Na história dos primeiros tempos de
Cunhataí não existiam farmácias com aqueles milhares de tipos de medicação.
Praticamente toda enfermidade era tratada com medicação caseira. Não faltavam
conhecedores de plantas para indicar mais remédio do que era necessário para
algum sintoma de dor ou de enfermidade.
Enquanto as indicações permaneciam nos
chás, tudo ia bem, pois, se eram muito amargos, acrescentava-se açúcar até que
ficassem bem tragáveis.
Naqueles idos tempos, o que também não
faltava nas casas, era multiplicação de pulgas, bichos de pé e piolhos, pois, cachorros,
gatos e galinhas, tornavam-se hospedeiros, dos melhores, para estes minúsculos
animais. Sua passagem para os humanos era facilitada devido à proximidade com
estes animais domésticos.
Nas histórias dos que retornavam do
serviço militar dos quartéis, comentava-se muito a respeito das infestações de
percevejos e uma série de outros animaizinhos difíceis de serem eliminados,
como sarna, mas, que sequer eram conhecidos na região de Cunhataí.
Ao lado das lidas para não sentir
aumento da minúscula bicharada nos cabelos e outras partes do corpo, existia um
outro pavor: ter que eliminar os helmínteos, - para os ricos, - e, para os
pobres, os temidos vermes.
Pelo fato de crianças brincarem com
gatos, cachorros e ficarem sujos de terra o dia inteiro, adaptavam seu
organismo para apropriar-se de grande variedade de anticorpos, mas, também ficavam
barrigudas a cada pouco de tempo, por excesso de vermes e parasitas intestinais
que roubavam os nutrientes do seu organismo.
Muito diferente dos dias atuais, os
tratamentos para combater verminoses, ainda não contavam com múltiplos tipos de
comprimidos, fáceis de serem ingeridos e totalmente suaves nos efeitos.
Quando uma criança apresentava feição
pálida, os pais já falavam que se tratava de vermes. Mesmo que elas
respondessem que não eram vermes, pois, temiam tomar o remédio, único e
largamente usado para tal combate, que era o temido óleo de rícino.
Não existiam crianças que não achassem
ruim tomar óleo de rícino, mas, a cada pouco tempo, não tinham jeito de se
livrar da obrigatória ingestão deste óleo tóxico. Feito a partir do óleo de
mamona, era conhecido como limpador de estômago e de tripas. Os gozadores
comentavam que era bom tomar, de vez em quando, uma boa dose de óleo de rícino,
pois, não deixava qualquer resquício de algum fiapo preso nos intestinos. Como
era altamente tóxico, este óleo fazia as crianças despachar até a mucosa
intestinal.
Certamente não se encontrava criança
que gostasse de ingerir este óleo. O normal, eram dias de birra e resistência,
mas, quando ia ao limite, os pais seguravam a criança, alguém deles apertava o
nariz da criança e a outra pessoa, - ou
o pai, ou a mãe, - metia um frasco de óleo goela abaixo. Isso dava um mal-estar
enorme e, sem demora, uma disenteria, sem freios no caminho da evacuação.
Muitas crianças começavam a vomitar imediatamente após a ingestão do
aterrorizante óleo de rícino.
Para os mais sortudos, sobravam dois a
três dias de diarreia bem desandada, que os obrigava a reservar-se um canto
atrás das bananeiras ou no mandiocal, pois, a chamada “capunga”, ficava
exclusiva para uma única pessoa. As reações peristálticas vinham rápidas e
sequer deixavam tempo para procurar bom lugar de evacuação. Para não acontecer
alguma desandada indesejada pelas pernas, ajeitavam-se na proximidade do local
escolhido para evacuação.
Nas chamadas de presença na escola,
era quase cotidiana a resposta de alguém que informava a ausência de irmão,
irmã, ou de colega vizinho, de que estava em casa, com muita diarreia por causa
do remédio contra verme.
Nas conversas dos intervalos, o
assunto “óleo de rícino” ocupava muita narrativa sobre o terror deste líquido
temido e desprezado. No entanto, devido a múltiplos fatores de pouca higiene, e,
acima de tudo, de água infestada de coliformes e sujeiras, porque os poços, - geralmente
rasos, - serviam tanto para tirar água para beber, quanto para tirar água com
latões sujos a fim de tratar água aos porcos e outros animais. Normalmente
localizados a céu aberto, onde facilmente entrava água que escorria pelo solo,
tais poços constituíam fontes especiais para muitos tipos de vermes assegurar
sua posteridade.
Constituía, também, praxe normal tomar
água em córregos, quer na beira de estradas, ou nos matos, e como ali, outros
animais silvestres e domésticos também bebiam água, era muito fácil absorver
parasitas intestinais, como ameba, entanoeba e tantos outros.
Não poucas crianças, quando não lhes
ocorria uma disenteria difícil e dolorosa com a ingestão do óleo de rícino, precisavam
ser levadas ao médico devido à obstrução intestinal com a morte dos vermes,
espalhados em grande quantidade no interior dos intestinos.
Nos dias atuais, o temido óleo de
rícino das amargas recordações, é largamente usado como cosmético e até para
uso tópico com vistas a eliminar dores articulares ou de músculos. Como uso
externo ao corpo, o dito óleo, não gera mais temores e nem horripilantes
terrores.
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