sexta-feira, 6 de junho de 2025

A MOÇA QUE GOSTAVA DO CANAVIAL

 

 

            Nos primórdios de Cunhataí, as poucas famílias que ali residiam, seguiam um costume bem rígido no culto religioso, pois, todos frequentavam todas as celebrações e eram legalistas na observância das regras ético-morais e autoritárias, extremamente rigorosas, pelo menos no que concernia às aparências e exterioridades.

            A família do seu Caetano Barroso, uma das primeiras a se estabelecer em Cunhataí, contava com três moças adultas, bonitas e bem apresentáveis, além de perto de uma dúzia de crianças menores. Neste lugar, onde se comprava apenas sal, café e erva, tudo o mais era produzido na lavoura e também se plantava de tudo quanto poderia produzir alimentos. Era comum, sobretudo, na entrada de inverno cortar muita cana para fazer melado, a fim de abastecer o consumo de melado para o ano inteiro. Fazia-se muita rapadura, muito pé de moleque e o conhecido “puxa-puxa” que, cortado em pequenos pedaços, constituía o cardápio das balas da época.

            Era normal que alguém entrasse no canavial para escolher canas bonitas e de longos gomos para masca-los e deglutir o caldo destas canas. Dizia-se que era o melhor creme dental, pois deixava os dentes limpos e brilhantes. Tratava-se de rotina ver gente entrando e saindo de canaviais. Até mesmo para necessidades fisiológicas não previstas, os canaviais eram tidos como bom recurso.

A filha mais velha do seu Caetano, a Sulmira, era uma dessas pessoas que ia muito ao canavial. Um dia alguém reparou, que ela entrou no canavial e demorou mais de hora para sair de lá. Com a desconfiança atiçada, comentou o caso com seus dois colegas e estes ajudaram na espionagem do que acontecia no entorno do canavial, nos domingos, depois do almoço.

Sem demora, perceberam que o vizinho, e muito amigo do Caetano, também andava pela roça nos domingos de tarde, quando outros iam passear nas casas. De repente, viram ele entrar no mesmo canavial onde Sulmira costumava entrar, e o trio já pensou numa malandragem: no domingo seguinte, se observassem os dois entrar no canavial, iriam dar-lhes um trote. Ajeitaram tochas para meter fogo naquele canavial, rapidamente, e, de acordo com projeto bem delineado: os três rapazes definiram qual lado cada um iria incendiar e deixaram o quarto lado apenas parcialmente aberto sem fogo. Com ventos favoráveis, o fogo se espalhou numa rapidez impressionante e soltou estalos que parecia um grande foguetório de festa. Depois de alguns minutos, puderam, enfim, assistir um filminho de pornografia, ao olhar a corrida dos dois, para fora do canavial, pelados como Adão e Eva.

Aos gritos dos três incendiários, muitos outros vizinhos puderam ver, de longe, o cenário da nudez de Suzana e do vizinho, homem casado com meia dúzia de filhos. Os desnudos correram uns trinta metros e se adentraram num mandiocal. Para não serem muito sádicos com eles, os estragadores da hora do amor, deixaram-nos em paz naquele mandiocal, do qual não saíram antes do escurecer.

O evento se constituiu numa similaridade ao de furo de reportagem que permitiu comentários e gozações, de todo tipo, sobre o fato que quebrou os rotineiros temas das conversações em Cunhataí, durante algumas semanas. Só não sugiram outras novidades sobre eventuais movimentações da dupla flagrada no himineu do amor, porque as duas famílias se mudaram rapidamente de Cunhataí, sem deixar informação de paradeiro. Possivelmente ocorreram muitos conflitos e tensões nas casas dos envolvidos no amor da cana-de açúcar.

 

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