O extraordinário incremento para
produzir um saber de controle e de dominação, quer de objetos, de pessoas ou de
situações desconhecidas, é uma das marcas mais peculiares e expressivas da
cultura do nosso tempo. O domínio dos objetos, sejam eles humanos ou materiais,
constitui, aos ambiciosos em acirrada disputa, um meio dos mais exitosos para
acumular riquezas e barganhar poderes.
Da Bíblia herdamos outra síntese: o
que mais se procurava, sobretudo na fase final do primeiro testamento, era a
sabedoria. Esta era vista como a mãe dos bens e o melhor de todos os tesouros.
Para os judeus exilados e residentes
no Egito, ao verem a dominação e a forma ímpia como seus patrões e mandatários
os humilhavam, lembravam as diferenças: enquanto os egípcios se mostravam
prepotentes, aqueles judeus procuravam reafirmar sua confiança em Deus, diante
de uma lida materialista e desprovida de qualquer crença para além da morte.
A sabedoria, uma síntese de bom-senso e de
perspicácia para captar o que se considerava importante na vida, era
considerada um dom de Deus. Para haurir e aumentar a graça deste dom,
considerado como fonte que aumentava capacidade de justiça, de retidão e
solidariedade, bem como de boa ponderação sobre as melhores coisas da vida, os
judeus pediam insistentemente a Deus que esta capacidade de discernimento lhes
fosse concedida. Havia entre eles o pressuposto de que a sabedoria constituía
um dom de Deus, que era auferido a quem humildemente o suplicava.
A riqueza, por outro lado, era vista pelos
judeus asilados no Egito, poucos anos antes de Cristo, como fator contrário e
obstrutor do alcance da sabedoria, pois, aqueles mandatários, ricos e
despóticos, gozavam de uma aparente plenitude de felicidade enganosa e
imanentista, sem Deus e sem nenhuma crença a respeito do que poderia acontecer
depois da morte.
Alguns anos mais tarde, um episódio
envolvendo esta questão se estabelece no agir pedagógico de Jesus com um rico,
acostumado a comprar o que desejava. Procurou a Jesus Cristo com o intuito de
colher informações a respeito do que fazer para garantir o direito de vida
eterna. Tratava-se de alguém que seguia, como bom judeu, o rigor das leis
estabelecidas e que, por isso mesmo, se considerava muito justo, razão pela
qual certamente esperava rasgados elogios decorrentes de bajulação feita a
Cristo, uma vez que se considerava pessoa íntegra e impecável diante da Lei.
Assim como conquistou muitas coisas, desejava conquistar a vida eterna.
No procedimento educador de Jesus
Cristo centralizava-se a sabedoria e não a riqueza, vista como bênção. A
sabedoria permitiria auscultar as interpelações de Deus, enquanto que a Lei
antiga justificava exterioridades legalistas.
O gesto bom e amoroso de Cristo foi o
de apontar ao bajulador que, para ser justo e garantir a vida eterna, poderia
vender seus bens e socializar um caminho de salvação, uma vez que pensava em
consegui-lo por si mesmo e apenas para si mesmo.
Faltava a prática do amor, que é mais
do que a lei e mais do que pensar-se agraciado por muitos bens materiais.
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