A santidade já destituída do seu
prestígio,
Foi substituída por novo tipo de
prodígio,
O de sugestivos shows com muitas
graças,
Da artística celebridade diante de
massas.
Mais efêmero que vida de santos e santas,
E, sem história de atividades
sacrossantas,
Ele substitui os ícones referenciais
de vida,
Pela notoriedade da sua extravagante
lida.
1
SINTOMAS DO
DESLOCAMENTO
Muito acima dos santos despidos,
Estão belos machos consagrados,
Movidos pelo núcleo conservador,
Desta Igreja de saudosista pendor.
A marca da santidade sem sagrado,
Tem profetas como no velho legado,
Que já não insinuam uma santidade:
Só a ampla adoração da celebridade.
Sob sacralização intensa e
persuasiva,
Na profana e leiga condição
afirmativa,
Pessoas muito agraciadas pela religião,
São feitas as celebridades de
adoração.
Se, a vida de santos e santas
pessoas,
Remetia a seus gestos de coisas boas,
Sinais de misericórdia e de
compaixão,
Convergiam na eucarística motivação.
Enquanto cristianismo separou
profano,
Do mundo sagrado, contra todo insano,
A sacralidade do atual quadro
hodierno,
Cria sacerdote sacro de perfil
moderno.
Nada voltado para o céu acima da
terra,
Só para o âmago da perfeição na
galera,
Sem os traços peculiares de Cristo
Jesus,
Mas, com esnobação de veste que
reluz.
Sem o estilo de rezar, andar e
partilhar,
Do peregrino, discípulo sem
acanalhar,
Já não visa o alegre anúncio e a
bênção,
Nem qualquer consolo ou confirmação.
Já não se enxerga como dom para
ungir,
Ou como inserido para elevação
atingir,
Corresponsável para procurar e
buscar,
Pastor, com cheiro da ovelha a
resgatar.
Sem sentir-se um sacramento da
Igreja,
Mergulhado na frágil e humana peleja,
Muito menos ainda, de Igreja em
saída,
Quer Igreja de larga ascensão
induzida.
Mergulhado no fenômeno patológico,
Do clericalismo pedante e ideológico,
Não é nenhum ímã de serena ternura,
Nem seu olhar é oblativo para doçura.
Seu projeto e anseio, focam elevação,
No encanto do caminho de promoção,
Como a figura totêmica de espetáculo,
A fisgar com teatralidade o tentáculo.
Dali alarga-se uma fortaleza de
prestígio,
Pois, amplia admiradores do seu
fastígio,
E ele consegue ser mistificado e
célebre,
Obstinação pelo seu próprio
deslumbre.
Sente, então, que é modelo a ser
seguido,
Sem mínimo risco de vir a ser
perseguido,
Pois se adapta ao mimetismo de ser
ídolo,
Sem a menor obrigação de ser
benévolo.
Sabe que, mais importante que
santidade,
É consolidar-se no público para
majestade,
Sob customização da avançada divulgação,
Da publicidade para a sua linear
afirmação.
2
OPÇÃO PREFERENCIAL
POR MACHOS
Sedução fascinadora pelo destaque
social,
Não estimula para dedicação
exponencial,
Favorável ao reino dum mundo mais
justo,
Mas, aponta para elevação do ser
augusto.
Pouco importa erudição bíblica e
teológica,
Mas, interessa muito a estética
fisiológica,
Com a musculação vistosa e
proeminente,
De um religioso autoritário e
ascendente.
No ditame da velha concepção
patriarcal,
Tradicional disciplina da postura
triunfal,
Aponta belo rumo católico
aristocrático,
Para um esbelto e musculoso
dogmático.
Lida dura de muitas horas em
academia,
Pressupõe que um corpo sarado
inebria,
Para remeter à espiritualidade
vigorosa,
Similar a um diletante da força
poderosa.
Um vetusto perfil do reverendo macho,
Sob a saudosista devoção de penacho,
Ainda desperta no imaginário
coletivo,
O desejo da prática do religioso
altivo.
Muita romaria de vistosa ostentação,
A retomar velha piedade de redenção,
Não interfere em desafios
ético-morais,
E eleva ao céu os detalhes
ornamentais.
A defesa de que pessoa sarada é
santa,
E que toda pessoa que a outros
encanta,
Remete à santidade divina para
salvação,
É mediada pela boa aparência do
corpão.
A auréola que contornava cabeça
santa,
Reluz agora em corpo sarado que
encanta,
Para atrair os milhares de seguidores
fiéis,
Apaixonados e devotados a seus miragéis.
O foco luminoso de ser estrela
brilhante,
Através da projeção midiática
exuberante,
Projeta-o a venerado para ser
consumido,
Feito uma mercadoria de poder
induzido.
No gosto da consciência religiosa
popular,
Desfralda a sua celebridade toda
peculiar,
Feito um especial instrumento
ideológico,
Com o discurso suave e eudemonológico.
Importa que a multidão de fãs e seguidores,
Não abandone espiritual bênção de
favores,
Somente alcançável pelo vínculo
midiático,
E pelo mimetismo do seu modo
simpático.
Alarga o domínio com adornos de
fetiche,
De broches, bênçãos e modos de
pastiche,
Para que seja imitado no seu modo de
ser,
Como modelo mágico para se
enriquecer.
Cria a relação fechada e
interdependente,
Na qual fãs o protegem de ato
incoerente,
E não permitem que caia o seu
esplendor,
Porque depende dum suporte
ostentador.
Sabe que sem um crescimento do
séquito,
Sua celebridade despenca ao supino
óbito,
E ele passará a ser ignorado e
descartado,
Como qualquer e tanto outro lixo
ignorado.
3
CELEBRIDADE PARA
CONSUMO
Sob a divulgação da santidade
milagrosa,
Santos e santas receberam força
vigorosa,
Para consumidores desejosos de
milagre,
A permanecerem no devotamento pobre.
Campanhas religiosas disputavam os
fiéis,
Para se vincularem aos santos nada
infiéis,
E venerá-los, para obter graças e
favores,
E deles haurir as facilidades com
fulgores.
As táticas da vasta publicidade
religiosa,
Alcançaram uma repercussão
prodigiosa,
E até disputa em torno de santo
popular,
Que mais ajudava de forma
espetacular.
Santas e santos, considerados
célebres,
Viraram referências capitalistas
céleres,
Para celebridades virem a ser lucrativas,
Com o consumo das suas lidas
efetivas.
Os seus hábitos e suas falas
consumíveis,
Como estrelas para os anelantes
incríveis,
Fariam deles objeto de venda e
consumo,
Agradável e gostoso para seguir seu
rumo.
Quanto mais gente seguidora de um ídolo,
Mais a sua palavra ecoa para ser
adorado,
E mais seu jeito é sustentado como
certo,
Na manipulada mídia dum agente
esperto.
Gesta larga opinião sem ínfima
criticidade,
Encantado com a desregrada
subjetividade,
Deste seu ídolo, o referencial bem-sucedido,
Que, em tudo, precisa ser imitado e
seguido.
Se, acaso, alguém discordar do que
ele diz,
É inimigo, que desrespeita bom elã
motriz,
Do líder sagrado, situado acima do
humano,
Adorado, mesmo se é contraditório
insano.
Quanto mais elevado à estratosfera
divina,
Tanto mais requer a paixonite que o
mima,
Porquanto sem a adoração cai sua
estrela,
E outro mitificado herói, terá sua
chancela.
EPÍLOGO
Estratégia da indústria cultural
midiática,
Assim como eleva brilho da
performática,
De corpo sarado, musculoso a ser
olhado,
Nada remete ao pretenso mundo
sagrado.
A celebridade, volátil, fugaz e
descartável,
Só se mantém em proeminência
palatável,
Enquanto aumenta o retorno de
consumo,
E, depois, que se aventure em outro
rumo.
A própria mídia se encarrega de
difamá-lo,
Quando outra celebridade pode
destituí-lo,
E escolhe a mercadoria que vende
melhor,
Atraente para obtenção dum lucro
maior.
Assim a celebridade é criatura
dependente,
Que carece de muitos fãs para ficar
saliente,
Ao invés de santidade, sente-se
angustiada,
E requer calmante para sorriso que
agrada.
Para quem se estabeleceu num lugar
santo,
Adornado para ser ídolo de brilho e
encanto,
Enlevado pelo cetro da notoriedade
sagrada,
Faz papel ideológico para uma falsa
fachada.
Um instrumento útil da religiosidade
profana,
Que com o seu brilho midiático bem
promana,
Mimetismo consumista do sistema
capitalista,
Que induz e justifica a voracidade
consumista.
Voar na magia da fama, requer o
mitificador,
Para granjear a simpatia de muito
seguidor,
Que, normalmente, depende das
falcatruas,
Para ampliar consumidores vorazes nas
ruas.
Do notório expoente que agrega
multidões,
Sobra o agente conformista aos
borbotões,
Que apenas estimula santidade de
consumo,
Benéfica a restritos, que nadam no
acúmulo.