quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Memória dos falecidos



            Um dia do ano para lembrar as pessoas queridas, e já falecidas, é pouco. Mesmo assim, é melhor do que não recordar tudo quanto foi registrado na memória a respeito delas, sobretudo, no modo como nos edificaram com suas peculiaridades muito especiais.
            Para os primeiros cristãos, todos quantos se aproximavam dos traços básicos de Jesus Cristo, eram chamados de santos. Assim, também herdamos da linguagem religiosa de tradição antiga, a noção da comunhão dos santos. Mesmo sem títulos beneméritos de santidade, muitas pessoas que conhecemos, podem, com a devida propriedade, serem chamadas de santas. Foram pessoas que se auto-superaram extraordinariamente em relação ao que receberam do ambiente físico e do entorno humano em que viveram. Ocorreu, pois no itinerário da sua vida, um caminho de perfectibilidade que as tornou melhores e, por conseguinte, mais santas.
            Da herança sapiencial do primeiro testamento da Bíblia – já no difícil período posterior ao exílio na Babilônia – ficou evidente uma inquietação em torno do sofrimento a que muitas pessoas boas, retas e justas, eram submetidas.  Predominava, já naquela época, uma predisposição de julgamento negativo e, até mesmo, atribuindo culpa e os merecidos castigos de Deus. Hoje, por efeito de outras influências culturais e religiosas, volta muito forte no sentimento religioso a noção da teologia de retribuição: Deus retribui o bem com coisas boas e com graças, mas, diante da maldade, submete a castigos e sofrimentos os mais cruéis.
            Esta forma de concepção de Deus, com certeza bem inapropriada, trás conseqüências muito ruins para o caminho das pessoas que querem viver bem, ser felizes e estar de bem consigo mesmas. Como pensar um Deus fazendo tais mesquinharias?
           Bem sabemos, que, boas ou nada boas as pessoas passam por doenças, acidentes, dificuldades, infecções, inflamações e muitos distúrbios orgânicos e psíquicos que causam grandes sofrimentos, sem nenhum vínculo com a vingança de um Deus mal humorado.
        Talvez com Jó, - personagem da literatura sapiencial bíblica, - devamos constatar que os sofrimentos podem ser amenizados, interpretados e reintegrados no rumo da existência, e, não constituem necessariamente nenhum castigo. Fazem simplesmente parte da contingência da nossa vida, isto é, por melhores e por mais perfectíveis que sejam nossas aspirações, não nos evadimos de sofrimentos. Eles fazem parte do itinerário da nossa vida.
            O modo de lidar com os sofrimentos e o que nos auto-afirmamos diante das perdas e dores, isso sim, deixa sulcos e rastros profundos em nossa vida. Pode ser de aperfeiçoamento, quanto de conformidade e fatalismo. Muitas pessoas que se dizem ser muito fortes na fé, quando perdem um ente querido, verberam categoricamente que sua vida se arruinou por inteira, que nada mais tem valor e, assim, causam a si mesmas um sofrimento que em nada ajuda a melhorar sua vida.
Oxalá que os sofrimentos integrados possam ajudar mais pessoas a desabrochar num belo e gradual caminho de santidade!



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