mas que continuam convencidos de sua superioridade para alargar suas dilacerações contra quem não endossa suas doentias ambições.

            Que a graça de Deus nos permita caminhos religiosos que trilhem outro caminho do que o da intolerância e da agressividade aguda, presente em tantos partidos políticos, que vociferam uns contra os outros, distantes da lei do perdão.

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