quarta-feira, 10 de setembro de 2025

DA SANTIDADE VENERADA À CELEBRIDADE INSINUADA

 

 

A santidade já destituída do seu prestígio,

Foi substituída por novo tipo de prodígio,

O de sugestivos shows com muitas graças,

Da artística celebridade diante de massas.

 

Mais efêmero que vida de santos e santas,

E, sem história de atividades sacrossantas,

Ele substitui os ícones referenciais de vida,

Pela notoriedade da sua extravagante lida.

 

1

SINTOMAS DO DESLOCAMENTO

 

Muito acima dos santos despidos,

Estão belos machos consagrados,

Movidos pelo núcleo conservador,

Desta Igreja de saudosista pendor.

 

A marca da santidade sem sagrado,

Tem profetas como no velho legado,

Que já não insinuam uma santidade:

Só a ampla adoração da celebridade.

 

Sob sacralização intensa e persuasiva,

Na profana e leiga condição afirmativa,

Pessoas muito agraciadas pela religião,

São feitas as celebridades de adoração.

 

Se, a vida de santos e santas pessoas,

Remetia a seus gestos de coisas boas,

Sinais de misericórdia e de compaixão,

Convergiam na eucarística motivação.

 

Enquanto cristianismo separou profano,

Do mundo sagrado, contra todo insano,

A sacralidade do atual quadro hodierno,

Cria sacerdote sacro de perfil moderno.

 

Nada voltado para o céu acima da terra,

Só para o âmago da perfeição na galera,

Sem os traços peculiares de Cristo Jesus,

Mas, com esnobação de veste que reluz.

 

Sem o estilo de rezar, andar e partilhar,

Do peregrino, discípulo sem acanalhar,

Já não visa o alegre anúncio e a bênção,

Nem qualquer consolo ou confirmação.

 

Já não se enxerga como dom para ungir,

Ou como inserido para elevação atingir,

Corresponsável para procurar e buscar,

Pastor, com cheiro da ovelha a resgatar.

 

Sem sentir-se um sacramento da Igreja,

Mergulhado na frágil e humana peleja,

Muito menos ainda, de Igreja em saída,

Quer Igreja de larga ascensão induzida.

 

Mergulhado no fenômeno patológico,

Do clericalismo pedante e ideológico,

Não é nenhum ímã de serena ternura,

Nem seu olhar é oblativo para doçura.

 

Seu projeto e anseio, focam elevação,

No encanto do caminho de promoção,

Como a figura totêmica de espetáculo,

A fisgar com teatralidade o tentáculo.

 

Dali alarga-se uma fortaleza de prestígio,

Pois, amplia admiradores do seu fastígio,

E ele consegue ser mistificado e célebre,

Obstinação pelo seu próprio deslumbre.

 

Sente, então, que é modelo a ser seguido,

Sem mínimo risco de vir a ser perseguido,

Pois se adapta ao mimetismo de ser ídolo,

Sem a menor obrigação de ser benévolo.

 

Sabe que, mais importante que santidade,

É consolidar-se no público para majestade,

Sob customização da avançada divulgação,

Da publicidade para a sua linear afirmação.

  

2

OPÇÃO PREFERENCIAL

POR MACHOS

 

Sedução fascinadora pelo destaque social,

Não estimula para dedicação exponencial,

Favorável ao reino dum mundo mais justo,

Mas, aponta para elevação do ser augusto.

 

Pouco importa erudição bíblica e teológica,

Mas, interessa muito a estética fisiológica,

Com a musculação vistosa e proeminente,

De um religioso autoritário e ascendente.

 

No ditame da velha concepção patriarcal,

Tradicional disciplina da postura triunfal,

Aponta belo rumo católico aristocrático,

Para um esbelto e musculoso dogmático.

 

Lida dura de muitas horas em academia,

Pressupõe que um corpo sarado inebria,

Para remeter à espiritualidade vigorosa,

Similar a um diletante da força poderosa.

 

Um vetusto perfil do reverendo macho,

Sob a saudosista devoção de penacho,

Ainda desperta no imaginário coletivo,

O desejo da prática do religioso altivo.

 

Muita romaria de vistosa ostentação,

A retomar velha piedade de redenção,

Não interfere em desafios ético-morais,

E eleva ao céu os detalhes ornamentais.

 

A defesa de que pessoa sarada é santa,

E que toda pessoa que a outros encanta,

Remete à santidade divina para salvação,

É mediada pela boa aparência do corpão.

 

A auréola que contornava cabeça santa,

Reluz agora em corpo sarado que encanta,

Para atrair os milhares de seguidores fiéis,

Apaixonados e devotados a seus miragéis.

 

O foco luminoso de ser estrela brilhante,

Através da projeção midiática exuberante,

Projeta-o a venerado para ser consumido,

Feito uma mercadoria de poder induzido.

 

No gosto da consciência religiosa popular,

Desfralda a sua celebridade toda peculiar,

Feito um especial instrumento ideológico,

Com o discurso suave e eudemonológico.

 

Importa que a multidão de fãs e seguidores,

Não abandone espiritual bênção de favores,

Somente alcançável pelo vínculo midiático,

E pelo mimetismo do seu modo simpático.

 

Alarga o domínio com adornos de fetiche,

De broches, bênçãos e modos de pastiche,

Para que seja imitado no seu modo de ser,

Como modelo mágico para se enriquecer.

 

Cria a relação fechada e interdependente,

Na qual fãs o protegem de ato incoerente,

E não permitem que caia o seu esplendor,

Porque depende dum suporte ostentador.

 

Sabe que sem um crescimento do séquito,

Sua celebridade despenca ao supino óbito,

E ele passará a ser ignorado e descartado,

Como qualquer e tanto outro lixo ignorado.

 

3

CELEBRIDADE PARA CONSUMO

 

Sob a divulgação da santidade milagrosa,

Santos e santas receberam força vigorosa,

Para consumidores desejosos de milagre,

A permanecerem no devotamento pobre.

 

Campanhas religiosas disputavam os fiéis,

Para se vincularem aos santos nada infiéis,

E venerá-los, para obter graças e favores,

E deles haurir as facilidades com fulgores.

 

As táticas da vasta publicidade religiosa,

Alcançaram uma repercussão prodigiosa,

E até disputa em torno de santo popular,

Que mais ajudava de forma espetacular.

 

Santas e santos, considerados célebres,

Viraram referências capitalistas céleres,

Para celebridades virem a ser lucrativas,

Com o consumo das suas lidas efetivas.

 

Os seus hábitos e suas falas consumíveis,

Como estrelas para os anelantes incríveis,

Fariam deles objeto de venda e consumo,

Agradável e gostoso para seguir seu rumo.

 

Quanto mais gente seguidora de um ídolo,

Mais a sua palavra ecoa para ser adorado,

E mais seu jeito é sustentado como certo,

Na manipulada mídia dum agente esperto.

 

Gesta larga opinião sem ínfima criticidade,

Encantado com a desregrada subjetividade,

Deste seu ídolo, o referencial bem-sucedido,

Que, em tudo, precisa ser imitado e seguido.

 

Se, acaso, alguém discordar do que ele diz,

É inimigo, que desrespeita bom elã motriz,

Do líder sagrado, situado acima do humano,

Adorado, mesmo se é contraditório insano.

 

Quanto mais elevado à estratosfera divina,

Tanto mais requer a paixonite que o mima,

Porquanto sem a adoração cai sua estrela,

E outro mitificado herói, terá sua chancela.

 

 

EPÍLOGO

 

Estratégia da indústria cultural midiática,

Assim como eleva brilho da performática,

De corpo sarado, musculoso a ser olhado,

Nada remete ao pretenso mundo sagrado.

 

A celebridade, volátil, fugaz e descartável,

Só se mantém em proeminência palatável,

Enquanto aumenta o retorno de consumo,

E, depois, que se aventure em outro rumo.

 

A própria mídia se encarrega de difamá-lo,

Quando outra celebridade pode destituí-lo,

E escolhe a mercadoria que vende melhor,

Atraente para obtenção dum lucro maior.

 

Assim a celebridade é criatura dependente,

Que carece de muitos fãs para ficar saliente,

Ao invés de santidade, sente-se angustiada,

E requer calmante para sorriso que agrada.

 

Para quem se estabeleceu num lugar santo,

Adornado para ser ídolo de brilho e encanto,

Enlevado pelo cetro da notoriedade sagrada,

Faz papel ideológico para uma falsa fachada.

 

Um instrumento útil da religiosidade profana,

Que com o seu brilho midiático bem promana,

Mimetismo consumista do sistema capitalista,

Que induz e justifica a voracidade consumista.

 

Voar na magia da fama, requer o mitificador,

Para granjear a simpatia de muito seguidor,

Que, normalmente, depende das falcatruas,

Para ampliar consumidores vorazes nas ruas.

 

Do notório expoente que agrega multidões,

Sobra o agente conformista aos borbotões,

Que apenas estimula santidade de consumo,

Benéfica a restritos, que nadam no acúmulo.

 

 

 

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