Um imagético religioso de muitos
séculos deixou-nos um legado não muito simpático em torno da santidade.
Especialmente nas elaborações de biografias sobre a vida dos santos
cometeram-se muitos exageros fantasiosos a respeito de como estas pessoas
especiais e dotadas de poderes pessoais concedidos por Deus que as fez serem
totalmente distintas dos demais seres, desde nascimento, infância, vida adulta
e na hora da morte. Tratava-se de uma
espécie de suposição determinista que sequer lhes dava a liberdade de serem parecidos
com o comum dos mortais e pareciam previamente superdotados por Deus. Sequer se
pensava que o convite à santidade é uma interpelação para todos os batizados.
Continuamos a crer, em nossos dias,
que a santidade é um dom de Deus, mas, não naquela perspectiva de privilégio de
poucos. Como cristãos, somos todos convidados a crescer paulatinamente num
caminho de santidade. A síntese bíblica de que Deus é santo, e o reconhecimento
de que fez realmente muito bem todas as coisas que nos rodeiam, também nos
aponta que a melhor forma de corresponder à bondade de Deus, é a de
aproximar-nos do seu modo de agir, a fim de produzir bem-estar e gratuidade,
simplesmente, por fazer parte da sua obra de amor.
A celebração deste primeiro dia de
novembro permite uma tríplice consideração em torno da santidade: a) Olhando
para trás, podemos avivar que muitas pessoas foram notáveis em elevação de
santidade pela sua profunda capacidade de orientar, ajudar e prestar
solidariedade a outras pessoas carentes e necessitadas; b) Olhando para o
presente sentimos a interpelação de pessoas que se destacam por nos contagiar
com algo que vai além das nossas capacidades racionais e motivacionais.
Cultivam sua coerência na fé e se tornam muito fortes na capacidade de doação
em favor de mais vida no seu âmbito de atuação. Se eventualmente estão à nossa
frente, não é por um privilégio exclusivo de Deus. São pessoas que correspondem
ao dom da fé, cultivado, e por isso mesmo, seus frutos de bondade, atenção e
capacidade de lidar com dificuldades, são maiores do que as nossas. Também a
recordação do que pessoas fizeram no passado nesta dimensão nos interpela; c)
Olhando para o futuro, a memória passada e presente de pessoas mais santas do
que nós, aponta um itinerário, pois, também nós, podemos corresponder ao dom de
Deus, concedido a todos os seres humanos, que é o de crescer na santidade.
Como na mensagem das
bem-aventuranças, encontramos pessoas que sofrem e enfrentam mil dificuldades
e, no entanto, estão sedentos e abertos à graça de Deus para encontrar
motivações que as levem a enxergar para além dos problemas. Nesta busca de
perfectibilidade conseguem mover-se por uma expectativa de céu não somente para
depois da morte, mas, também para o aqui e agora dos nossos condicionamentos
culturais e ambientais.
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