terça-feira, 31 de dezembro de 2024

O VOVÔ DORMINHOCO

 

 

            Ainda não muito avançado na idade, vovô Artur, resolveu parar com trabalho ao se aposentar. Era um daqueles que projetou a aposentadoria como tempo para não fazer mais nada. Levantava tarde, e quando não ocorria insistência explicita para trocar o pijama por outra roupa, passava o dia inteiro de pijama e achava bom.

Virou homem do sofá e da cadeira de balanço. Como era diabético e, como funcionário aposentado do Banco do Brasil, sempre teve vida estressante, resolveu virar um caseiro mórbido. Além de assistir TV, gostava de ler jornal, sentado comodamente na cadeira de balanço. Volta e meia pegava no sono, mas quando acordava, tinha um entretenimento especial: passar horas com o netinho Pedro.

Pedro era apaixonado pelo vô Artur. Na sintonia e simbiose de comunhão, o pequeno menino fazia acrobacias das mais estranhas no colo do vô. Tirava seus óculos, bagunçava seus cabelos e fazia de tudo para receber muita apreciação elogiosa. Certo dia, o velho adormeceu enquanto lia jornal, e o menino, curioso, mexerico, bagunçava a sala inteira. Sua mãe estava em outras lidas, pois, sabia que o vô cuidava muito bem do netinho.

No entanto, enquanto Artur cochilava, o nenê encheu a fralda e foi andando de um lada para outro. Talvez devido ao desconforto meteu a mão para dentro da fralda e a deixou suja de cocô. Queria ajuda do velho, mas o velho estava dormindo. Subiu no colo dele, mexeu e futricou para todo lado, e acabou passando a mão suja de cocô no bigode do velho.

Artur, quando se acordou, já não viu o nenê, - pois a mãe o levara para a devida limpeza, - sentiu um estranho cheiro de cocô. Desconfiou que deveria ter acontecido alguma incontinência e foi rápido para o banheiro. Baixou as calças e fez uma criteriosa observação, mas, constatou que estava tudo na melhor assepsia, uma vez que tinha tomado banho caprichado ao levantar. Voltou para a sala, e continuou a sentir o mesmo cheiro. Foi, então para a janela, abriu-a, e, de fora, vinha o mesmíssimo cheiro. Inquieto, foi para o outro lado da sala e abriu a porta. Saiu, e nada havia esvanecido aquele estranho odor de cocô. Foi mais uma vez numa segunda janela, e, o ar que ali inalava era ar todo fedido de cocô humano. Foi então para a cozinha e falou enfaticamente para sua esposa: mulher, deixa dizer-lhe uma coisa grave: Andaram fazendo cocô no mundo!

Um bigode de velho pode enganar as certeiras interpretações do olfato e desviar a hermenêutica interpretativa dos acontecimentos.

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