quinta-feira, 5 de junho de 2025

O BANDIDÃO DO OESTE

 

 

            Entre setenta e oitenta anos atrás, a região do oeste catarinense constituía lugar de muito bandidismo. Fugitivos do Rio Grande do Sul, além dos que se criavam na região de Chapecó, encontravam nesta região, sobretudo no trajeto entre Chapecó e Campo Erê, já na divisa com o Estado do Paraná, o espaço perfeito para proteção, refúgio e continuidade nas lidas, onde a Lei era regida pelo revólver.

            Chapecó, nos seus primeiros, era região de muito crime e de violências bárbaras. De um lado, perseguições e vinganças com índios, tanto Xoklengs, quanto Guaranis; e de outro lado, pelos bandidos que se apossavam de terras e ninguém mais os tirava dali.

            Entre Chapecó e São Carlos, que na época era distrito de Chapecó, distante a quarenta quilômetros, moradores que tinham que ir a Chapecó, só tinham um meio de locomoção possível: no lombo de burro, e ninguém se arriscava a ir sozinho. Combinavam-se para ir em grupos, e todos armados de revólver para eventual auto-defesa diante de assaltantes.

            No trajeto entre São Carlos e Chapecó, morava o bandidão famoso, chamado Augusto Schaeffer, que espalhava terror até Campo Erê. Homem baixo, troncudo, sempre usava uma espécie de ponche para disfarçar o colete à prova de bala que usava por baixo, e nunca foi visto sem dois revólveres na cintura. Quando se deslocava de São Carlos a Campo Erê, andava rodeado por alguns capangas e ainda, um rifle pendurado nos ombros.

            Na sua casa, perto de São Carlos, os que por ali passavam, comentavam a respeito de diversas mulheres andando de lá para cá, mas, ninguém conseguiu saber se eram familiares ou amantes do Augusto. No entanto, o que se via, era pelo menos uma dúzia de crianças. Na área de terra invadida por ele, além do rancho, via-se uma pequena área de pasto, com diversas mulas e cavalos e uns roçados de capoeira, onde o gruo de capangas plantava milho para o trato dos animais. O resto dos meios de manutenção, provavelmente, provinha dos roubos.

            Quanto mais o Augusto roubava e matava, mais aumentavam as histórias sobre suas façanhas e o pavor de ter que defrontar-se com ele. Naqueles tempos, ainda não se pensava em roubo de banco ou de empresas, mas, os roubos mais comentados a respeito do Augusto, sempre envolviam apropriações de mulas e de cavalos. Tinha, sem dúvidas, as melhores e mais bonitas mulas da região. Bem tratadas para longas andanças, caso encontrasse alguma outra mula bonita e grandona, simplesmente a levava junto.

            Como o conhecido bandidão morava na beira da estrada, entre São Carlos e Chapecó, o medo dos que se deslocavam a Chapecó, era o de serem assaltados e roubados. Muitos, ao passarem ao lado da sua casa, o viam fazendo treino de tiro. Os capangas alinhavam uma porção de caixinhas pequenas de fósforo e ele espatifava uma após outra, com tiros certeiros. Na verdade, era um cangaceiro temido e sem medo. O local da sua moradia era de terra escriturada e com dono, mas ninguém se arriscava confrontar-se com ele, nem os poucos soldados estabelecidos em São Carlos.

            Augusto deslocava-se seguidamente de São Carlos a Campo Erê e neste trajeto existia uma estrada bem precária e uma imensa floresta de mato nativo. Especialmente, na região do atual município de Saltinho, ocorriam muitas mortes nas disputas entre bandidos. Seu Augusto, entrava na casa de pobres agricultores, recolhia milho para seus burros e os moradores, e estes, temendo serem mortos, até fugiam ou se escondiam para não se confrontar com ele. Assim como tirava milho, pegava cavalos e burros e abatia bovinos.

De fato, não era possível que alguém com uma espingarda “espera um pouco” quisesse enfrentar o Augusto, bem armado, protegido e ainda acompanhado de capangas, ostensivamente armados.

Numa primeira tentativa da polícia de Chapeco que veio para prender ou matar o bandidão Augusto, na aproximação do seu rancho, viram que ele vinha ao seu encontro, montado numa mula, e trazendo mais duas mulas amarradas nos arreios. Sob a ordem de prisão, ele começou a trocar tiros e saltou pelo lado esquerdo da mula e sumiu no mato, sem que os policiais o encontrassem.

            Durante décadas, o bandidão reinava solto e a seu bel-prazer, entre Chapecó e Campo Erê. Entre medo, pavor e pressão, a polícia militar de Chapecó, um dia, se equipou com o melhor que possuía, e enfrentou o Augusto na estrada, andando com seus capangas perto do rio Chapecó. No intenso tiroteio com Augusto e seus capangas de cangaço, a polícia levou vantagem, pois, um dos soldados acertou tiros que atingiram diversas partes do corpo de Augusto. Mesmo com colete à prova de balas, ficou incapaz para resistir e acabou sendo dominado. Os policiais resolveram tentar recurso médico em São Carlos, e, leva-lo ao incipiente hospital daquele distrito tiveram que atravessar o rio Chapecó numa canoa. No percurso da travessia do rio, com o Augusto gravemente ferido, aparentemente moribundo, ele ainda tentou uma última reação, mas, que acabou como proeza derradeira: numa certa altura da travessia, conseguiu fazer um jogo na canoa e ela virou, jogando todos na água. Ele ficou por baixo da canoa e acabou morrendo afogado. Os soldados, bem treinados, conseguiram nadar até a margem.

            Assim, o longo reinado do cangaceiro do Oeste terminou, e permitiu que aumentasse a segurança da população.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

<center>GUERRA E SUPOSIÇÃO DE PAZ</center>

    Como na antiga educação espartana, Motivação de guerra a todos irmana, Desde narrativas sobre chefes fortes, A treino para os mi...