quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Dom da santidade



Um imagético religioso de muitos séculos deixou-nos um legado não muito simpático em torno da santidade. Especialmente nas elaborações de biografias sobre a vida dos santos cometeram-se muitos exageros fantasiosos a respeito de como estas pessoas especiais e dotadas de poderes pessoais concedidos por Deus que as fez serem totalmente distintas dos demais seres, desde nascimento, infância, vida adulta e na hora da morte.  Tratava-se de uma espécie de suposição determinista que sequer lhes dava a liberdade de serem parecidos com o comum dos mortais e pareciam previamente superdotados por Deus. Sequer se pensava que o convite à santidade é uma interpelação para todos os batizados.
Continuamos a crer, em nossos dias, que a santidade é um dom de Deus, mas, não naquela perspectiva de privilégio de poucos. Como cristãos, somos todos convidados a crescer paulatinamente num caminho de santidade. A síntese bíblica de que Deus é santo, e o reconhecimento de que fez realmente muito bem todas as coisas que nos rodeiam, também nos aponta que a melhor forma de corresponder à bondade de Deus, é a de aproximar-nos do seu modo de agir, a fim de produzir bem-estar e gratuidade, simplesmente, por fazer parte da sua obra de amor.
A celebração deste primeiro dia de novembro permite uma tríplice consideração em torno da santidade: a) Olhando para trás, podemos avivar que muitas pessoas foram notáveis em elevação de santidade pela sua profunda capacidade de orientar, ajudar e prestar solidariedade a outras pessoas carentes e necessitadas; b) Olhando para o presente sentimos a interpelação de pessoas que se destacam por nos contagiar com algo que vai além das nossas capacidades racionais e motivacionais. Cultivam sua coerência na fé e se tornam muito fortes na capacidade de doação em favor de mais vida no seu âmbito de atuação. Se eventualmente estão à nossa frente, não é por um privilégio exclusivo de Deus. São pessoas que correspondem ao dom da fé, cultivado, e por isso mesmo, seus frutos de bondade, atenção e capacidade de lidar com dificuldades, são maiores do que as nossas. Também a recordação do que pessoas fizeram no passado nesta dimensão nos interpela; c) Olhando para o futuro, a memória passada e presente de pessoas mais santas do que nós, aponta um itinerário, pois, também nós, podemos corresponder ao dom de Deus, concedido a todos os seres humanos, que é o de crescer na santidade.

Como na mensagem das bem-aventuranças, encontramos pessoas que sofrem e enfrentam mil dificuldades e, no entanto, estão sedentos e abertos à graça de Deus para encontrar motivações que as levem a enxergar para além dos problemas. Nesta busca de perfectibilidade conseguem mover-se por uma expectativa de céu não somente para depois da morte, mas, também para o aqui e agora dos nossos condicionamentos culturais e ambientais.

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