Enquanto
a função dos múltiplos partidos políticos ajuda a revelar as muitas sujeiras
que são jogadas debaixo do tapete das aparências, no quadro religioso, algo
similar se manifesta em torno de rompantes passageiros de alguns movimentos e,
quando se presumem no papel redentor da Igreja tendem a criar grandes rupturas
nas comunidades através da fanatização dos membros.
Geralmente
não costuma estar ausente uma concepção fundamentalista para assegurar que a
novidade do que se oferece é da raiz essencial do cristianismo, quando, na
verdade, costuma ficar bem distante das sugestões dadas por Jesus Cristo.
A construção
de uma comunidade cristã encontra reais e causticantes dificuldades para
ajustar bandeiras fanatizadoras e que, facilmente, beiram o lado da morbidez,
sobretudo em porta-bandeiras que se orientam excessivamente no campo
afetivo-emocional e assim perdem a compostura do bom senso. Vem se manifestando
muito exagero com clara perspectiva de arrebanhar um grande quadro de membros.
Para a conquista, nada mais eficaz do que a apelação a milagres, a curas e a
acessos especiais aos dons e poderes divinos.
A antiga
orientação do povo judaico ao orientar um caminho de santidade já sugeria que
fosse do jeito que Deus é santo. Na expressão concreta de vivência do caminho
da santidade deveria salientar-se, acima de tudo, a caridade para com o próximo
(Lv19,1ss).
No afã do
sucesso, a caridade tende a ficar relegada e, então, o que acaba se impondo sob
o quadro religioso é disputa cega em que a foice da palavra corre solta para
todo lado. São Paulo ao interpretar o significado da cruz de Jesus Cristo é que
ele não permite valer-se do espaço religioso e de culto para a busca da própria
personalidade cultuada. A tendência de grupos e movimentos fechados no interior
da Igreja, que se centralizam em fã-clubes e na mitologização de certos líderes,
tende a produzir inestimável estrago. Como na comunidade primeva de Corinto,
Paulo viu o desempenho da comunidade de fé desmoronar-se por causa do
partidarismo de simpatias em torno de alguns dos seus animadores (1Cor 3,
16-23). Ele foi enfático ao salientar que tal procedimento anulava a comunidade
na sua unidade com Cristo, e que não passava de uma insensatez e de uma
sabedoria de vanglória deste mundo.
Cristo, por
sua vez havia salientado que o quadro dos seus seguidores deveria constituir-se
no cultivo da capacidade de mansidão e na progressiva ascensão para chegar ao nível
mais elevado (ágape) de um amor não possessivo. Sob esta condição, a
aproximação do jeito de Deus de amar de graça ainda tem longo percurso a ser
percorrido. E como se precisa de perdão para não entrar no ciclo da vingança de
pessoas obcecadas em seus fanatismos e, por isso, de maledicências que chegam
aos limiares do absurdo, mas que continuam convencidos de sua superioridade
para alargar suas dilacerações contra quem não endossa suas doentias ambições.
Que a graça
de Deus nos permita caminhos religiosos que trilhem outro caminho do que o da
intolerância e da agressividade aguda, presente em tantos partidos políticos,
que vociferam uns contra os outros, distantes da lei do perdão.
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