A história
humana vive impregnada de polarizações estabelecidas entre o que é considerado
bom e o que é assimilado como ruim. Ainda que se queira apenas o que é bom, um
ato maldoso ou agressivo tende a despertar naturalmente para o revide. Neste processo,
a violência se prolonga, muitas vezes para além da morte, pois, outras pessoas
assumem a causa da vingança desejada.
De uma forma
geral, apenas duas instâncias conseguem brecar os processos de violência: uma
instância judicial mais elevada ou a delegação religiosa para que Deus resolva
a questão em conflito, o que leva uma das partes, mesmo sentindo-se
prejudicada, a aceitar que perdeu. Até mesmo este perdão costuma demorar bem
mais do que o desejado.
Como o
mecanismo da vingança tende a prolongar no tempo a maldade implantada, restam
de fato duas alternativas: ou apelar a uma instância jurídica maior e com o
risco de ser derrotada no julgamento; ou acolher a orientação religiosa de
perdoar e delegar a Deus o discernimento sobre os fatos. Infelizmente o quadro
religioso não está isento dos processos violentos que resultam de leituras
contrárias ou antagônicas a respeito do que é considerado bom ou ruim.
A
experiência bíblica antiga já salientava que as pessoas deveriam saber colocar
diante de si as duas polarizações do bem e do mal e escolher o que se encaixa
no lado do bem. Assim, como em Lt 17 a 25, aparecem contraposições e convites
para uma escolha que se aproxime da santidade de Deus e que, necessariamente,
implica em perdoar. Este apelo moral tinha também um pressuposto para as
relações com países vizinhos de Israel: em vez de guerras, conflitos e
vinganças, boa acolhida aos estrangeiros. Certamente os colecionadores das
frases de sabedoria já tinham percebido que o fim da vingança nunca é bom, e,
num certo momento, obriga a resignar-se diante da violência ocorrida.
Quando a
educação insinua às crianças, desde muito cedo, a serem espertas e levar
vantagem sobre outras da sua faixa etária, geralmente se reforça a noção de que
não devem levar desaforo para casa. Das orientações dadas por Jesus Cristo
(como em Mt 5, 38-48) e que, aparentemente, parecem absurdas, decorre algo mais
profundo do que simplesmente resignar-se à aceitação – normalmente demorada -,
mas visa o fim do processo da violência pela realimentação dos ódios. Basta
observar como pequenas coisas de dissidência afetiva no ambiente doméstico
conseguem, a partir de fofocas, gerar um clima de ódio intenso até entre irmãos
de sangue. Jesus Cristo apontou um meio de quebrar o ciclo natural de qualquer
ato de violência. Pela vingança, o processo nunca vai ter fim.
Por
conseguinte, a capacidade de perdoar e de rezar pelos inimigos, constitui uma
mediação capaz de facilitar e de favorecer a ruptura do ciclo da vingança; e,
com uma vantagem evidente: com menos sofrimento e muito menor desgaste, quer
afetivo, psíquico ou econômico. Neste sentido, é mais sensato integrar uma
humilhação do que ter que lidar com as consequências intempestivas de revides
praticados diante do que foi interpretado como um mal.
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