quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Uma sabedoria de interesses



O extraordinário incremento para produzir um saber de controle e de dominação, quer de objetos, de pessoas ou de situações desconhecidas, é uma das marcas mais peculiares e expressivas da cultura do nosso tempo. O domínio dos objetos, sejam eles humanos ou materiais, constitui, aos ambiciosos em acirrada disputa, um meio dos mais exitosos para acumular riquezas e barganhar poderes.
Da Bíblia herdamos outra síntese: o que mais se procurava, sobretudo na fase final do primeiro testamento, era a sabedoria. Esta era vista como a mãe dos bens e o melhor de todos os tesouros.
Para os judeus exilados e residentes no Egito, ao verem a dominação e a forma ímpia como seus patrões e mandatários os humilhavam, lembravam as diferenças: enquanto os egípcios se mostravam prepotentes, aqueles judeus procuravam reafirmar sua confiança em Deus, diante de uma lida materialista e desprovida de qualquer crença para além da morte.
 A sabedoria, uma síntese de bom-senso e de perspicácia para captar o que se considerava importante na vida, era considerada um dom de Deus. Para haurir e aumentar a graça deste dom, considerado como fonte que aumentava capacidade de justiça, de retidão e solidariedade, bem como de boa ponderação sobre as melhores coisas da vida, os judeus pediam insistentemente a Deus que esta capacidade de discernimento lhes fosse concedida. Havia entre eles o pressuposto de que a sabedoria constituía um dom de Deus, que era auferido a quem humildemente o suplicava.
 A riqueza, por outro lado, era vista pelos judeus asilados no Egito, poucos anos antes de Cristo, como fator contrário e obstrutor do alcance da sabedoria, pois, aqueles mandatários, ricos e despóticos, gozavam de uma aparente plenitude de felicidade enganosa e imanentista, sem Deus e sem nenhuma crença a respeito do que poderia acontecer depois da morte.
Alguns anos mais tarde, um episódio envolvendo esta questão se estabelece no agir pedagógico de Jesus com um rico, acostumado a comprar o que desejava. Procurou a Jesus Cristo com o intuito de colher informações a respeito do que fazer para garantir o direito de vida eterna. Tratava-se de alguém que seguia, como bom judeu, o rigor das leis estabelecidas e que, por isso mesmo, se considerava muito justo, razão pela qual certamente esperava rasgados elogios decorrentes de bajulação feita a Cristo, uma vez que se considerava pessoa íntegra e impecável diante da Lei. Assim como conquistou muitas coisas, desejava conquistar a vida eterna.
No procedimento educador de Jesus Cristo centralizava-se a sabedoria e não a riqueza, vista como bênção. A sabedoria permitiria auscultar as interpelações de Deus, enquanto que a Lei antiga justificava exterioridades legalistas.
O gesto bom e amoroso de Cristo foi o de apontar ao bajulador que, para ser justo e garantir a vida eterna, poderia vender seus bens e socializar um caminho de salvação, uma vez que pensava em consegui-lo por si mesmo e apenas para si mesmo.
Faltava a prática do amor, que é mais do que a lei e mais do que pensar-se agraciado por muitos bens materiais.





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