Nos
primórdios de Cunhataí, as poucas famílias que ali residiam, seguiam um costume
bem rígido no culto religioso, pois, todos frequentavam todas as celebrações e
eram legalistas na observância das regras ético-morais e autoritárias,
extremamente rigorosas, pelo menos no que concernia às aparências e
exterioridades.
A família do
seu Caetano Barroso, uma das primeiras a se estabelecer em Cunhataí, contava
com três moças adultas, bonitas e bem apresentáveis, além de perto de uma dúzia
de crianças menores. Neste lugar, onde se comprava apenas sal, café e erva,
tudo o mais era produzido na lavoura e também se plantava de tudo quanto
poderia produzir alimentos. Era comum, sobretudo, na entrada de inverno cortar
muita cana para fazer melado, a fim de abastecer o consumo de melado para o ano
inteiro. Fazia-se muita rapadura, muito pé de moleque e o conhecido “puxa-puxa”
que, cortado em pequenos pedaços, constituía o cardápio das balas da época.
Era normal
que alguém entrasse no canavial para escolher canas bonitas e de longos gomos
para masca-los e deglutir o caldo destas canas. Dizia-se que era o melhor creme
dental, pois deixava os dentes limpos e brilhantes. Tratava-se de rotina ver
gente entrando e saindo de canaviais. Até mesmo para necessidades fisiológicas
não previstas, os canaviais eram tidos como bom recurso.
A filha mais velha do seu Caetano, a
Sulmira, era uma dessas pessoas que ia muito ao canavial. Um dia alguém
reparou, que ela entrou no canavial e demorou mais de hora para sair de lá. Com
a desconfiança atiçada, comentou o caso com seus dois colegas e estes ajudaram
na espionagem do que acontecia no entorno do canavial, nos domingos, depois do
almoço.
Sem demora, perceberam que o vizinho,
e muito amigo do Caetano, também andava pela roça nos domingos de tarde, quando
outros iam passear nas casas. De repente, viram ele entrar no mesmo canavial
onde Sulmira costumava entrar, e o trio já pensou numa malandragem: no domingo
seguinte, se observassem os dois entrar no canavial, iriam dar-lhes um trote. Ajeitaram
tochas para meter fogo naquele canavial, rapidamente, e, de acordo com projeto
bem delineado: os três rapazes definiram qual lado cada um iria incendiar e
deixaram o quarto lado apenas parcialmente aberto sem fogo. Com ventos
favoráveis, o fogo se espalhou numa rapidez impressionante e soltou estalos que
parecia um grande foguetório de festa. Depois de alguns minutos, puderam,
enfim, assistir um filminho de pornografia, ao olhar a corrida dos dois, para
fora do canavial, pelados como Adão e Eva.
Aos gritos dos três incendiários,
muitos outros vizinhos puderam ver, de longe, o cenário da nudez de Suzana e do
vizinho, homem casado com meia dúzia de filhos. Os desnudos correram uns trinta
metros e se adentraram num mandiocal. Para não serem muito sádicos com eles, os
estragadores da hora do amor, deixaram-nos em paz naquele mandiocal, do qual
não saíram antes do escurecer.
O evento se constituiu numa
similaridade ao de furo de reportagem que permitiu comentários e gozações, de
todo tipo, sobre o fato que quebrou os rotineiros temas das conversações em
Cunhataí, durante algumas semanas. Só não sugiram outras novidades sobre eventuais
movimentações da dupla flagrada no himineu do amor, porque as duas famílias se
mudaram rapidamente de Cunhataí, sem deixar informação de paradeiro.
Possivelmente ocorreram muitos conflitos e tensões nas casas dos envolvidos no
amor da cana-de açúcar.
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