Há cinco ou seis
décadas atrás, encontrar rapazes a partir de doze anos e demais homens adultos
sem fumar, era algo incomum e estranho aqui, na região de Cunhataí. Os
eventuais não fumantes, constituíam um grupo de ex-fumantes com os pulmões já
definhados por excesso de cigarro.
Praticamente todos
fumavam palheiros. Cigarros de palha e fumo não implicavam em grandes custos
financeiros, pois, cada morador plantava fumo e fazia os grandes rolos do
chamado fumo de corda, pretos com o cozimento de folhas, cujo líquido era
derramado sobre aquelas cordas enroladas como meio de conservação.
Mesmo que praticamente
todos faziam fumo, ainda sobravam alguns “mãos-de-vaca”, “pães-duros” e chamados
de “pussucas”, mesquinhos, pois, só fumavam cigarros pedidos aos outros.
Muitos fumantes, para
ostentar uma certa etiqueta em bailes e idas à Igreja, compravam cigarros
industrializados e enrolados por papel branco. Aí, sim, parecia que o charme da
fumaça encantava ainda mais as mulheres e moças. No entanto, não faltava
“pussuca” para fazer parte do esnobe.
O Pedro Knapp tinha um
tio, que morava na comunidade de São Roque, interior de Cunhataí, chamado de João.
Bem casado, com boas condições econômicas, mas, como não teve filhos, sobrava
mais tempo para ele e sua esposa trabalharem intensamente e acumular boas
reservas em dinheiro. Não se sabia qual dos dois era mais “pão-duro”. Tudo era
muito simples na casa deles, apesar de ser notável a limpeza e a ordem. O fato
de não terem podido ter filhos, facilitava a boa apresentação do ambiente da
casa.
O pai do Pedro, a cada
poucos dias, falava para o Pedro:
- Vai fazer uma visita
ao tio João! Ele anda tão só e isolado e, como não tem filhos, trabalha demais.
Vai distraí-lo um pouco.
Pedro até gostava de
ir lá, mas, sabia de uma coisa: de cara, ao chegar lá, já o tio pedia um
cigarro para fumar. Além de não servir algum petisco ou convidar para o jantar,
ou almoço, ainda “pussucava” mais alguns cigarros. Por isso, Pedro, resolveu
dar um trote no tio para ver se parava de ser tão mesquinho. Foi na loja, em
Cunhataí, comprou um charuto dos bons, de odor especial, e, mais um outro,
daqueles chamados de “mata-rato”, feito a partir dos refugos das folhas de fumo
e que, impreterivelmente, ou causava vômito ou diarreia desandada.
Pedro chegou na casa
do tio fumando seu charuto, vistoso e cheiroso. A primeira coisa que o tio fez,
foi pedir se não tinha mais um charruto na reserva. Pedro disse:
- Tenho, sim! E, já
puxou aquele charuto de aparências: por fora, envolvido por uma folha de fumo
amarelinho, mas, por dentro, veneno para rato. O tio pegou o charuto, deu
algumas baforadas e, sem demora, deitou o charuto, ainda pela metade, na beira
do fogão a lenha e saiu da cozinha. Aparentemente foi ao banheiro e demorou
para retornar. Quando, enfim, chegou, pediu à esposa para fazer um bom
chimarrão, pois, estava sentindo um pouco de indisposição na barriga.
A mulher preparou o chimarrão
e passou a cuia para ele. Estava com feição um tanto estranha, tomou um gole e
disse para a esposa, pegue a cuia, vou ter que ir no banheiro. Nem cruzou pela
porta da cozinha e já deu para se ouvir uma eclosão de pufes, acompanhados de
algo a mais.
Passou-se um bom
tempo, e Pedro deu uma espiada para fora, pois, queria despedir-se do tio e ele
demorava muito. Na deslumbrada dos olhares, viu o tio, sem roupa, dentro do
tanque de lavar roupa e gritando para a mulher lhe trazer roupa limpa. Pedro
aproveitou o lance, para não exultar numa gargalhada, e só falou um “até logo”
e se mandou dali.
Dias depois, Pedro
retornou a visitar o tio, e ele não pediu cigarro e nunca mais alguém o viu
fumando. Afinal, o remédio aplicado foi de uma eficácia extraordinária.
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