Entre
setenta e oitenta anos atrás, a região do oeste catarinense constituía lugar de
muito bandidismo. Fugitivos do Rio Grande do Sul, além dos que se criavam na
região de Chapecó, encontravam nesta região, sobretudo no trajeto entre Chapecó
e Campo Erê, já na divisa com o Estado do Paraná, o espaço perfeito para
proteção, refúgio e continuidade nas lidas, onde a Lei era regida pelo
revólver.
Chapecó, nos
seus primeiros, era região de muito crime e de violências bárbaras. De um lado,
perseguições e vinganças com índios, tanto Xoklengs, quanto Guaranis; e de
outro lado, pelos bandidos que se apossavam de terras e ninguém mais os tirava
dali.
Entre
Chapecó e São Carlos, que na época era distrito de Chapecó, distante a quarenta
quilômetros, moradores que tinham que ir a Chapecó, só tinham um meio de
locomoção possível: no lombo de burro, e ninguém se arriscava a ir sozinho.
Combinavam-se para ir em grupos, e todos armados de revólver para eventual
auto-defesa diante de assaltantes.
No trajeto
entre São Carlos e Chapecó, morava o bandidão famoso, chamado Augusto
Schaeffer, que espalhava terror até Campo Erê. Homem baixo, troncudo, sempre
usava uma espécie de ponche para disfarçar o colete à prova de bala que usava
por baixo, e nunca foi visto sem dois revólveres na cintura. Quando se
deslocava de São Carlos a Campo Erê, andava rodeado por alguns capangas e
ainda, um rifle pendurado nos ombros.
Na sua casa,
perto de São Carlos, os que por ali passavam, comentavam a respeito de diversas
mulheres andando de lá para cá, mas, ninguém conseguiu saber se eram familiares
ou amantes do Augusto. No entanto, o que se via, era pelo menos uma dúzia de
crianças. Na área de terra invadida por ele, além do rancho, via-se uma pequena
área de pasto, com diversas mulas e cavalos e uns roçados de capoeira, onde o
gruo de capangas plantava milho para o trato dos animais. O resto dos meios de
manutenção, provavelmente, provinha dos roubos.
Quanto mais
o Augusto roubava e matava, mais aumentavam as histórias sobre suas façanhas e
o pavor de ter que defrontar-se com ele. Naqueles tempos, ainda não se pensava
em roubo de banco ou de empresas, mas, os roubos mais comentados a respeito do
Augusto, sempre envolviam apropriações de mulas e de cavalos. Tinha, sem
dúvidas, as melhores e mais bonitas mulas da região. Bem tratadas para longas
andanças, caso encontrasse alguma outra mula bonita e grandona, simplesmente a
levava junto.
Como o
conhecido bandidão morava na beira da estrada, entre São Carlos e Chapecó, o
medo dos que se deslocavam a Chapecó, era o de serem assaltados e roubados.
Muitos, ao passarem ao lado da sua casa, o viam fazendo treino de tiro. Os
capangas alinhavam uma porção de caixinhas pequenas de fósforo e ele espatifava
uma após outra, com tiros certeiros. Na verdade, era um cangaceiro temido e sem
medo. O local da sua moradia era de terra escriturada e com dono, mas ninguém
se arriscava confrontar-se com ele, nem os poucos soldados estabelecidos em São
Carlos.
Augusto
deslocava-se seguidamente de São Carlos a Campo Erê e neste trajeto existia uma
estrada bem precária e uma imensa floresta de mato nativo. Especialmente, na
região do atual município de Saltinho, ocorriam muitas mortes nas disputas
entre bandidos. Seu Augusto, entrava na casa de pobres agricultores, recolhia milho
para seus burros e os moradores, e estes, temendo serem mortos, até fugiam ou
se escondiam para não se confrontar com ele. Assim como tirava milho, pegava
cavalos e burros e abatia bovinos.
De fato, não era possível que alguém
com uma espingarda “espera um pouco” quisesse enfrentar o Augusto, bem armado,
protegido e ainda acompanhado de capangas, ostensivamente armados.
Numa primeira tentativa da polícia de
Chapeco que veio para prender ou matar o bandidão Augusto, na aproximação do
seu rancho, viram que ele vinha ao seu encontro, montado numa mula, e trazendo
mais duas mulas amarradas nos arreios. Sob a ordem de prisão, ele começou a
trocar tiros e saltou pelo lado esquerdo da mula e sumiu no mato, sem que os
policiais o encontrassem.
Durante
décadas, o bandidão reinava solto e a seu bel-prazer, entre Chapecó e Campo
Erê. Entre medo, pavor e pressão, a polícia militar de Chapecó, um dia, se
equipou com o melhor que possuía, e enfrentou o Augusto na estrada, andando com
seus capangas perto do rio Chapecó. No intenso tiroteio com Augusto e seus
capangas de cangaço, a polícia levou vantagem, pois, um dos soldados acertou
tiros que atingiram diversas partes do corpo de Augusto. Mesmo com colete à
prova de balas, ficou incapaz para resistir e acabou sendo dominado. Os
policiais resolveram tentar recurso médico em São Carlos, e, leva-lo ao
incipiente hospital daquele distrito tiveram que atravessar o rio Chapecó numa
canoa. No percurso da travessia do rio, com o Augusto gravemente ferido,
aparentemente moribundo, ele ainda tentou uma última reação, mas, que acabou
como proeza derradeira: numa certa altura da travessia, conseguiu fazer um jogo
na canoa e ela virou, jogando todos na água. Ele ficou por baixo da canoa e
acabou morrendo afogado. Os soldados, bem treinados, conseguiram nadar até a
margem.
Assim, o
longo reinado do cangaceiro do Oeste terminou, e permitiu que aumentasse a
segurança da população.
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