Em meados do
século passado, em São Carlos, SC, surgiu uma notícia alarmante que se prestou
para incontáveis interpretações. O foco das informações veio do lugar mais
insuspeito e inesperado: do convento das Irmãs Religiosas. Quatorze jovens
estavam ali, estudando e sendo formadas a fim de serem futuras freiras.
Naqueles tempos, muitas moças, em torno de dezoito a vinte anos resolviam ser
freiras. A figura de uma irmã religiosa desfrutava de elevado status na
sociedade, e elas, pelo cultivo da vida cristã, eram agradáveis, simpáticas e
benquistas.
Neste
convento, bem edificado e próprio para morada segura para irmãs religiosas e as
candidatas a serem freiras, a comunidade colaborou efetivamente com muitas doações
e festas para aquela construção. Tratava-se de um orgulho ter irmãs religiosas
em São Carlos, a fim de atuarem na escola e no hospital. O prédio de dois
pisos, era amplo, confortável e seguro.
As
candidatas a freira dormiam na parte superior, num dormitório espaçoso e, pela
lógica normal, não tinha como alguém de fora poder entrar naquele espaço. Mesmo
assim, num domingo de noite, quando todas já estavam deitadas, foi ligada a luz
e apareceu o diabo. Feio, todo de preto, com uma feição terrível e ameaçadora.
Foi aquela gritaria desesperada das jovens correndo de um lado para outro e, de
repente, uma delas conseguiu abrir a fechadura da porta, e todas correram para
o primeiro pavimento. Nenhuma se arriscou a voltar ao dormitório. Passaram a
noite, apavoradas e trancadas, na sala de aula.
No clarear
do dia, perceberam que faltava uma das colegas e já ficaram invocadas com a
hipótese de que o diabo a levou junto consigo para o inferno. No outro dia,
encontraram esta colega em outra sala e ainda ficou alegando que trancaram a
porta, antes que ela chegasse a entrar.
O pânico tomou conta de todas as moças e algumas, já naquele dia,
juntaram suas tralhas e sumiram do convento.
Entre
opiniões de autoridades policiais, as do pároco, e de muitos amigos das religiosas,
ponderou-se sobre tudo quanto era possível nas fartas imaginações. Foi
encaminhado uma vistoria em todos os espaços do convento e foram instaladas
algumas trancas para maior segurança nas aberturas.
Na mesma semana, eis que o diabo apareceu
novamente naquele dormitório entre as poucas candidatas a freira que ainda
estavam no convento. O mesmo pânico, o mesmo desespero, a mesma gritaria e a
mesma debandada escada abaixo. Uma delas, no entanto, percebeu que a mesma
colega, que ficou para trás na outra vinda do diabo, estava calma e pouco
alterada. Desconfiou da coragem da colega Marciana.
Já no outro
dia a conversa sobre a nova aparição do diabo, se espalhou rapidamente pelo
município. Vinha gente para ver, muitos duvidando, literalmente, que pudesse o
chifrudo ter aparecido ali. Antes mesmo que o assunto da conversa geral sobre o
diabo se amainasse, as freiras conseguiram desvendar parte do misterioso
aparecimento do diabo, naquele ambiente, meigo, puro e supostamente santo. Com
evidentes suspeitas sobre a participação de Marciana no episódio, conseguiram
um esclarecimento: ela abria uma janela, amarrava dois lençóis e os deixava
pendurados rente à parede, na parte dos fundos do dormitório, onde tinha um
belo arvoredo de frutíferas.
As Irmãs chegaram a ter certeza de
que se tratou dum conluio entre a Marciana e algum homem, que se vestia com a
máscara, subia, com a ajuda dos lençóis até o dormitório, entrava pela janela e
apavorava as meninas. No entanto, quem seria este homem?
Passaram-se meses e anos e nenhuma
evidência foi confirmada sobre a entrada de alguém mascarado para assustar as
meninas. Enquanto nada se delineava, todas as meninas desistiram do convento. A
falação relativa ao diabo foi esmorecendo e, com o passar das décadas, o
assunto ficou esquecido. As freiras foram embora de São Carlos, e ficou aquele
sentimento de perda, porque elas eram estimadas e muito prestativas, sobretudo
para a boa formação das crianças.
Quando pouca gente ainda lembrava o
caso, da forma mais inesperada possível, pedreiros, contratados pelo
ex-prefeito da cidade, daquela época, - para reforma no telhado, - ao começaram
a tirar as telhas, encontraram, ali no sótão, a máscara daquele conhecido e
apavorante capeta. Finalmente, elucidou-se o caso: o diabo que entrava no
dormitório era o prefeito da cidade de São Carlos, e a Marciana, jovem
aparentemente propensa a ser freira e que facilitou a sua entrada no convento,
era uma de suas amantes. Enquanto as demais jovens nem dormiam de pavor, a
Marciana aproveitava o dormitório para intimidades com o prefeito.
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