quarta-feira, 4 de junho de 2025

O DIABO NO CONVENTO DE FREIRAS

 


            Em meados do século passado, em São Carlos, SC, surgiu uma notícia alarmante que se prestou para incontáveis interpretações. O foco das informações veio do lugar mais insuspeito e inesperado: do convento das Irmãs Religiosas. Quatorze jovens estavam ali, estudando e sendo formadas a fim de serem futuras freiras. Naqueles tempos, muitas moças, em torno de dezoito a vinte anos resolviam ser freiras. A figura de uma irmã religiosa desfrutava de elevado status na sociedade, e elas, pelo cultivo da vida cristã, eram agradáveis, simpáticas e benquistas.

            Neste convento, bem edificado e próprio para morada segura para irmãs religiosas e as candidatas a serem freiras, a comunidade colaborou efetivamente com muitas doações e festas para aquela construção. Tratava-se de um orgulho ter irmãs religiosas em São Carlos, a fim de atuarem na escola e no hospital. O prédio de dois pisos, era amplo, confortável e seguro.

            As candidatas a freira dormiam na parte superior, num dormitório espaçoso e, pela lógica normal, não tinha como alguém de fora poder entrar naquele espaço. Mesmo assim, num domingo de noite, quando todas já estavam deitadas, foi ligada a luz e apareceu o diabo. Feio, todo de preto, com uma feição terrível e ameaçadora. Foi aquela gritaria desesperada das jovens correndo de um lado para outro e, de repente, uma delas conseguiu abrir a fechadura da porta, e todas correram para o primeiro pavimento. Nenhuma se arriscou a voltar ao dormitório. Passaram a noite, apavoradas e trancadas, na sala de aula.

            No clarear do dia, perceberam que faltava uma das colegas e já ficaram invocadas com a hipótese de que o diabo a levou junto consigo para o inferno. No outro dia, encontraram esta colega em outra sala e ainda ficou alegando que trancaram a porta, antes que ela chegasse a entrar.  O pânico tomou conta de todas as moças e algumas, já naquele dia, juntaram suas tralhas e sumiram do convento.

            Entre opiniões de autoridades policiais, as do pároco, e de muitos amigos das religiosas, ponderou-se sobre tudo quanto era possível nas fartas imaginações. Foi encaminhado uma vistoria em todos os espaços do convento e foram instaladas algumas trancas para maior segurança nas aberturas.

 Na mesma semana, eis que o diabo apareceu novamente naquele dormitório entre as poucas candidatas a freira que ainda estavam no convento. O mesmo pânico, o mesmo desespero, a mesma gritaria e a mesma debandada escada abaixo. Uma delas, no entanto, percebeu que a mesma colega, que ficou para trás na outra vinda do diabo, estava calma e pouco alterada. Desconfiou da coragem da colega Marciana.

            Já no outro dia a conversa sobre a nova aparição do diabo, se espalhou rapidamente pelo município. Vinha gente para ver, muitos duvidando, literalmente, que pudesse o chifrudo ter aparecido ali. Antes mesmo que o assunto da conversa geral sobre o diabo se amainasse, as freiras conseguiram desvendar parte do misterioso aparecimento do diabo, naquele ambiente, meigo, puro e supostamente santo. Com evidentes suspeitas sobre a participação de Marciana no episódio, conseguiram um esclarecimento: ela abria uma janela, amarrava dois lençóis e os deixava pendurados rente à parede, na parte dos fundos do dormitório, onde tinha um belo arvoredo de frutíferas.

As Irmãs chegaram a ter certeza de que se tratou dum conluio entre a Marciana e algum homem, que se vestia com a máscara, subia, com a ajuda dos lençóis até o dormitório, entrava pela janela e apavorava as meninas. No entanto, quem seria este homem?

Passaram-se meses e anos e nenhuma evidência foi confirmada sobre a entrada de alguém mascarado para assustar as meninas. Enquanto nada se delineava, todas as meninas desistiram do convento. A falação relativa ao diabo foi esmorecendo e, com o passar das décadas, o assunto ficou esquecido. As freiras foram embora de São Carlos, e ficou aquele sentimento de perda, porque elas eram estimadas e muito prestativas, sobretudo para a boa formação das crianças.

Quando pouca gente ainda lembrava o caso, da forma mais inesperada possível, pedreiros, contratados pelo ex-prefeito da cidade, daquela época, - para reforma no telhado, - ao começaram a tirar as telhas, encontraram, ali no sótão, a máscara daquele conhecido e apavorante capeta. Finalmente, elucidou-se o caso: o diabo que entrava no dormitório era o prefeito da cidade de São Carlos, e a Marciana, jovem aparentemente propensa a ser freira e que facilitou a sua entrada no convento, era uma de suas amantes. Enquanto as demais jovens nem dormiam de pavor, a Marciana aproveitava o dormitório para intimidades com o prefeito.

 

 

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