Como nas
muitas metáforas bíblicas que relacionam plantas e sua produção de frutos, nós,
mesmo não desejando, nos vemos na condição de constatar que os frutos das lidas
cotidianas seguidamente se encontram aquém do que gostaríamos de verificar.
Nas muitas causas, pode o ambiente
nos facilitar a constatação de que a vida poderia desenrolar-se de formas bem
mais satisfatórias. No entanto, torna-se paulatinamente mais evidente e mais
comum constatar que, o alcance de bons níveis de satisfação, decorre, em grande
parte, do nosso próprio desempenho. O que colhemos das lidas, nem sempre
proporciona “frutos tão doces” quanto esperamos.
Na parábola da vinha (Mt 21, 33-43)
há uma referência especial aos governantes da sociedade. Nos discursos eles
tendem a falar muito dos bons frutos e garantem que vão dar tudo de si para que
a coletividade possa desfrutar dos melhores sabores dos frutos de sua
governança. A constatação efetiva, porém, leva com evidência quase total a uma
conclusão decepcionante: além da clássica protelação do que prometem não se
revelam nada afoitos em favor do bem-comum, anunciado com tanta grandiloquência
em suas falas discursivas.
Como qualquer cultivo de horta, de
jardim ou de lavoura, a lavoura do poder público na sociedade geralmente deixa
lacunas extraordinárias na idealização prospectada. Os frutos, desde longo
tempo, continuam mais que azedos!
Não cabe anarquia e nem tampouco a
mentira para dissuadir em torno de falsas promessas ou do anúncio do que os
eleitores gostam de ouvir para serem enganados. Por outro lado, o que os
subordinados fazem para não engrossar o aniquilamento, a espoliação e a indevida
apropriação dos bens comuns, mesmo os simbólicos?
Tanto os que assumem a incumbência de
governar, quanto os que neles depositam sua confiança, tampouco podem apenas
pensar em colher para encher tulhas em favor dos próprios interesses. Assim
como se usurpa o que é do bem comum, se usurpa o que é do “dono da vinha”, e,
procede-se uma apropriação escancarada do que, por direito, pertence a todos.
Pela mesma característica que
indevidas apropriações acontecem no poder civil, acontecem também no campo
religioso, escancaradas inversões dos papéis de elevado número de lideranças
religiosas: no lugar do desvelo em favor do bem comum da comunidade, efetuam
apropriação indevida não apenas de bens materiais, mas, o que é pior: usurpam o
lugar de Deus, como se ele fosse um pobre subserviente de suas ambições
religiosas e de auto-afirmação.
A imagem das uvas boas, esperadas
para a colheita, que, vias de regra desencanta, - porque estão azedas - é ainda
muito oportuna diante de tanta uva ofertada como o melhor da ação de Deus, mas,
que não passa de um azedume de usurpação indevida tanto dos sonhos, quanto dos
anseios das pessoas de fé, numa comunidade.
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